Rio Grande do Sul

Arte e Cultura

Projeto Nação Preta do Sul busca a valorização da cultura negra no estado

Primeira etapa do projeto começa no dia 1 de fevereiro em Jaguarão e Rio Grande, e segue até o dia 4; Confira o roteiro

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A jornalista Gabriela Barenho é a produtora executiva do projeto e do canal TV Nação Preta - Foto: Fernando Ramos

Entre os dias 1º e 4 de fevereiro, o projeto Nação Preta do Sul – pela valorização da cultura negra no estado, contemplado no Edital Sedac nº 09/2020 – Produções Culturais e Artísticas (Lei Aldir Blanc), estará na Costa Doce para realizar a primeira etapa de eventos e gravações.

A equipe vai passar por Jaguarão, Rio Grande, Praia do Cassino, Pelotas, Santa Vitória do Palmar e Canguçu, dando início à produção da série documental que irá retratar as diferentes formas de presença da cultura negra no território do Rio Grande do Sul (confira o roteiro no final da matéria).

Em maio, os sete episódios estarão disponíveis no canal da TV Nação Preta no YouTube. O conteúdo captado também será matéria-prima de um documentário longa-metragem, para ser utilizado pelo Estado e apresentado em festivais.

A circulação pela Zona Sul do Estado prevê a realização e o registro de entrevistas e apresentações artísticas, além da promoção de encontros e debates, buscando a valorização e o resgate da cultura de cada local. A participação de especialistas no tratamento da pauta, como historiadores e sociólogos, garante o compartilhamento de informações qualificadas e a geração de conhecimento.

Gabriela Barenho, produtora executiva do projeto e do canal TV Nação Preta, elenca algumas das questões a serem abordadas: “Como a cultura resiste? Como os agentes culturais negros enfrentam as diferenças? Qual o seu espaço na sociedade? Que legados estendem ao povo gaúcho?”, questiona a produtora.

Também serão utilizados materiais de arquivo e imagens captadas em locais históricos, com o objetivo de ressaltar a importância das entidades, agentes e ações. Em paralelo, as Redes Sociais (Facebook e Instagram) da TV Nação Preta estarão sendo constantemente abastecidas, e o público terá a oportunidade de fazer comentários, tirar dúvidas e dar sugestões. 

É importante ressaltar que as programações presenciais respeitarão todas as normas sanitárias vigentes, referentes à restrição de convidados, plateia e ao distanciamento controlado.

Gabriela Barenho entende que, por muito tempo, a historiografia oficial relativizou a presença do povo negro e até mesmo o processo de escravidão no Rio Grande do Sul. “Nosso projeto vai ajudar a reconstruir essa relação. Queremos chamar a atenção para a existência e para as influências da cultura negra no estado, além de propagar esta valiosa contribuição para todo o Brasil!”.

Segundo a produtora executiva, a série documental vai utilizar uma linguagem moderna e um formato dinâmico para a apresentação dessas pautas, unindo arte, cultura, debate e informação. “O negro gaúcho vai se ver, se ouvir e se reconhecer. Na música e na dança, com os tambores e o samba-rock; na cultura tradicionalista, no carnaval, nos pontos de cultura como o Sopapo Poético; na resistência dos clubes negros, na culinária, na língua e nos quilombos de resistência.” Nos próximos meses, o projeto circula por Porto Alegre, Litoral Norte e Vale do Rio Pardo.

Herança de luta

As raízes do projeto Nação Preta do Sul tem origem numa bonita história de família. Foi em 2012 que a jornalista Vera Cardozo (1955-2019), mãe da produtora Gabriela Barenho, criou o Programa Nação (TVE/RS). O documentário semanal foi pioneiro no país, ao abordar a negritude como tema central. A partir de 2014, o Nação passou a ser exibido pela TV Brasil e pelo canal internacional da EBC. Em 2015, ganhou o Prêmio Vladimir Herzog (Categoria Documentário) pelo especial “A Revolta da Chibata”, contando a história de João Cândido, o Almirante Negro.

Em 2017, com o desmonte da comunicação pública, o programa acabou saindo do ar. Para dar continuidade ao projeto, o canal TV Nação Preta foi lançado no YouTube, como forma de resistência no campo do jornalismo alternativo. Dedicado ao registro, divulgação e valorização da história e da cultura afro-brasileira, tem o objetivo de dar visibilidade e representatividade ao povo negro.

Com ampla e diversificada produção de conteúdo, grande engajamento da comunidade e forte conexão com outros coletivos, o trabalho vem sendo reconhecido como um exemplo de sucesso na inclusão do negro no jornalismo e no entretenimento. Em 2019, Gabriela Barenho assume a produção executiva do canal, e dá sequência ao trabalho e à luta da mãe – herança que é a principal inspiração do projeto Nação Preta do Sul.

Roteiro

01/02:

Manhã – em Jaguarão, visita ao Clube 24 de Agosto. Fundado em 1918, fortaleceu a autoestima e as identidades negras da população jaguarense. Hoje, após muitas disputas judiciais, seu prédio é considerado um Patrimônio Cultural do Estado do Rio Grande do Sul;

Tarde – em Rio Grande, captação de imagens em lugares históricos, como o porto onde ocorreu a chegada dos negros e os quilombos urbanos;

Noite – na Praia do Cassino, cobertura da homenagem para Iemanjá (evento virtual).

02/02:

Manhã – em Pelotas, visita à sede do projeto Tamborada, com Kako Xavier;

Tarde – em Pelotas, visita ao projeto Coletivo In Rua, trabalho de jovens periféricos que mistura hip-hop e informação, e gravação na Praça Pedro Osório;

Noite – em Pelotas, gravação nas Charqueadas Dança dos Orixás, da Companhia de Dança Afro Daniel Amaro.

03/02:

Manhã – em Santa Vitória do Palmar, entrevista com representantes do Movimento Negro e com o historiador Fabio Terra;

Tarde – em Santa Vitória do Palmar, visita ao CTG Tropeiros dos Campos Neutrais. Após, captação de imagens em lugares históricos.

04/02:

Manhã – em Canguçu, visita às comunidades quilombolas.


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Edição: Katia Marko