Rio Grande do Sul

Opinião

Artigo | Para orientar futuros possíveis

"Em defesa da saúde das matas e de um corpo coletivo, somamos voz ao grito das retomadas: Demarcação já!"

Porto Alegre | BdF RS |
O livro “Nhemombaraete Reko Rã’i - fortalecendo a sabedoria” (José Verá, 2021) revela a potência dos saberes guarani - Divulgação

O lançamento do livro “Nhemombaraete Reko Rã’i - fortalecendo a sabedoria” (José Verá, 2021) é fruto de um processo de três anos da equipe junto ao autor, e mais anos de processo do autor com seus desenhos. O livro revela a potência dos saberes guarani, sua atenção e sensibilidade, junto das tecnologias indígenas e ciências ambientais em constante desenvolvimento. 

“Território é Saúde”, e é preciso boa saúde para sentar e desenhar, escrever, pesquisar e contar histórias como faz José Verá, hoje com 71 anos de idade. Uma publicação como esta só é possível em função desta terra guarani estar demarcada. No caso da Terra Indígena Barra do Ouro, conhecida como Tekoa Yvyty Porã ou aldeia do “Campo Molhado”, a presença do modo de vida mbya na região é resultado da luta de retomada e autodemarcação que consolidou uma das maiores terras indígenas exclusivamente guarani demarcadas no estado do Rio Grande do Sul - luta que comemora em 2021 aproximados 30 anos. José Verá conta parte dessa história em seu texto ilustrado “Tekoa Nhuporã”, presente no livro.

Estamos presenciando diversas Retomadas ao longo deste vasto território mega diverso hoje ocupado pelo estado brasileiro. Caso siga em prática o plano por trás da tese do marco temporal e do PL-490, o cenário de perseguição só vai se intensificar contra os povos indígenas, a dignidade de seus saberes e os territórios que esses povos cuidam e protegem. As terras onde seu José vive e desenha já foram palco de atrocidades coloniais no século XX e, caso a área não tivesse passado pelo árduo processo de autodemarcação, nós hoje não teríamos um belo livro como este, fundamental para a compreensão de como defender a diversidade socioambiental.

Imagine: quantas outras vozes estão espalhadas pelos rincões e retomadas? Como sociedade urbana e rural, e enquanto pessoas não-indígenas, dependemos da pluralidade de vozes e expressões como a de José Verá no debate público para orientar futuros possíveis, tanto na área das artes como na educação ambiental, social, nas ciências humanas e exatas. Em defesa da saúde das matas e de um corpo coletivo, somamos voz ao grito das retomadas: Demarcação já! 

* Dani Eizirik é artista visual, parte do selo Riacho (@riacho.me) e da equipe de organização e projeto gráfico do livro “Nhemombaraete Reko Rã´i”. Atua em projetos culturais com olhar para diversidade socioambiental, através de desenho, documentário e animação.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko