Rio Grande do Sul

Opinião

Artigo | Máscara, um objeto ético

"É um dever do indivíduo proteger a si como um ato de amor-próprio e, ao outro, como um ato de cidadania e respeito"

Porto Alegre | BdF RS |
"Não usar máscara é negar sua eficácia na prevenção da transmissão do vírus, é negar a ciência, o conhecimento histórico acumulado, enfim, é negar o direito à saúde e à vida, pois pode levar ao acometimento dos corpos e à morte" - Jefferson Peixoto/Secom

Usar máscara não é fácil e agradável para ninguém. Assim como não é prazeroso ficar isolado, sem a convivência de amigos, familiares e a partilha do abraço, tão característica do brasileiro. Destarte, isso não é o suficiente para agir irresponsavelmente.

Para além do cômodo, do prazer e da afetividade do abraço, existem o dever e a razão. Eis porque a (possível) recomendação de não usar máscara, pelo presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, deve ser desobedecida. É um dever de o indivíduo proteger a si como um ato de amor-próprio e, ao outro, como um ato de cidadania e respeito (amor) ao próximo. É um dever imposto pela razão que requer dos sujeitos autonomia da vontade livre. O indivíduo deve desobedecer porque é mais racional, prudente, sensato e autônomo.

Usar máscara é um ato moral e ético de rebeldia da consciência livre.

Não usar máscara é assumir comportamento de risco para si e para o próximo. O não uso da máscara é tão irresponsável quanto o negacionismo. Não usar máscara é negar sua eficácia na prevenção da transmissão do vírus, é negar a ciência, o conhecimento histórico acumulado, enfim, é negar o direito à saúde e à vida, pois pode levar ao acometimento dos corpos e à morte. E, portanto, é dever ético de todos garantir a preservação da vida.

O médico Dr. Cláudio Maierovitch, em depoimento à CPI da COVID-19, alertou que usar máscara “precisa ter um sentido para as pessoas: estou fazendo isso para me proteger, porque isso é o que todos devem fazer, porque isso tem sentido, porque a ciência e o conhecimento nos orientam, [...] quando isso é colocado em xeque, perde sentido e se torna obrigação”, ou seja, o dever ético dá lugar ao irracional, ao imoral, à falta de boa vontade e, consequentemente, à irresponsabilidade.

Um comportamento responsável deve seguir, minimamente, a razão. O dever ético é uma imposição da razão livre e autônoma e não pode deixar-se manipular por vontades alheias irresponsáveis. Para tanto, é preciso aplicar o princípio categórico kantiano às avessas: age de tal forma que a tua ação seja contrária à dos irresponsáveis.

* Filósofo, professor e consultor

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko