Rio Grande do Sul

MÚSICA

Ave Cantadeira, o sonho de um disco que canta a luta e a esperança da vida no campo

Jovem de Venâncio Aires, Bruna Richter Eichler aposta em financiamento coletivo para gravar seu primeiro disco autoral

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Filha e neta de agricultores e músicos, Bruna prepara a gravação do seu primeiro álbum - Arquivo pessoal

É acreditando na música enquanto agente de transformação social que a jovem Bruna Richter Eichler, de 21 anos, se prepara para levantar voo e gravar seu primeiro álbum, o “Ave Cantadeira”. Natural de Venâncio Aires (RS), filha e neta de agricultores e músicos, ela cresceu com essas duas paixões e, como forma de viabilizar o sonho de gravar suas composições, decidiu apostar em sua trajetória marcada pela coletividade e lançou um financiamento coletivo.

Sua infância ao lado de pais agricultores que cantavam em bandas e eventos da comunidade e de um avô gaiteiro e outro trompetista se intensificou quando foi estudar na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (EFASC), onde se formou técnica agrícola. Lá, começou a ter contato com outros eventos culturais e a se interessar por trilhar também o caminho da música. “A escola tem um pé muito forte na agroecologia, presa muito por isso. Tem uma série de cantadores que conheci através da escola”, conta.

Um dos primeiros que conheceu foi Pedro Munhoz. “Uma das primeiras músicas que comecei a cantar foi a Canção de Terra, dele, que me chamava muito a atenção. Para mim é uma das canções mais bonitas que ele já fez e que existe. Comecei a olhar aqueles cantadores e pensar que queria ser assim também, que um dia eu queria trazer a minha luta, o que eu acreditava, a minha vivência com a agricultura, trazer essas lutas e temas para dentro das músicas também”, destaca.

Foi através da escola que Bruna conheceu a música de outros cantadores. “Além do Pedro, o Neudo Oliveira, que é de Pernambuco, o Farinhada, que é das Minas Gerais, o Zé Pinto, que é de lá também, a Catia Teixeira, que é uma cantadora de Minas também. E fui conhecendo vários cantadores que são referências dentro do trabalho que eu faço.”

Foi na EFASC que ela conheceu a mística, uma metodologia muito usada em encontros, assembleia e reuniões de movimentos sociais ligados ao campo. “A mística envolve música, poesia, poemas, sempre traz uma reflexão e que já vai introduzindo o tema daquele encontro. Sempre gostei muito dessas místicas, e sempre fui muito convidada e fazer uma canção em aberturas, encerramentos, lives, e as lives se intensificaram em 2020, por conta da pandemia”, avalia.

“A minha música vem da terra”

Bruna ressalta que sua origem enquanto cantadora é nas lutas sociais, nos movimentos sociais, nas lutas pela agricultura familiar e pela agroecologia. E é sobre isso que falam as suas composições, sobre a realidade do campo, trazendo crítica “mas também palavras de esperança, sentimento de carinho pela terra, a minha música vem da terra e fala da vida das pessoas que vivem do campo e vivem da terra”.

Ao se formar em 2016, seguiu trabalhando com agricultura e fazendo feiras com um grupo de agricultores ecológicos de Venâncio Aires. Em 2018, começou a trabalhar na feira pedagógica e como monitora na EFASC. Em 2019, iniciou o bacharelado em Agroecologia pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) para Santa Cruz do Sul. Em paralelo, seguiu trilhando o caminho da música.

O nome do disco, Ave Cantadeira, foi um apelido carinhoso dado a ela pelo cantor e compositor da Reforma Agrária Zé Pinto, que Bruna conheceu no Encontro Nacional de Agroecologia, em 2018. “No final do encontro, foi um momento muito marcante na minha vida, ter tido oportunidade de cantar com o Farinhada, ele me emprestou o violão dele, a gente cantou no mesmo palco um evento de mais de 5 mil pessoas, e foi lá que eu digo que nasceu a Ave Cantadeira”, recorda.

Já em 2020, ano em que atividades presenciais foram interrompidas devido às restrições impostas pela pandemia, Bruna passou a receber muitos convites para participar de lives. De pronto ela aceitou, dando o relato de sua experiência, falando de arte e cultura, tocando e cantando. Foi quando veio a ideia de gravar seu primeiro disco.

“Sempre tive muita vontade de oferecer minha música, poder ser ouvida por essas pessoas. Nesse ano passado venho compondo, algumas músicas eu fiz sozinha, outras fiz em parceria. Conversando com esses companheiros, com esses amigos, eles falaram que eu poderia fazer um disco, o que era uma vontade minha”, relembra.

Ao saber da possibilidade de fazer um financiamento coletivo, foi pesquisar como funcionava. “Foi muito pela demanda, quando eu participava dessas lives, nunca cobrei ninguém por participar trazendo minha música. Penso que hoje as pessoas que estão ajudando e contribuindo com esse projeto são pessoas que gostam de ouvir minha música e gostariam de ajudar cantores jovens a seguir esse sonho na música também.”

Bruna conta que a experiência da vaquinha online está sendo muito interessante, pois ela sente com muita força o coletivo. “Percebi isso na produção desse disco, e foi uma coisa muito importante para mim, ter toda essa rede de apoio, de muitas pessoas se mobilizando, contribuindo, me dando força, me encorajando”, afirma.

Um disco de muitos

Por isso, entende que apesar de ser um disco de sua autoria, com suas composições, o disco é uma construção de muitos. “É de pessoas que estão junto comigo e me auxiliando nesse processo, o que vem sendo muito importante porque não me sinto sozinha”, aponta, destacando novamente sua família, que vai inclusive participar das gravações.

“Os meus pais, como são plantadores, eles acabaram nunca fazendo um disco, gravando em estúdio. Eu falei que queria ter eles comigo também, e eles toparam na hora. Eu entendo que como venho de uma família de músicos, ter esse primeiro disco gravado não é um sonho só meu, é um sonho dos meus pais, uma realização dos meus avós também, e isso vem sendo muito interessante”, revela.

Para Bruna, a música como caminho para a transformação da sociedade nasce desse construir coletivo. “Por isso que acredito na música enquanto agente de transformação. A música também conscientiza e as vezes chega em lugares onde somente as palavras não alcançam”, finaliza.

Para contribuir com o projeto de gravação do álbum Ave Cantadeira, acesse http://vaka.me/1880792

Abaixo, Bruna com a música Ave Cantadeira:


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Edição: Katia Marko