Rio Grande do Sul

Direito do Trabalho

Trabalhadores do Hospital Porto Alegre entram em greve por salários em dia

Sindicato está mediando situação de dois meses de atrasos e outras pendências; para hospital, a greve é prejudicial

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Trabalhdores em greve montaram piquete na entrada do hospital na manhã desta segunda-feira (24) - Reprodução Sindisaúde-RS

Trabalhadores e trabalhadoras do Hospital Porto Alegre (HPA) deflagraram greve nesta segunda-feira (17), reivindicando a quitação dos salários atrasados. A paralisação foi definida em assembleia realizada em 17 de maio, quando os profissionais recorreram ao Sindisaúde-RS para tentar resolver a situação de dois meses de atraso salariais, além de problemas no pagamento de férias e de homologações de demissões.

Segundo Júlio Appel, secretário-geral do Sindisaude-RS, sindicato que representa trabalhadores de enfermagem, técnicos, duchistas, massagistas e empregados em Hospitais e Casas de Saúde, “os trabalhadores estão esgotados, física e mentalmente, e pediram o apoio do sindicato”. Conforme os trabalhadores, os atrasos ocorrem desde fevereiro, além de terem férias não pagas e pedidos de demissão não são homologados.

“O hospital pertence à Associação de Funcionários Municipais e não é a primeira vez que estamos fazendo greve aqui. Desde 2013 é a terceira ou quarta greve que nós fazemos, exatamente por falta de pagamento”, destaca. Segundo ele, a entidade “nunca deu importância para o hospital, mas não abre mão de entregar o hospital para alguém, porque tem 5 mil sócios aqui”, afirma, acusando de ter interesses políticos do presidente da AFM, “que se mantém no cargo há mais de 20 anos”.

Ele assinala que quem usa este hospital são os 5 mil sócios da AFM, mas o bloco cirúrgico é usado para cirurgias eletivas, que chegam a custar em torno de R$ 10 mil. “Tu paga cerca de R$ 1,5 mil para o anestesista e o médico do bloco tem um lucro bem representativo, enquanto o trabalhador aqui embaixo tem que estar atendendo no bloco, mas não recebe salário”, critica.

Explica ainda que a greve conta com um comando, mas ainda não subiu para falar com o presidente do hospital ou qualquer outro gestor. “Nós defendemos a transparência e por isso estamos com o comando de greve, que é quem conversa direto com a administração, que até agora não tem proposição alguma, a não ser trabalhar e que os trabalhadores da saúde sejam voluntários para que o hospital siga gerando lucro para alguns.”

O presidente da Associação dos Funcionários Municipais de Porto Alegre (AFMPA), João Paulo Galvez Machado, reconhece que os grevistas estão exercendo seus direitos, mas rebate as informações dos trabalhadores. “Não é a partir de fevereiro como eles dizem. Estamos pagando parceladamente o mês de março e devemos ainda todo o abril, o que é grave, é ruim e nós reconhecemos. Mas assim que entra os recursos, nós dividimos entre comprar medicamentos, materiais e pagar salários”, afirma.

Na sua avaliação, a greve não ajuda em nada. “Ela só prejudica a instituição, os funcionários que continuam trabalhando, a AFM que é proprietária, administradora e mantenedora do hospital, e os próprios grevistas, que estão lá sem perspectiva de receber”, diz João Paulo.

Ele conta que nesta sexta-feira (21) foi paga uma parcela de R$ 155 aos trabalhadores. “Soube que o pessoal ficou revoltado porque era uma esmola, mas é uma demonstração de boa vontade, respeito e consideração, para que eles pudessem ir no supermercado no fim de semana fazer um pequeno rancho”, relata. “Uma cesta básica no Zaffari custa 50 pila, então dá para fazer uma cesta básica e não dizer que vai passar fome por falta de pagamento. Transporte nós também pagamos para não disseram que não têm condições de transporte”, complementa.

Segundo ele, devem entrar recursos oriundos de pagamentos de serviços prestados nesta terça-feira (25) e nos dias 28 e 31 de maio. “Da mesma forma faremos o rateio disso entre medicamento para manter o hospital funcionando com segurança para os pacientes, e as dívidas dos salários”, assegura.

Problemas financeiros são antigos

Localizado na Avenida Azenha, na capital gaúcha, o HPA foi inaugurado em 1978 e tem um histórico de dificuldades orçamentárias que não é de hoje. Conforme João Paulo, a origem das dificuldades financeiras e pagamento de salário vêm “desde que o governo petista, em seus 16 anos, disse que os municipários eram privilegiados em ter um convênio com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre para atender a família municipária”. O convênio foi rompido pelo então prefeito José Fortunati, em 2016. Para o presidente da AFM, a decisão foi por conta de Fortunati ter rompido com PT.

“Tínhamos 500, 600 funcionários atendendo os três turnos do hospital, só que acabou o convênio e ficamos com 500 pessoas sem receita para pagar eles, nem para demitir, e aí começou nosso calvário”, afirma. Conta que a contratação do Instituto de Educação Saúde e Vida (ISEV) para administrar o hospital em troca das dívidas foi um fracasso. “Eles não cumpriram com as dívidas, administraram o hospital e ficaram com a receita para eles. Dilapidaram nosso patrimônio.”

“Com as demissões de quem não aceitou atrasos, agora a AFM também tem débitos na justiça. Um débito que é nosso e temos que pagar, é direito deles”, diz. Desde então, afirma João Paulo, foram feitos novos acordos com pessoas e grupos para ajudar a remontar o hospital, que tem uma folha de pagamentos líquida na ordem de R$ 600 mil por mês.

Segundo Júlio Appel, essa discussão do repasse do Fortunati é similar ao que ocorreu com o Hospital Parque Belém, “onde entrou um aporte do governo Lula e ninguém sabe onde foi porque emergência nunca existiu lá. O dinheiro público entra, mas ninguém sabe onde foi parar. Não defendo o Fortunati, que acho que fez uma péssima gestão em saúde, mas não defendo o gestor que pega o dinheiro público e não diz onde bota”, critica.

“Dinheiro publico tem que ser vigiado o tempo todo e essas organizações sociais e hospitais filantrópicos que usam dinheiro público e não dizem onde vai parar, isso tem que ser abolido do SUS”, afirma o diretor sindical.


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Edição: Katia Marko