Rio Grande do Sul

Opinião

Artigo | Melo, o incrível prefeito que encolheu

Reportagem do The New York Times no final de semana expôs ao mundo a derrocada dos hospitais em Porto Alegre

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Durante a disputa do segundo turno de 2020, a campanha de Melo ganhou fortes matizes bolsonaristas - Cesar Lopes/PMPA

O prefeito Sebastião Melo já conseguiu dois milagres à testa da Prefeitura de Porto Alegre. O primeiro deles foi despertar no eleitor imensas saudades de Nelson Marchezan Jr., cuja desastrosa gestão o excluiu do segundo turno em 2020. O segundo foi ser capaz de encolher ainda mais sendo ele, desde sempre, personagem minúsculo da cena política da aldeia. 

Parece até uma agressão à lógica e até à física, dizer que Sebastião Melo encolheu, mas o fato, concreto e palpável, é que mirrou mesmo. Bastaram menos de três meses para essa façanha, obrada por sua natureza, suas escolhas e as contingências do ofício assumido.    

Melo é a rapa de tacho do MDB, partido que, em priscas eras, teve Ulysses Guimarães, Alencar Furtado, Getúlio Dias, Alceu Collares, Fernando Lyra, Chico Pinto e outros. Hoje, produz gnomos, com frequência alegremente cooptados pelo neofascismo mais obtuso.

Não demandou esforços para comprar vacinas, mas foi rápido no gatilho para encomendar 25 mil doses de hidroxicloroquina, mais 102 mil doses da azitromicina e 25 mil de ivermectina. O chamado “tratamento precoce” sobre o qual não existe comprovação científica alguma de que funcione, mas que – muito provavelmente – funcionará judicialmente para embasar ações contra gestores por desperdício de dinheiro público.

Mais grave é que a compactação da figura prossegue evoluindo. O estágio mais recente dessa miniaturização, para vergonha dos porto-alegrenses, aterrissou nas páginas do mais importante jornal do mundo, edição de sábado, 27/03, justo na semana de aniversário da capital gaúcha. 

Diante da derrocada dos hospitais da cidade exposta ao mundo por The New York Times, a ideia do alcaide fraco e simplório de escancarar o comércio e entregar as vidas que deveria proteger ao apetite da covid-19 aparenta mais do que uma insanidade. Soa como uma bofetada no rosto da sociedade gaúcha.

A reportagem "Um colapso previsto: como o surto de covid-19 no Brasil sobrecarregou os hospitais" tem seu foco em Porto Alegre. Nela, nota-se que Melo, mesmo com os profissionais de saúde implorando por mais restrições ao funcionamento do comércio, negou-se a ouví-los. No texto, reluz sua frase reveladora e homicida: “Coloque sua vida em risco para que possamos salvar a economia”. Mais claro e mais perverso impossível: CNPJs importam, CPFs não importam. 

Quem for dar uma olhada nos financiadores de sua campanha eleitoral encontrará facilmente a raiz dessa predileção. Estão lá as cabeças coroadas do comércio, da indústria, da construção, da carne, dos óleos vegetais, entre outros segmentos. A fina flor da elite neoliberal guasca. Não há nada de ilegal nisso, mas um prefeito é mais do que um despachante de luxo.

Durante a disputa do segundo turno de 2020, a campanha de Melo ganhou fortes matizes bolsonaristas. Puderam ser captados, com sua habitual sordidez, nas redes sociais e presencialmente, através de uma avalanche de mentiras. Carros de som percorriam bairros e vilas anunciando que, se Melo perdesse, a população teria que comer carne de cachorro. Muitos eleitores humildes, assustados e desinformados, compraram aquele peixe em adiantado estado de putrefação.   

No passado não tão distante, Porto Alegre ganhou o mundo e foi citada com respeito e admiração em jornais, livros, programas, documentários, filmes. Outros tempos. Hoje, a cidade fez sua opção preferencial pela mediocridade. Chama a atenção pela mesmice, o descaso, a penúria, a decadência, a escuridão de suas ruas, esta servindo como metáfora para o breu mental que passou a envolvê-la.


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Edição: Katia Marko