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Só a luta pela vacina pode “salvar” a economia

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"Nossa luta é por sobrevivência, contra a política da morte" - Créditos da foto: Reprodução/Internet
O Brasil tem estrutura para produzir e garantir a vacinação falta vontade política e investimento

Essa semana deu início aos trabalhos parlamentares na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Na primeira reunião plenária, na segunda-feira (1), aprovamos a criação de uma Comissão Especial de Estudos para monitorar as ações de enfrentamento da covid-19 na cidade e um pedido de informação, proposto por nós, da esquerda, sobre o plano completo de vacinação da prefeitura. Neste espaço, muito se falou sobre o tema da pandemia, a pressão pelo retorno das aulas presenciais e o debate abstrato sobre a tal da economia.

Algumas respostas aos problemas criados por uma pandemia mundial deveriam ser óbvias, mas, quando o presidente diz que “o país está quebrado, não consigo fazer nada”, há uma ruptura com o óbvio e tudo parece um pesadelo surreal. Estamos há praticamente um ano lutando por coisas óbvias, como defender as orientações da Organização Mundial de Saúde. Agora com mais de 220 mil mortes, precisamos levantar a bandeira da vacinação.

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Muito me estranha que a exigência de retorno às aulas presenciais, a abertura de mais leitos de UTI e o retorno irrestrito do comércio da cidade sejam a pauta do dia. Os problemas sociais causados, ou aprofundados, pela pandemia somente podem ser superados com investimento público em intensificar as medidas sanitárias e a vacinação gratuita, ampla e sem restrições. Fugir desse debate é secundarizar vidas, porque é cair na lógica do lucro.

E quando digo lucro, não me direciono aos pequenos comerciantes, donos de escolas de bairro ou feirantes. Estou falando daqueles que detêm o poder e a riqueza no Brasil e no mundo, os “acionistas”, o “mercado”, a “bolsa de valores”, os donos do capital financeiro, aqueles que não sabemos o nome, o rosto ou o endereço, mas que transformam nossas vidas em moeda de troca.

O governo Bolsonaro leva essa lógica ao extremo porque é genocida. O Brasil tem estrutura para produzir e garantir a vacinação. O que falta é, em primeiro lugar, vontade política e investimento. E não precisa ser socialista ou de esquerda para isso. Países influentes do sul global como Índia e África do Sul iniciaram o debate com a Organização Mundial de Comércio (OMC) sobre a quebra das patentes para garantir a produção e o acesso dos países pobres. Na terça-feira (2) mais de 200 entidades desses dois países se mobilizaram contra o Brasil pelo posicionamento contrário à quebra de patentes da vacina. A medida é defendida pela própria OMS.

Notícia de esperança é a eficácia de 91,6% da vacina russa Sputnik V

A rejeição à democratização de uma vacina que pode estancar a pandemia mundial é justificada pelos países ricos, que se beneficiam desta medida, por não resolver o problema de abastecimento de matérias-primas. Já o Brasil, a partir do Itamaraty, combate seu próprio povo sem nenhuma vantagem comercial.

O monopólio das vacinas custa vidas e é um crime contra a humanidade. Nosso país rejeita a própria história, nós lutamos internacionalmente contra o monopólio intelectual sobre o tratamento da AIDS duas décadas atrás. Bolsonaro escondeu sua posição mais aberta contra a quebra de patentes nos últimos dias para avançar nas negociações de compra das vacinas do governo indiano.

Governo Zema segue a cartilha nacional

Em Minas Gerais, o governo Zema segue a cartilha nacional. Não teve capacidade de garantir nem o licenciamento de fabricação acordado com as grandes farmacêuticas como foi feito em São Paulo e no Rio de Janeiro. E quando eu digo capacidade, foi realmente isso. Matéria do Estado de Minas revela que o acordo com a chinesa Sinopharm foi iniciado em junho, mas não avançou por iniciativa do próprio laboratório chinês pela falta de celeridade do executivo estadual.

A Funed (Fundação Ezequiel Dias), vinculada ao SUS, tem capacidade de fabricar as vacinas, mas falta investimento de um governador que nem sabia da existência da fundação na campanha eleitoral. (linkar matéria funed) Um parque tecnológico que é nosso patrimônio sucateado pelo próprio Estado. Zema ainda insiste que o problema do Brasil não é a capacidade de produzir as vacinas, mas a chegada dos insumos necessários. Mesmo argumento de potências como EUA e Japão que estão contra a quebra das patentes.

A Universidade Federal de Minas Gerais está avançando no desenvolvimento de duas vacinas brasileiras

A realidade é que a orientação política majoritária no país é profundamente alinhada com a defesa do lucro acima da vida. Uma hipocrisia total a defesa da abertura das escolas, do comércio, de leitos, sem enfrentar a raiz do problema. Usam o sofrimento das famílias, das mães, de trabalhadores e pequenos empreendedores que estão sem renda para justificar medidas que não vão salvar ninguém, mas aprofundar a crise sanitária, econômica e social que nos encontramos.

Apesar da política dos governos ultraliberais que tentam sucatear o SUS, a ciência, a pesquisa e a produção de tecnologia, nós resistimos. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está avançando no desenvolvimento de duas vacinas brasileiras que já estão na fase de testes em animais e tem resultados previstos para fevereiro. Falta, é claro, ajuda do Estado com investimento.

Outra notícia de esperança é a eficácia de 91,6% da vacina Sputnik V, de fabricação Russa. Seria mais uma possibilidade de expansão da oferta de vacinas pelo mundo.

Nossa luta é por sobrevivência, contra a política da morte. Essa é a unidade mínima que o Brasil precisa conseguir construir e só um projeto consequente com as bandeiras históricas do nosso povo pode liderar essa luta até as últimas consequências.

Iza Lourença é vereadora em BH pelo PSOL

Edição: Elis Almeida