Minas Gerais

MINERAÇÃO

População de Antônio Pereira (MG) denuncia alto nível de poeira de obra da Vale

“Tempestades de poeira viraram triste rotina”, afirmam moradores. Barragem também sofre de instabilidade nível 2

Antônio Pereira (MG) |
A invasão do pó nas ruas, casas, olhos, gargantas e pulmões de Antônio Pereira é mais um dano grave que precisa cessar e ter suas consequências perversas reparadas - Reprodução


A Associação Movimento Antônio Pereira para Todos (AMAPT), o Projeto Manuelzão, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Comissão dos Atingidos pela Barragem Doutor denunciam o descaso da mineradora Vale/SA com a população de Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto.

No documento intitulado “ A triste sina de Antônio Pereira na poeira da Vale”, apontam que, desde de abril de 2020, os quase 5 mil habitantes do distrito convivem com o medo, diante da possibilidade de rompimento da barragem Doutor, da Vale.

::Barragem da Vale sofre instabilidade e força remoção de moradores em Ouro Preto::

Além do medo, os moradores denunciam que estão lidando com problemas de saúde física e mental devido à “quebra de vínculos afetivos e familiares, desvalorização imobiliária, perda de trabalho e renda, fechamento de atividades comerciais, depredações, insegurança”.

Atualmente a Vale e suas mineradoras trouxeram seus canteiros para dentro do distrito. Perdemos nossa qualidade de vida.

Dificuldade de respirar

Apontam também que os problemas têm se intensificado, devido “as tempestades de poeira que viraram triste rotina, fruto das obras de descomissionamento da barragem, conduzidas sem o mínimo respeito à população. ” No documento são citados como efeitos imediatos da poeira: a tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta, falta de ar e respiração ofegante.

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Segundo Maria Helena Rocha Ferreira, membro da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Antônio Pereira e da diretoria da AMAPT, há anos a comunidade pede providências em relação à poeira. “A situação se agravou com as obras de construção do vertedouro, mas apenas medidas paliativas são tomadas. A empresa demonstra não ter interesse em resolver o problema”, lamenta.

Denúncias no WhatsApp

Os moradores também vêm denunciando a situação através do WhatsApp. Diversas mensagens apontam as dificuldades devido à poeira e falta de água no distrito ouro-pretano.


Reprodução / Reprodução

Tentativas de diálogo com a empresa

Na última quarta-feira (28), o coordenador da AMAPT, Wilson Nunes, enviou ofício ao gerente geral da Vale no Complexo de Mariana solicitando “em caráter de urgência”, o emprego de caminhões-pipa “em número suficiente para molhar as estradas de acesso da Vale 24 horas por dia” e outro “para as ruas do distrito e da Vila”.  Porém, a reivindicação não foi atendida por completo.

Maria Helena reforça que os pedidos têm sido ignorados. “Infelizmente a empresa ignora nossas reinvindicações. Tenta a todo custo invisibilizar os sofrimentos físicos, mentais e emocionais que suas atividades provocam em nós, moradores, até mesmo nos seus funcionários e famílias, que não tem sequer o direito de se manifestar”.

Outras reivindicações

Além dos caminhões-pipa, a população de Antônio Pereira apresenta como demanda a contratação imediata de uma Assessoria Técnica Independente (ATI) a que tem direito tanto pela Lei Estadual 23.795/2021, que instituiu a Política Estadual dos Atingidos por Barragens, como por decisão judicial da 2ª Vara Cível de Ouro Preto.

Reivindicam também que o Ministério Público defenda a população, “que os órgãos ambientais do município e do estado monitorem permanentemente o nível de particulados no ar da região e que a Vale adote medidas efetivas para eliminar de vez o problema”.

Procuramos a Vale para comentar o assunto, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos retorno.

A nota com as denúncias é assinada pela Associação Movimento Antônio Pereira para Todos – (AMAPT), Projeto Manuelzão, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e pela Comissão dos Atingidos pela Barragem Doutor.

 

Edição: Rafaella Dotta