Minas Gerais

SOLIDARIEDADE

Campanha Sindicato Solidário 2021 une categoria bancária contra a fome em MG

Iniciativa denuncia incapacidade do governo Bolsonaro de enfrentar crise econômica

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
Segundo pesquisa do Data Favela, 68% dos moradores de ocupações, vilas e favelas de todo o país não tiveram dinheiro para comprar comida por pelo menos um dia - Carlos Latuff

A Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro de Minas Gerais (Fetrafi-MG) lançou em maio a campanha Sindicato Solidário 2021 com o objetivo de arrecadar doações para famílias em situação de insegurança alimentar. Idealizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), a campanha acontece em parceria com federações e sindicatos da categoria bancária de todo o país.

Dados do Instituto Data Favela, em parceria com a Locomotiva – Pesquisa e Estratégia e a Central Única das Favelas (Cufa), divulgados em março de 2021, apontam que 68% dos moradores de ocupações, vilas e favelas de todo o país não tiveram dinheiro para comprar comida por pelo menos um dia, durante um período de duas semanas.

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Segundo a presidenta da Fetrafi-MG e coordenadora nacional da campanha, Magaly Fagundes, o agravamento da pandemia da covid-19 e a incapacidade do governo Bolsonaro de promover políticas públicas capazes de enfrentar os impactos das restrições e da crise econômica na vida da população brasileira são os responsáveis pelo aprofundamento da fome e da miséria.

“Temos 116 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar ou sem comida em casa. Temos um governo que reduziu o auxílio emergencial e isso agravou a situação de fome. Sabemos que os nossos sindicatos filiados têm compromisso e vêm fazendo a campanha nas suas regiões. Fazemos um papel que, infelizmente, o governo federal não tem feito. Vamos contribuir com o que pudermos, seja com alimentos, com roupas ou materiais de higiene”, afirmou a dirigente durante o lançamento da campanha realizada no dia 25 de maio.

Desigualdade

O levantamento do Data Favela também mostra que a vulnerabilidade alimentar se distribui de forma desigual em relação à cor da pele das pessoas entrevistadas, com maior prevalência entre os pardos e pretos. Entre os brancos, 48,9% apresentaram algum grau de insegurança alimentar, contra 66,8% dos pretos e 67,8% dos pardos.

Temos 116 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar ou sem comida em casa

Para o secretário de combate ao racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar, que também é coordenador nacional da campanha, a nova fase da campanha visa proporcionar um alento a esse povo.

“Aumentou o abismo social entre ricos e pobres, aumentou a violência e o número de desempregados e isso atinge fundamentalmente a população negra. Precisamos combater em função da inércia do governo federal. Com a redução do auxilio emergencial, aumentou muito a desigualdade. Muitas das domésticas, 80%, 90% são principalmente mulheres negras, que agora perderam seus empregos”, destaca.

Mesmo com o agravamento da situação da fome durante a pandemia da covid-19, dados recentes mostram que o aumento da pobreza no país é anterior à crise atual. Com cerca de 5% da população em estado de fome, em 2018, o Brasil voltou a figurar no Mapa da Fome da ONU – o que evidencia que, mais do que uma questão conjuntural, a fome no Brasil é uma política de Estado.

Segundo o economista Fernando Ferreira Duarte, técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Minas Gerais, além das ações de socorro imediato às pessoas que têm fome é importante pensar a médio e longo prazo os desafios estruturais de superação da crise humanitária no país. Ele enfatiza que no Brasil a questão da pobreza e da desigualdade está diretamente relacionada ao rendimento da população.

“Desde a crise de 2015, temos convivido com desemprego elevado. Na pandemia, mesmo com o governo comemorando um desempenho econômico que só ele enxerga, tivemos um desempenho pífio na economia”, aponta.

O economista afirma ainda que em Belo Horizonte houve um aumento de 27,79% no preço dos alimentos no ano passado. “Neste ano, com auxilio emergencial menor e o preço da cesta básica permanecendo alto, esse problema se agravou”, completa

Fome em Minas Gerais

Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, apenas a capital mineira registra, atualmente, cerca 112 mil famílias cadastradas na linha da pobreza e outras 59 mil na linha da extrema pobreza. O presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, Ramon Peres, lembra o crescimento do número de famílias em situação de rua na capital mineira.

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“Ninguém está na rua porque quer. Não conhecemos a dor das pessoas que estão hoje nas ruas de Belo Horizonte, sem perspectivas de emprego, de renda e humanidade”, aponta. Citando a frase do educador Paulo Freire, que afirmava que "ninguém liberta ninguém; homens e mulheres se libertam em comunhão", o dirigente afirma que a campanha Sindicato Solidário traz a mensagem de humanidade, "um pouco do que podemos fazer para acalentar e amenizar essa dor diária que mais de cinco milhões de pessoas em Belo Horizonte estão sentindo”..

Como contribuir?

O diretor de Comunicação da Fetrafi-MG, Helberth Ávila, explica que a campanha tem um hotsite oficial com dados das entidades e projetos apoiados regionalmente pelos oito sindicatos que compõem a base da federação em Minas Gerais.

As pessoas interessadas em contribuir podem obter mais informações sobra a campanha, os sindicatos que integram a ação e todos os dados das entidades sociais que arrecadam doações, com endereço e outras formas de doações por meio da plataforma, basta clicar aqui.

"O que existe hoje no Brasil é um imposto sobre grandes pobrezas, já que pobres pagam proporcionalmente mais em impostos que os ricos. É um absurdo que um projeto de tributação sobre grandes fortunas que poderia arrecadar R$ 400 bilhões não consiga avançar no Congresso devido a força de políticos conservadores e dos oligarcas bilionários do país. Enquanto a justiça tributária não for arrancada de nossos congressistas, só nos resta continuar auxiliando nossos irmãos e irmãs em estado de necessidade”, ressalta o dirigente.

Edição: Elis Almeida