Rio Grande do Sul

Coluna

Marchar com Paulo Freire

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"Juntar o povo, ocupar todos os espaços, organizar lutas e ocupações, gritar bem alto que a libertação vem de baixo" - Foto: @suhyasun
Transformar setembro no setembro do ESPERANÇAR. Marchar, marchar, marchar

Paulo Freire proclamou nos anos 1990, quase no final da vida: “Eu morreria feliz se visse o Brasil, e seu tempo histórico, cheio de Marchas. Marchas dos que não têm escola. Marcha dos reprovados. Marcha dos que querem amar e não podem. Marcha dos que se recusam a uma obediência servil. Marcha dos que se rebelam. Marchas dos que querem ser e estão proibidos de ser. Estas Marchas históricas revelam o ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo.

29 de maio, 19 de junho, 3 de julho, 10 de julho, que vai ser o Dia da Solidariedade em Porto Alegre, e nova mobilização de rua nacional em 24 de julho, as Marchas estão acontecendo em todo o Brasil. Paulo Freire, no ano do seu centenário, deve estar muito feliz, assistindo de algum lugar o povo brasileiro marchando por VACINA NO BRAÇO, COMIDA NO PRATO, FORA BOLSONARO, e por justiça, igualdade, soberania, democracia.

Marchar nas ruas, como está acontecendo no Brasil e em diferentes países e continentes, com todos os cuidados sanitários, mas marchar, aos milhares, aos milhões. O povo na rua constrói o poder popular. 

Marchar nas escolas e Universidades, sensibilizar estudantes, professores e toda comunidade escolar. Trazer Paulo Freire para dentro e fora das salas de aula, dialogar com as periferias, dialogar com todos os setores da sociedade.

Marchar com os movimentos sociais, o movimento sindical, as Pastorais sociais das Igrejas, o movimento indígena, os jovens, as mulheres, o movimento quilombola, as organizações de matriz africana, o povo LGBTQIA+, sem terras, sem teto, população em situação de rua, agricultoras-es familiares, camponesas-es, o movimento estudantil, recicladoras-es, as ONGs e toda a sociedade civil que reconhece Paulo Freire como educador popular e cidadão do mundo.

Marchar no campo e na cidade, em todas as esquinas, em todos os becos, em todas as ruelas, em todas as pequenas comunidades do Interior, nas periferias, nas vilas, nos bairros, nas favelas, bater à porta dos edifícios e condomínios de classe média. Juntar o povo, ocupar todos os espaços, organizar lutas e ocupações, gritar bem alto que a libertação vem de baixo, vem da unidade e da solidariedade, tornar Paulo Freire vivo e presente. 

Marchar em toda América Latina e Caribe, marchar como as colombianas e os colombianos, como as chilenas e os chilenos, como as palestinas e os palestinos, como as peruanas e os peruanos, como as brasileiras e os brasileiros fizeram em 29 de maio, 19 de junho, 3 de julho e marcharão em número muito maior em 24 de julho e no resto de 2021, contra governos genocidas, necrófilos, negacionistas e neofascistas. Marchar a favor de políticas públicas, da participação popular, da vida, da fraternidade, da paz, da justiça e da igualdade. 

Marchar, reinventando Paulo Freire e a educação popular, fortalecendo a organização popular com conscientização, com formação na ação na base popular, freireanamente. Marchar como se a utopia, aquela que sempre se distancia mais um pouco quanto mais chegamos perto, como profetizou Eduardo Galeano, mas em cuja direção caminhamos sempre, apresente-se e brilhe firme e forte no horizonte, com esperança e fé.

Marchar juntando, na mesma luta e no mesmo sonho, a Pedagogia do Oprimido, a Pedagogia da Indignação e a Pedagogia da Esperança, junto com o povo, especialmente os mais pobres entre os pobres, junto com as lutadoras e os lutadores das causas populares.

Proclamar setembro, mês do aniversário e do centenário de Paulo Freire, oficialmente o mês das Marchas e de MARCHAR: Marchas políticas e simbólicas em todo Brasil, América Latina e Caribe. Marchas de todos os tipos, todas as formas, todas as cores, em tudo que é lugar e espaços. Marchas militantes, marchas presenciais e marchas virtuais, juntando ética e política, mística e política, exigindo direitos para trabalhadoras e trabalhadores, políticas públicas com participação popular, soberania e democracia.

Transformar setembro no setembro do ESPERANÇAR. Marchar, marchar, marchar. Não esperar acontecer, mas fazer acontecer a revolução de baixo para cima, anunciar o sonho, a utopia. Andarilhar como semeadoras e semeadores da libertação, ninguém soltando a mão de ninguém.

Setembro o mês das Marchas e do Marchar, como sonhava Paulo Freire, da denúncia e do anúncio, todas as horas, todos os dias, manhã, tarde, noite, madrugada, fazendo amanhecer a manhã de sol e luz, de primavera e futuro, de sonho e utopia.

PAULO FREIRE VIVE! PAULO FREIRE PRESENTE!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko