Rio Grande do Sul

Saúde

Projeto Cultura Doadora debate saúde ocular nesta terça-feira

‘Saúde ocular, doação e transplante de córneas’ é tema do painel alusivo ao Dia Mundial da Saúde Ocular no dia 10

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Apenas no primeiro semestre de 2020, os transplantes de córnea no Brasil reduziram 44,2%, o maior percentual entre os demais órgãos transplantáveis - Divulgação

‘Saúde ocular, doação e transplante de córneas’ é tema do painel do projeto Cultura Doadora nesta terça-feira (13), às 19h, alusivo ao Dia Mundial da Saúde Ocular comemorado em 10 de julho.

Participam do diálogo virtual o pianista, compositor e produtor musical transplantado de córneas Luciano Leães, o chefe do Serviço de Oftalmologia e Diretor Técnico do Banco de Córneas da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Alexandre Marcon, e a biomédica Carla Zanatelli, também do Banco de Córneas da Santa Casa. 

“A prevenção e o diagnóstico de doenças oculares pode evitar a perda da visão”, observa a diretora da Fundação Ecarta e jornalista, Valéria Ochôa, que fará a mediação do painel com transmissão pelo canal do Youtube da Fundação.  

O oftalmologista Alexandre Marcon alerta que atualmente o tempo de espera aumentou para cerca de um ano, enquanto recentemente era de um mês. Ele informa que o volume de doações e transplantes no Banco de Córneas da Santa Casa em decorrência da pandemia: de 150 em 2019, baixou para 58 em 2020 e está em 18 até junho. Quanto aos transplantes, foram 140 em 2019; 51 em 2020 e 23 até junho.

Cerca de 100 pacientes estão em lista na unidade. Atualmente a média de espera para a cirurgia é de um ano; até recentemente esse tempo era de apenas um mês.

Apenas no primeiro semestre de 2020, os transplantes de córnea no Brasil reduziram 44,2%, o maior percentual entre os demais órgãos transplantáveis.


‘Saúde ocular, doação e transplante de córneas’ é tema do painel do projeto Cultura Doadora nesta terça-feira (13), às 19h / Divulgação

Forte impacto mesmo com avanços

Apesar do avanço tecnológico das terapias para as doenças oculares, a deficiência visual continua presente em importante parcela da população mundial e em todas as faixas de idade.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cegueira afeta 39 milhões de pessoas em todo o mundo e 246 milhões sofrem de perda moderada ou severa da visão. As regiões mundiais com menor desenvolvimento social e econômico concentram 89% das pessoas com deficiência visual; 75% dos casos de deficiência visual são evitáveis, por prevenção ou tratamento.

No Brasil, a estimativa é de 1,5 milhão de adultos e crianças com cegueira, equivalentes a 0,75% da população. Cerca de 25 mil crianças com perda de visão ocasionada por infecções, catarata e glaucomas congênitos e retinopatia da prematuridade.

O Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 apurou que a deficiência visual é a doença física mais citada, com 35,7 milhões de brasileiros afetados, numa população de 190 milhões de habitantes à época do censo. 

Diferença de cegueira e deficiência visual

A córnea é um tecido transparente que fica na parte da frente do olho. É a primeira interface que a luz atravessa no globo ocular. Se a córnea fica opaca (embaça) a pessoa pode ter a visão bastante reduzida ou, às vezes, até perder a visão.  

A deficiência visual se divide em duas características:  a baixa visão e o cego. A cegueira é a perda total de visão, quando a pessoa precisa contar com habilidades de substituição da visão. Na aprendizagem, é o aluno que necessita da linguagem Braille ou sistemas que verbalizam textos em computadores.

A baixa visão ou visão subnormal é o termo usado para quem tem a função visual comprometida, mas é capaz de usar a visão para executar tarefas. Na educação escolar, é aquele que apresenta resíduo visual que permite ler impressos com o auxílio de recursos didáticos e equipamentos especiais.

Causas e tratamentos

As principais causas mundiais de deficiência visual estão relacionadas à população idosa, como a catarata não operada, o glaucoma, a degeneração macular relacionada à idade e a retinopatia diabética.

Preve-se que apenas o glaucoma atinja cerca de um milhão de pessoas no país e pessoas com histórico familiar apresentam mais chances de desenvolver a doença, sendo recomendado exame preventivo.

O oftalmologista Alexandre Marcon esclarece que a perda de visão por glaucoma é irrecuperável, diferente da catarata, que é reversível assim como a DMRI, dependendo do estágio.

Também fazem parte do grupo de risco os portadores de diabetes. “A retinopatia diabética é uma causa importante de perda de visão em pacientes adultos, mas um bom controle da diabetes retarda ou evita a doença”, completa Marcon.

