Rio Grande do Sul

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PCdoB elege primeira presidenta negra em seu 15º Congresso

Com a participação de 250 delegados, Conferência Municipal elegeu diretório com participação paritária

Porto Alegre | Brasil de Fato |
Duas mulheres negras de periferia assumem direção do PCdoB em Porto Alegre - Luiza Frasson

O Partido Comunista do Brasil, na sua conferência municipal de Porto Alegre como parte do 15º Congresso, elegeu pela primeira vez na história duas mulheres negras de periferia para a presidência e vice-presidência do Diretório Municipal: as vereadoras Bruna Rodrigues e Daiana Santos.

Como Secretário de Organização foi reconduzido o atual, Edson Puchalski. O pleno foi ampliado de 69 para 95 membros, dos quais 47 mulheres e 48 homens, proporcionalidade de 50 por cento que, de acordo com o ex-presidente Adalberto Frasson, é inédita entre as legendas da cidade. O mandato da nova direção é de dois anos, até 2022.

O PCdoB também inovou com um evento híbrido na capital gaúcha que, além de possibilitar o acompanhamento por videoconferência, criou outros dez pontos para que a militância pudesse se reunir, em pequenos grupos, no centro e em bairros da periferia, para acompanhar os debates. Ao todo, 250 delegados participaram do evento.


Conferência municipal híbrida contou com 250 participantes / Captura de tela

Nádia Campeão, secretária de Relações Institucionais e Políticas Públicas do PCdoB, representou a direção nacional do partido e apresentou as linhas gerais das teses do partido. Também estiveram presentes no ponto central da conferência a ex-deputada Manuela d’Ávila, as vereadoras Bruna Rodrigues e Daiana Santos, além de diversas lideranças políticas e dos movimentos sociais. O centro do evento ocorreu na sede do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa).

Trajetória de lutas

Logo após a eleição, a nova presidenta, Bruna Rodrigues, falou à conferência, destacando: “Aprendi a me colocar na política porque ouvi, no primeiro contato, que podíamos fazer uma política diferente. O PCdoB desconstrói a política tradicional e neste contexto, alça à presidência deste espaço político tão importante - na capital de um estado com tanto preconceito, machismo e racismo - duas mulheres que são a cara da desigualdade. Mas também é a prova de que a luta vale a pena, constrói um futuro diferente”.

Ela lembrou o primeiro contato que teve com o PCdoB, através de Manuela d’Ávila, há 16 anos, na Vila Cruzeiro, bairro da periferia marcado pela pobreza e a violência onde vive até hoje e se tornou importante liderança. “Eu era só uma menina que tinha largado a escola e estava lá sentada no cordão da calçada pensando em qual seria a perspectiva para a minha filha, que tinha seis meses. Hoje, ela tem 16 anos e sonha com o lugar que quer ocupar. Ainda tem muitas meninas sentadas na calçada de suas comunidades que a gente pode pegar na mão e trazer para o PCdoB.”

A vereadora Daiana Santos, por sua vez, declarou: “Este é um grande desafio, mas vamos encarar com a responsabilidade necessária para isso”. Ela acrescentou que “temos uma tarefa gigantesca de fazer a transformação, um a um, para superar essa violência na vida e na mesa do trabalhador e da trabalhadora e reduzir os impactos do que será esse pós-pandemia, que ainda não conseguimos nem mensurar”.

Ferramenta de luta do povo trabalhador

A ex-deputada Manuela d’Ávila homenageou os comunistas históricos presentes na conferência nas figuras dos ex-deputados estaduais Jussara Cony e Raul Carrion, e salientou: “Somos uma ferramenta de luta do povo trabalhador”. Ela também homenageou o presidente que esteve à frente do partido em Porto Alegre até hoje, Adalberto Frasson, classificando-o como “um construtor de unidades”.

Manuela destacou que a nova direção “conduzirá o nosso partido no seu centenário, num momento de muita dificuldade da nossa existência enquanto partido e atravessado por desafios imensos. Não subestimemos a dimensão da derrota de 2018. Não perdemos apenas uma eleição, mas muito mais do que isso”.

Ela colocou que aquela foi “uma derrota que é maior do que a existência de Bolsonaro. Porto Alegre, por exemplo, tem um bolsonarismo que prescinde de Bolsonaro, que não conta com ele e ao mesmo tempo é tão radical quanto ele. Na realidade, disse, “a extrema-direita se apresenta, agora, com um programa que sempre foi o seu, de privatização, destruição do Estado, retirada de direitos, mas se apresenta também sem vergonha de admitir que não é democrática. Porque esse papo de que capitalismo é democrático é tão fake news quanto o amor deles pela pátria. Nunca foi. Está aí a ditadura para provar. Vestem a roupa da democracia quando está valendo a pena”.

Manuela saudou as novas presidentas do partido e enfatizou: “essas duas jovens mulheres são talhadas para defender o que nós defendemos”. E completou, dirigindo-se a elas: “Vocês representam um sonho de uma pátria justa, soberana e socialista”.

Derrotar Bolsonaro, reconstruir o país, fortalecer o PCdoB

Ao tratar do panorama internacional, Nádia Campeão salientou que “o capitalismo de nossos dias é de crescente e brutal concentração nas mãos de poucos e exclusão da maioria, com desemprego, precarização, crise de refugiados, pobreza e miséria, um quadro de grave degradação humana e ambiental”. Esse contexto gerou ampla frustração das camadas populares, mas esse sentimento não foi canalizado para ações revolucionárias, desaguando numa onda antipolítica, antissistema e antidemocrática, levando à ascensão a extrema-direita com as eleições de Donald Trump e Bolsonaro, entre outros.

Sobre o contexto nacional, colocou que o governo Bolsonaro “produz múltiplas e profundas crises, que alcançam dimensões de catástrofes nacionais: as tragédias sanitária, ambiental, educacional, econômica e social”. Apesar disso, acrescentou, Bolsonaro cria outra narrativa que desconhece a realidade do país.

Nádia destacou que para enfrentar o atual momento, “precisamos reunir amplas forças em defesa do impeachment e da democracia, manifestações amplas a exemplo das Diretas Já, nos dias 2 de outubro e 15 de novembro, disputar nas redes sociais e organizar a luta popular em defesa da vida, contra a fome, a carestia e o desemprego”.

A conferência de Porto Alegre contou ainda com as intervenções do presidente estadual do PCdoB, Juliano Roso; do dirigente municipal Márcio Cabral e com as saudações do vereador Pedro Ruas (PSol), líder da oposição na Câmara Municipal; Giovani Culau e Vitória Cabreira, vereadores suplentes; Eliz Regina, dirigente da Unegro; Luelen Gemelli, presidenta da UBM-Porto Alegre; Guiomar Vidor, presidente da CTB-RS e Raul Carrion, presidente da Fundação Maurício Grabois no Rio Grande do Sul.

* Com informações de Priscilla Lobregate

 


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Edição: Katia Marko