Rio Grande do Sul

Literatura

Livro “O fio da memória” reforça a importância da ancestralidade para crianças

A obra de estreia de Fabiana Sasi busca ser um instrumento para visibilizar a tradição da cultura oral africana

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Livro de estreia de Fabiana Sasi, a obra apresenta uma configuração familiar matriarcal (avó, tia e neta) - Divulgação

Lançado na última terça-feira (21), “O fio da memória” é o livro de estreia de Fabiana Sasi como escritora. A obra conta a história de Lia, uma guriazinha bem “perguntadeira”, que se surpreende ao perceber que a jovem tia está começando a ficar grisalha. Em busca de respostas, Lia recorre à avó, e com a matriarca da família ela descobrirá o valor de cada fio branco como fonte de sabedoria e memórias preciosas.

A obra tem como objetivo, através da literatura infantil, ser um instrumento para visibilizar a tradição da cultura oral africana na transmissão de saberes e histórias. Através da valorização dos fios de cabelos brancos da personagem da avó pretende-se destacar a função social do ancião na cultura africana, reconhecendo elementos significativos tais como o tempo e a memória na construção de processos identitários de pessoas negras.

Radicada em Porto Alegre há 18 anos, Fabiana trouxe para o processo de escrita aspectos de sua trajetória profissional em televisão, publicidade e cinema. O projeto foi desenvolvido usando métodos bem semelhantes ao de um roteiro audiovisual. O texto narrativo foi sendo composto com uma linguagem muito próxima à espontaneidade presente na oralidade. Toda a história foi construída com um texto mais técnico e descritivo para as ilustrações, uma espécie de guia que traduza as imagens idealizadas para cada página do livro.

A intenção da autora era que a publicação pudesse ser enriquecida com uma série de elementos não verbais, coisas que pudessem avivar memórias comuns, gerando identificação com o público ou apresentando a muitos leitores aspectos da cultura afro-brasileira que sofreram apagamento ao longo do tempo.

As ilustrações de Sílvia do Canto foram desenvolvidas no encontro com esse universo particular da autora. “Pensei em convidar a Sílvia desde o início porque além de ilustradora ela também é ceramista. Eu a conheci assoprando o barro, produzindo ocarinas, instrumento musical de sopro feito de cerâmica”, recorda Fabiana.

Apesar do desafio de estrear como proponente cultural em meio à pandemia, Fabiana Sasi espera que esse feito possa encorajar outras mulheres a se sentirem capazes de exercer com protagonismo projetos que abarquem suas trajetórias, ousando participar de editais e outras políticas governamentais que estimulem o acesso a produtores iniciantes.


Projeto foi desenvolvido entre os meses de maio e setembro de 2021 / Divulgação

Sobre o livro

Assim como a história que apresenta uma configuração familiar matriarcal (avó, tia e neta), o projeto reforça a autonomia e importância feminina na sociedade com uma equipe majoritariamente composta por mulheres. Na coordenação de produção, Yara Baungarten traz sua experiência de 13 anos à frente da Imagina Conteúdo, empresa de produção cultural. A equipe técnica de audiodescrição, constituída por roteirista, consultora e revisora, traz respectivamente: Eva Motchi, Mariana Baierle e Ana Claudia Ferreira. Para a revisão textual, a bacharelanda em Letras na UFRGS, Laura Cravo Pedroso. E na locução da audiodescrição e edição de vídeo, Claudia Sempé, sócia-diretora da Videoarte Produções.

O projeto foi desenvolvido entre os meses de maio e setembro de 2021, com recursos da Lei Aldir Blanc, através do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas, uma parceria da Secretaria de Estado da Cultura com a Fundação Marcopolo. Em respeito às medidas de isolamento social para contenção da proliferação da covid-19, a execução foi realizada quase em sua totalidade por videoconferência e outros meios eletrônicos.

Ao acrescentar elementos da cultura negra, a obra busca reverenciar parte da lei nº 10.639/2003 que inclui o ensino de história, cultura afro-brasileira e africana no currículo das escolas brasileiras. O livro possui um pequeno glossário ilustrado contemplando as definições de termos presentes no texto como: Ori, Oxalá e Iroco, e destaca outras palavras da diáspora africana, faladas no Brasil.

Lançado em formato digital com acesso gratuito, a obra está a disposição na página da rede social do projeto (Instagram: @ofiodamemoria) desde o dia 21 de setembro. Para garantir a acessibilidade da obra às pessoas com deficiência visual ou auditiva, também será disponibilizado um vídeo com a contação da história, incluindo legendas e audiodescrição das ilustrações.

A produção de roteiro de audiodescrição foi realizada com uma equipe multidisciplinar sob a supervisão de Sid Schames, diretor do Som da Luz Tecnologias de Inclusão, uma empresa pioneira no formato de tecnologias de acessibilidade que tem como lema: “Tudo para Todos!”. O público geral e bibliotecas que possuam repositório digital também podem fazer a solicitação dos arquivos por correio eletrônico ([email protected]).

O livro terá uma pequena tiragem impressa, com 36 páginas coloridas, em formato de 20x20 cm, tendo 20% dos exemplares destinados a SEDAC/RS. A ideia é que a obra possa chegar em versão física a algumas bibliotecas públicas infantis do estado. O livro foi feito de forma totalmente independente, sendo editorado por Gilberto Menegaz, que atua há 26 anos como diretor da Imagens da Terra Editora. Os interessados em adquirir a versão física podem entrar em contato direto com a autora.


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Edição: Katia Marko