Rio Grande do Sul

MEMÓRIA

Placa que identifica centro de tortura na ditadura é recolocada em Porto Alegre

Local conhecido como Dopinho teve placa do projeto Marcas de Memória recolocada após ter sido coberta por cimento

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Placa foi recolocada em frente ao casarão onde funcionou o primeiro centro clandestino de detenção e tortura do Cone Sul - Divulgação

A placa que identifica o antigo Dopinho, onde funcionou o primeiro centro clandestino de detenção e tortura do Cone Sul, em Porto Alegre, durante a ditadura militar, foi reinstalada na calçada em frente ao casarão nesta quinta-feira (29). Colocada em 2015, a partir do projeto Marcas de Memória, a placa havia sido coberta por cimento pelos atuais proprietários em 2020, mas após um inquérito aberto pelo Ministério Público, um acordo levou à sua recolocação.

Uma breve solenidade foi realizada pelo Movimento da Justiça e dos Direitos Humanos (MJDH), a Câmara Municipal e a Prefeitura de Porto Alegre. Participaram militantes dos direitos humanos, entre esses os filhos de João Carlos Bona Garcia, que foi preso, torturado e exilado na ditadura militar, e faleceu recentemente.

O presidente do MJDH, Jair Krischke, prestou homenagem póstuma a Bona Garcia, entregando aos seus filhos uma estatueta em forma de pomba simbolizando a paz. “Queríamos ter entregue em vida, mas não houve tempo”, disse.


Solenidade contou com representantes do MJDH, da Prefeitura, da Câmara e de militantes dos direitos humanos / Maria Emília Portella/SMDS PMPA

O projeto Marcas da Memória é uma iniciativa do MJDH, em parceria com o Executivo Municipal. Krischke destacou a importância da manutenção desses marcos que lembram à sociedade sobre a história daqueles que lutaram pela democracia. “O Dopinho foi fechado em setembro de 1966, após a descoberta do assassinato do sargento Manoel Raimundo Soares, que ficou conhecido como "caso das mãos amarradas".

Como representante da Câmara de Vereadores de Porto Alegre e um batalhador na causa dos direitos humanos, que contribuiu para identificar o prédio, o vereador Pedro Ruas (PSOL) enfatizoua importância da preservação das Marcas de Memória. “Esse prédio tem sangue e dor de muita gente que lutou por dias melhores”, afirmou, lembrando também do assassinato de Manoel Raimundo Soares. "Temos muito trabalho para fazer, porque o Brasil é dos mais atrasados do mundo em fazer justiça aos que sofreram nessas condições, por ideais”, ressaltou.

Leo Voigt, um dos fundadores do MJDH quando jovem, atual secretário de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, representando a prefeitura municipal, enfatizou que as Marcas de Memória precisam ser preservadas, como forma de informar às novas gerações, na tentativa de justiça aos que sofreram com as prisões clandestinas, tortura e muitas vezes a morte.

Texto da placa

"Primeiro centro clandestino de detenção do Cone Sul. No numero 600 da rua Santo Antônio, funcionou estrutura paramilitar para sequestro, interrogatório, tortura e extermínio de pessoas ordenados pelo regime militar de 1964. O major Luiz Carlos Menna Barreto comandou o terror praticado por 28 militares, policiais, agentes do Dops e civis, até que apareceu no Guaíba o corpo com as mãos amarradas de Manoel Raimundo Soares, que suportou 152 dias de tortura, inclusive no casarão. Em 1966, com paredes manchadas de sangue, o Dopinho foi desativado e os crimes ali cometidos ficaram impunes."

Marcas da Memória

O projeto Marcas da Memória se propõe a formar a cultura material de desvendamento da repressão. Locais que tenham servido como prisões ou centros de detenção, de tortura e de desaparecimentos de pessoas são assinalados na paisagem urbana, tornando público que ali aconteceram graves violações aos direitos humanos. No total, nove placas estão espalhadas em Porto Alegre para indicar lugares em que ocorreram crimes da repressão.

Demais locais com placas identificadoras do projeto:

- Praça Raul Pilla, local do antigo quartel da 6ª Companhia de Polícia do Exército;

- Calçada em frente ao Colégio Estadual Paulo da Gama, local que serviu como presídio militar especial;

- Calçada em frente ao Palácio da Polícia, que abrigou presos políticos durante o regime militar, com ocorrência de tortura e homicídios nas salas em que funcionaram o Dops (Departamento de Ordem Política e Social);

- Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), onde foram detidos mais de 300 presos políticos nos primeiros meses da ditadura militar;

- Em frente ao número 4.592 da avenida Bento Gonçalves. No local, funcionou o quartel do 18º Regimento de Infantaria, que era conhecido como “cela do boi preto”;

- Calçada em frente ao Presídio Central, espaço para prisões arbitrárias, torturas e mortes de presos políticos;

- Calçada em frente ao Cais da Vila Assunção, no número 154 da avenida Guaíba. Na localidade, aportavam barcos que conduziram mais de uma centena de presos políticos à Ilha do Presídio;

- Presídio Feminino Madre Pelletier, onde houve brutalidade física e emocional contra mulheres que faziam militância política.


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Edição: Marcelo Ferreira