Pernambuco

FOME

Quase metade das pessoas que passam fome no Nordeste estão no Semiárido

Apesar da volta do Brasil para o Mapa da Fome atingir toda a população, a região semiárida está entre as mais impactadas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Movimentos populares e sindicais tem criado iniciativas para minimizar o impacto dos cortes das políticas públicas de alimentação e da crise econômica - MST Paraíba

No Semiárido brasileiro, foram registradas cerca de 3 milhões e 674 mil pessoas em situação de insegurança alimentar grave durante a pandemia, cerca de 47% das 7,7 milhões de pessoas em situação de fome no Nordeste. Esses dados são da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN). A região compreende todos os estados da região Nordeste e em Minas Gerais, caracterizada por um clima quente e seco, com longos períodos de seca e baixo índice de chuvas.

Esses dados quantificam a volta do Brasil para o Mapa da Fome, mas isso não é só uma consequência da pandemia. "O que segurou a situação do Semiárido foram mais de 10 anos de investimentos em políticas públicas de convivência com o Semiárido. E a gente está falando de acesso à água e acesso à condições para produção de alimentos e ainda segura um pouco essa realidade, mas a tendência com a paralisação dessas políticas é a retomada de, a gente vai voltar para a realidade vivenciada em 2003 e 2004, que a gente tinha um número significativo de famílias morrendo de fome e morrendo de sede", explica Valquíria Lima, coordenadora executiva nacional da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Confira a reportagem:

No orçamento da União de 2021, as despesas discricionárias chegaram ao menor índice da história, com um corte de R$ 17,2 bilhões, o que impacta na manutenção das políticas públicas. E a tendência é um aumento dos cortes, como conta a deputada estadual, Dulcicleide Amorim (PT). "Agora a gente já tem aprovado no Congresso Federal e aguarda a sanção do Presidente Bolsonaro, um corte de 40% no Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e de 27% no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)", afirmou a deputada, que completa "então, quando a gente vê um corte desse exacerbado de 40% na agricultura familiar, que é uma agricultura que tem justamente um fluxo de alimentar a família. Então, isso prejudica em cheio a nossa região Nordeste, já que temos um número crescente de produtores".

Isso tem feito com que movimentos populares e sindicais realizem iniciativas para retomar esse tipo de política. O Comitê Sindical e Popular Contra a Fome de Campina Grande, na Paraíba, iniciou ocupação de cozinhas populares no município. A política teve início durante o segundo mandato do governo Dilma Rousseff e do então prefeito Veneziano Vital (PMDB, 2005-2012), mas foram desativadas em 2014 pela gestão do ex-prefeito Romero Rodrigues(PSD, 2013-2020).

"Nós começamos com uma meta inicial de servir 500 refeições; bom isso ficou nos primeiros dias. A média tem sido de 700 a 800 pessoas por dia", conta Paulo Romário, integrante do comitê, que conclui "Estamos fazendo a nossa parte, porque quem tem fome tem pressa; mas isso é um dever, isso é uma obrigação do poder público. Então, a gente começou uma iniciativa de cobrar da prefeitura de Campina Grande de abrir a cozinha comunitária do Jeremias, mas de abrir as outras cozinhas comunitárias, de abrir o restaurante popular"

No Brasil inteiro, são 19 milhões de pessoas passando fome, segundo a Rede PENSSAN e, com o aumento dos cortes em políticas públicas, a fome no Brasil ainda pode aumentar, como afirma a deputada. "Infelizmente, nós não temos boas expectativas. Se em um momento desses de pandemia, que o governo era para estar preocupado agora era com o que? Com o social, com a saúde. E quando a gente vê que não há uma preocupação dessas do governo. Infelizmente, a gente não vê luz verde no final do túnel, só a vermelha", lamenta Dulcicleide Amorim.

Edição: Monyse Ravena