A miopia, astigmatismo, hipermetropia são os maiores responsáveis pelo comprometimento da visão. A proporção é de uma pessoa cega para 3,4 de deficientes visuais. Estes podem ter o problema solucionado com óculos e com cirurgias de catarata.

Crianças com excesso de exposição a eletrônicos

O teste do olhinho, feito de forma rotineira pelos pediatras, é importante para identificar precocemente algumas doenças, observa o chefe do Serviço de Oftalmologia da Santa Casa. Ele assinala que ocorre uma epidemia de miopia na infância no mundo, acentuada pelo excesso de uso de eletrônicos, aprofundado ainda mais com a pandemia. São recomendadas atividades ao ar livre para reduzir a incidência desta patologia. “Esta doença causa baixa visão e é facilmente corrigido com óculos em quase todos os casos.”

Prevenção na atenção básica

O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) em parceria com o Ministério da Saúde elaborou o estudo "As Condições da Saúde Ocular no Brasil 2019". A CBO propõe a inserção da Oftalmologia na Atenção Básica de Saúde, interiorizando o atendimento para garantir saúde ocular e reduzir a cegueira. Para os dirigentes do Conselho a cegueira e a deficiência visual podem ser evitadas com prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado.

Cerca de 80% dos problemas de deficiência visual poderiam ser corrigidos, passando para a atenção secundária os problemas graves. Esse resultado poderia ser alcançado com aumento de consultas na rede pública de saúde passando dos 10,4 milhões realizadas em 2018, para 40 ou 50 milhões ano.

Pela estimativa da CBO, o ideal seria realizar cirurgias de catarata para 0,8% a 1% da população brasileira por ano, o que representaria dois milhões de cirurgias anuais, no universo de 208 milhões de habitantes. A cirurgia de catarata hoje é segura e moderna e restabelece o indivíduo, que volta a se integrar na sociedade.

Pobreza e idade são complicadores da visão

O estudo de prevalência da cegueira feito pelo CBO, considera os aspectos econômicos e de idade: mostrou que 0,3% de cegueira ocorre na classe rica, 0,6% na classe média, e 0,9% na classe pobre, explicitando que a classe menos favorecida tem três vezes mais frequência de cegueira que a classe rica.

A análise por idade aponta que a prevalência da cegueira nas pessoas idosas, dependendo do local, chega a ser de 15 a 30 vezes maior que nos jovens.

De acordo com o estudo, 82% dos cegos no Brasil são idosos acima de 70 anos de idade. A fatia de pessoas com catarata somadas aos erros refrativos, totaliza 75% de indivíduos que podem solucionar seus problemas com óculos e cirurgia. 

Covid-19 tem impacto

Uma pesquisa brasileira divulgada em maio revela que a covid-19 pode causar lesões sérias e irreversíveis nos olhos de pacientes que tiveram a forma mais grave da doença, podendo afetar cerca de 20% desses pacientes.

Segundo o coordenador da pesquisa, professor de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina, Rubens Belford Júnior, as lesões na retina podem ser um sinalizador de gravidade e indicar complicações no sistema nervoso.

Transplante de sucesso

As doenças corneanas são a segunda causa de cegueira reversível no mundo e o transplante de córnea é o procedimento de maior sucesso entre os transplantes.

O transplante é indicado quando a córnea se torna opaca ou tem irregularidades em sua superfície que levem a diminuição da visão, sem possibilidade de correção com óculos ou lentes de contato.

O primeiro transplante de córneas do Brasil foi realizado pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre em 1938. O Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo.

Atualmente, mais de 7.500 pacientes esperam por um transplante de córnea para a reabilitação visual. Os bancos de córneas são instituições responsáveis pela retirada, transporte, avaliação, classificação, preservação, armazenamento e disponibilização dos tecidos oculares doados para transplantes a partir da lista única estadual.

Quem pode doar

Pessoas que tiveram morte por parada cardíaca ou morte encefálica podem ser doadores, a partir da autorização da família. Todos podem ser doadores independentemente da idade e uso de óculos ou lentes, ou alguma possível doença. Miopia, hipermetropia e astigmatismo, catarata ou glaucoma não impedem a doação.

A retirada deve ser feita em um tempo igual ou inferior a seis horas. O prazo de retirada pode ser maior dependendo de condições de refrigeração adequadas.

Diferente da maioria dos órgãos que exige ambiente hospitalar para a retirada, a de córnea pode ser feita no necrotério ou na casa do doador. O tempo máximo de preservação extracorpórea da córnea é de 14 dias. A doação não modifica a aparência do doador e a retirada é feita sem deixar vestígios aparentes.


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Edição: Katia Marko