Rio Grande do Sul

Repúdio

Impedida de ir ao banheiro, trabalhadora urina nas calças em Novo Hamburgo

Episódio aconteceu na região Metropolitana de Porto Alegre, gerando protestos em frente à fábrica 

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Ato aconteceu em frente à fábrica de calçados, na manhã desta segunda-feira (28) - CUT- RS/ Divulgação

Uma funcionária de 19 anos, trabalhadora da fábrica de Calçados Zenglein, em Novo Hamburgo (RS), foi impedida, na última quinta-feira (24), de ir ao banheiro durante o seu horário de trabalho, fazendo com que urinasse nas calças. Se não bastasse, teve que passar em frente aos colegas até o setor de Recursos Humanos, sofrendo enorme constrangimento e humilhação. Foi dispensada do serviço, tendo que ir a pé para casa, caminhando por cerca de meia hora. Um grupo de manifestantes protestaram nesta segunda-feira (28), em frente da fábrica. Além de um cartaz com a frase “libera o banheiro já”, os manifestantes instalaram uma privada.

Conforme destaca a diretora do Sindicato das Sapateiras e dos Sapateiros de Novo Hamburgo e da CUT-RS, Jaqueline Erthal, o fato deixou indignadas as colegas de trabalho da funcionária. “Não foi a primeira vez que isso acontece na categoria. O uso do vaso sanitário deveria estar sempre liberado, pois é uma questão de saúde. Além do mais, muitas mulheres sofrem com incontinência urinária”, ressalta a sindicalista.

À imprensa local, a funcionária disse que foi embora chorando. Ela contou que  estava trabalhando em uma esteira e pediu à supervisora para ir ao banheiro, mas ouviu que a chave não estava no local.

Conforme explica Jaqueline, na empresa, infelizmente, ainda é preciso “pedir a chave para ir ao banheiro”, como é conhecido o sistema de esteira, onde cada empregada deve esperar a sua vez ou chamar uma auxiliar chamada de “coringa”. “Isso é uma palhaçada. Tudo para não parar a produção e aumentar o lucro do patrão, ignorando a saúde de quem trabalha e a qualidade de vida das pessoas”, critica a diretora.

Na manhã de sexta-feira (25), o Sindicato tentou entrar em contato com a fábrica para conversar e pedir esclarecimentos, mas não obteve retorno. À tarde, a assessoria jurídica encaminhou uma notificação extrajudicial, com cópia ao Ministério Público do Trabalho (MPT), para que a empresa se manifestasse.

No sábado (26), o caso foi denunciado na live do Sindicato, que contou com a participação do presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci. Para ele, “é uma estupidez, uma visão do tempo de quase escravidão pedir pra ir ao banheiro. É uma questão de saúde do trabalhador e da trabalhadora. A responsabilidade é do empregador. Cabe exigir danos morais”.

Ato de repúdio

Ao meio-dia desta segunda-feira (28), o Sindicato realizou um ato de repúdio, no intervalo do turno, em frente à fábrica. Dirigentes sindicais se manifestaram em carro de som, protestando contra essa a prática da empresa.

“Queremos o fim da chave dos banheiros, respeito e dignidade com as sapateiras e os sapateiros, que com muito orgulho trabalham e garantem a pujança da indústria do calçado no Vale dos Sinos”, destaca Jaqueline.

Estiveram presentes no ato, manifestando apoio e solidariedade à luta da categoria, dirigentes do Sindicato dos Bancários do Vale do Paranhana e do Sindicato dos Municipários de Estância Velha.

Também compareceram o vereador Enio Brizola (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Novo Hamburgo, o ex-prefeito e ex-deputado Tarcísio Zimmermann, o assessor do deputado federal Elvino Bohn Gass (PT), Ederson Rodrigues, e a representante do Coletivo Elza, Eduarda Milena.

Ao final da tarde, a Calçados Zenglein enviou uma resposta à notificação do Sindicato. Em ofício de duas páginas, a empresa tenta minimizar a gravidade do fato, alegando que “foi de uma infelicidade ímpar”. Segundo o texto, “trata-se de caso isolado sem que a empresa pudesse ter evitado”.

“É muita cara de pau querer tapar o sol com a peneira. Vamos levar essa carta ao conhecimento das trabalhadoras e dos trabalhadores para mostrar como os nossos patrões tentam enganar a categoria. Temos que unir nossas forças junto ao Sindicato para defender os nossos direitos e lutar por melhores salários e condições dignas de trabalho”, aponta Jaqueline.

*Com informações da CUT-RS


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Edição: Marcelo Ferreira