Rio Grande do Sul

Arte e Cultura

O bar Ocidente após 40 anos pede socorro

Com sua sede considerada patrimônio histórico cultural, o bar Ocidente realiza festival online para pagar as contas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Os Replicantes e Julio Reny fizeram suas primeiras apresentações no Ocidente - Foto: Fernanda Chemale

O bar Ocidente que tem sua sede considerada patrimônio histórico cultural de Porto Alegre, conseguiu finalmente, em 2019, o alvará de funcionamento, mas com a chegada da covid, essa alegria foi sendo transformada em preocupação. Passados 16 meses seu proprietário Fiapo Barth não tem mais como sustentar os dois aluguéis, os salários de funcionários e tudo que mantem o espaço cultural. Por isso, nos dias 16 e 23 de julho vai acontecer o Festival Online SOCORRO OCIDENTE SHOW. 

Serão duas noites de transmissão via Youtube com shows musicais, dança, performances teatrais e o sarau elétrico. O passaporte para salvar o Ocidente está à venda no Sympla. Há vários valores de ingressos para ninguém ficar de fora, de 20 a 80 reais. O link de acesso é enviado na véspera do evento.


Fiapo Barth é o proprietário do legendário Ocidente / Foto: Fernanda Chemale

Na primeira noite, dia 16, estão agendados Wander Wildner, Tonho Crocco, Denizeli Cardoso, Os The Darma Lóvers, Los 3 Plantados, Flu, Pedro Petracco, Pupilas Dilatas, Circenses, Só Amor Trio, Antônio Carlos Falcão, Performers da Fun (Von Teese), Luciana Tomasi + Carlos Gerbase, Arlete Cunha, João Carlos Castanha e Marcio Ventura.

Na segunda noite, dia 23, terá Defalla, Os Replicantes, Frank Jorge, Carlinhos Carneiro, Julio Reny, Zé Natálio feat Tonho Crocco e Jacksom, Adriana Deffenti, Jimi Joe, Marcio Petracco, As Batucas, Sarau Elétrico, Ilana Kaplan, Renato Del Campão, Patsy Cecato, Zé Adão Barbosa, Janaina Kremer, Cikuta Castanheiro e Ana Maria Mainieri.

O Ocidente é resistência cultural

O bar Ocidente abriu suas portas em dezembro de 1980, inicialmente era para ser um espaço para grupos de teatro. Localizado na esquina da Osvaldo Aranha com a João Telles, o casarão tem quase 150 anos e talvez seja uma das construções mais antigas de Porto Alegre e que resiste a ganância imobiliária naquela avenida.


Julio Reny e o Expresso Oriente se apresentaram no Ocidente em 1989 / Foto: Fernanda Chemale

No começo, a casa ocupada para ser o Ocidente nem telhado tinha e chovia dentro, mas mesmo assim não deixou de ser um ponto de encontro de uma geração que despontava pela liberdade artística e sexual daquele repressor final de anos 1970, início dos 1980. Logo foi sendo apropriado por bandas que estavam dando seus primeiros passos, foi ali que Os Replicantes e Julio Reny fizeram suas primeiras apresentações.

O palco estava sempre disponível para performances artística e marcava um território de pura ousadia e diversidade sexual. Naqueles anos 1980, o local abria de segunda a segunda e Nei Lisboa chamou de “a fauna ensandecida do ocidente”. Subir aquela escada era dar de cara com uma tribo eclética: darks, punks, hippies, rajneesh e new waves. Estavam ali todas as novas estéticas urbanas, da moda aos roteiros de cinema.

Há muitas histórias, mas cabe lembrar da invasão da polícia em junho de 1989 que culminou no movimento Bom Fim Pequim. A reação motivou o show no Araújo Viana e fazia analogia a repressão policial na Praça Celestial em Pequim que aconteceu na mesma época.  

O Ocidente sempre gerou muitos empregos diretos e indiretos para quem trabalha com o entretenimento em Porto Alegre. Mas chega em 2021 lutando para manter suas portas abertas. É uma casa onde a boa política segue sendo defendida – democracia, diversidade de gêneros e manifestações culturais. Continua servindo o almoço lacto/vegetariano, coordenado por Rô Cortinhas e abrem como pub neste momento de pandemia.


Wander Wildner está na programação do festival no dia 16 de julho / Foto: Fernanda Chemale

Segundo o apresentador do programa Metrópolis da TV Cultura de São Paulo, Cunha Junior, enquanto ele vivia em Porto Alegre, o Ocidente foi sua segunda casa. “Um lugar com muita atividade cultural, sempre dando espaço para o novo, foi e é uma grande influência para meu trabalho”. O Ocidente atravessou quatro décadas e muitos de seus frequentadores se encontraram nas suas individualidades, sem deixar de entender o coletivo, como parte de um todo festivo, contra todas as formas de opressão e caretice. 

* Paola Oliveira é produtora e jornalista.


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Edição: Katia Marko