Rio Grande do Sul

Soberania Energética

Petroleiros fazem ação de solidariedade em Esteio, em luta pela soberania energética

Presidente do SindipetroRS, Fernando Maia, explica objetivo da ação e os riscos da venda da Refinaria Alberto Pasqualini

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Categoria petroleira subsidiou 100 botijões de gás para conscientizar a população sobre os preços praticados pelo mercado e sobre os riscos de venda da Refap - Foto: Sindipetro - RS

O SindipetroRS realizou mais uma ação de solidariedade da campanha "Gás a preço a Justo", nesta segunda-feira (1). Foram vendidos 100 botijões de gás de cozinha de 13kg, pela metade do preço, no valor de R$ 35.

No mesmo dia, na parte da manhã, ocorreu um ato político em frente à Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), devido ao anúncio da venda da Refap, em Canoas, e seus terminais e oleodutos.

Segundo o Sindipetro, dezenas de moradores de Esteio estiveram em fila, mantendo o distanciamento social e fazendo o uso da máscara facial, para garantir a compra de gás de cozinha a um preço mais justo ao que está sendo praticado hoje no mercado.

Fernando Maia, presidente do SindipetroRS, informa que os 100 botijões foram subsidiados a partir de doações da categoria petroleira, cobrindo praticamente 50% do valor dos botijões.

"Aproveitamos, dentro das limitações da pandemia fazer os esclarecimentos. Pela impressão que tivemos, a população compreendeu o nosso empenho, além de ter conseguido comprar o gás de cozinha a um preço menor, que em tempos de desemprego e dificuldades, ajuda bastante no orçamento familiar."

Valores pagos atualmente pelo gás poderia ser bem menor

Conforme Maia, o objetivo é mostrar à população que atualmente pagamos valores bem acima dos possíveis, por conta de uma prática de preços que privilegia a entrada de produtos do mercado internacional, em detrimento dos produzidos aqui no país.

"Desde o golpe de 2016, quando mudaram o presidente da Petrobrás, e por determinação da Presidência da República, passaram a adotar o PPI (Preço de Paridade Internacional), significa que na saída da refinaria se cobra um mesmo valor do derivado que o produto comprado em qualquer lugar do mundo, entregue na porta da distribuidora", afirma.

Ele ressalta ainda que a população precisa saber que, a Petrobrás, pública e integrada (do poço ao posto/distribuição), com foco social, pode praticar preços mais baixos do que uma empresa privada, que não explora petróleo e não refina, no Brasil. É justamente a preocupação que se avizinha com a venda da Refap para uma empresa privada.

Nas palavras do petroleiro, a empresa que comprar a Refap vai recuperar o valor da sua compra nas constas do consumidor. "Não sendo produtora de petróleo no Brasil, cobrará muito mais caro os seus derivados, do que a Petrobrás."

Importância do RS manter a Refap

Com o anúncio da decisão do governo federal em vender a Refinaria Alberto Pasqualini, diversas preocupações passaram a rondar a vida dos gaúchos. Segundo Maia, são muitos fatores importantes que estão em jogo, havendo muitos prejuízos possíveis para o futuro da população gaúcha e catarinense.

O dirigente dos trabalhadores petroleiros preparou para nós uma lista de fatores que devem ser levados em consideração na questão da venda da Refap. Ele afirma que a decisão de fazer o esquartejamento da Petrobrás, vendendo aos pedaços, tem o objetivo de acabar com a maior empresa do Brasil, desestabilizando e destruindo completamente a capacidade de fornecimento de derivados a toda a população brasileira, privilegiando as regiões mais próximas dos centros urbanos.

"Infelizmente estamos vendo o país ser completamente destruído, por uma política de atendimento aos interesses de forças multinacionais e de políticos descomprometidos com o Brasil", afirmou o dirigente.

Confira os principais motivos que fazem a Refap ser importante para o RS

- O estado e os municípios por onde escoa o petróleo nacional que a Refap processa, deixarão de receber a renda do petroléo (royalties). Caso não seja processado aqui, é muito possível que sejam comprados petróleos mais baratos, no mercado internacional, principalmente africanos e do Oriente Médio, que não gerarão valores em royalties para estados e municípios;

- O ICMS, para o município de Canoas: a Petrobrás faz uma transferência interna. Por exemplo, quando o petróleo bruto do RJ vai para a Refap, a empresa não paga o ICMS no RJ, somente no RS, em Canoas, com isso o município arrecada valores maiores. Se a compradora da Refap comprar petróleo da Petrobrás, pagará uma parcela do ICMS lá no estado do RJ, fazendo somente uma compensação no RS, recolhendo bem menos do que recolhe atualmente;

- Geração de empregos e renda: a empresa que comprar a Refap precisará recuperar os valores investidos, e existem duas formas de fazer isso, que é aumentando os preços dos produtos ou reduzir os gastos, então é muito provável que seja reduzida ainda mais a quantidade de funcionários, bem como seja atacada a remuneração dos trabalhadores, afetando diretamente os municípios do entorno;

- Dificuldade das prefeituras em conseguir o fornecimento de asfalto: a Refap atualmente tem a possibilidade de manter a produção de derivados mais rentáveis. Com isso, certamente haverá desabastecimento, o que elevará substancialmente os valores do produto.

- A Petrobrás tem capacidade de investimento, o que garante a manutenção das condições de segurança da refinaria, mesmo assim cotidianamente temos problemas de manutenção na área de segurança industrial e ambiental, pois os custos e os impactos, no meio ambiente e no entorno da empresa, são muito altos. Uma empresa sem experiência na área e sem capacidade financeira para investir, será um caos.

- O ponto que entendemos pode ser de grande impacto, também, é a possibilidade de cartelização, afinal qualquer derivado de petróleo, para entrar no estado, tem dois pontos apenas, pelo terminal de Tramandaí/Osório e pelo Porto de Rio Grande, ambos são operados pela Petrobrás e, se vendida, a Refap com o terminal de Tramandaí/Osório, nenhuma outra distribuidora terá condições de comprar diesel/gasolina, senão dessa empresa. É inaceitável o órgão fiscalizador não ver a situação que está sendo criada. Atualmente a Petrobrás garante fornecimento para todas as distribuidoras, inclusive com os mesmos preços que fornece para a principal cliente, a BR Distribuidora.

- A suposta maior força de geração de divisas do país, o agronegócio, será amplamente afetado, tanto no aumento dos custos na produção, quanto no transporte das safras, por conta do óleo diesel.


:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::

SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS

Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.

Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.

Edição: Katia Marko