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Projeto "Luta pela terra na Amazônia" resgata memória de quem sucumbiu resistindo no Pará

Live do BdFRS nesta quinta-feira (30), às 19h, apresenta o projeto do livro que terá artigos sobre mártires da terra

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Projeto recupera parte da saga dos defensores da reforma agrária, do meio ambiente e dos direitos humanos que foram assassinados no Pará - Reprodução

A Amazônia sofre historicamente com o avanço da exploração sobre o território e populações. O Pará é considerado o mais violento do país no que se refere a luta pela terra. Ao longo de décadas, foram muitos os militantes assassinados e chacinas promovidas. A fim de trazer à reflexão este cenário, está em produção o livro “Luta pela terra na Amazônia: mortos da luta pela! Vivos na luta pela terra!”, que recupera parte da saga dos defensores da reforma agrária, do meio ambiente e dos direitos humanos no estado localizado na Amazônia Legal.

Entre os casos de execuções de dirigentes sindicais, religiosos, advogados, a publicação busca reunir cerca de 16 trabalhos. Instituições, professores, familiares e amigos assinam artigos sobre os mártires da terra. O custo estimado do livro é de R$22 mil. Para viabilizar o projeto as instituições estão passando o chapéu através de uma vaquinha online (disponível neste link).

O livro iluminará ainda algumas chacinas, entre elas, os casos da Fazenda Ubá e da Fazenda Princesa, ocorridas na década de 1980. O Massacre de Eldorado, que se deu em 1996 e a execução do casal de extrativistas, José Cláudio e Maria do Espírito Santo, registrada nos anos 2000, são outros eventos contemplados no projeto.

Live de apresentação


Live de divulgação apresentação do projeto / Reprodução

Nesta quinta-feira (30), às 19h, o Brasil de Fato RS e a Rede Soberania promovem uma live apresentando o projeto. Os convidados são Charles Trocate (escritor, filósofo e militante político), Elias Diniz Sacramento (professor na Faculdade de História do Campus universitário do Tocantins/Cametá), Rosa Corrêa (advogada militante de Direitos Humanos e cantora), Rogerio Almeida (comunicador e professor do curso de Gestão Pública e Desenvolvimento Regional na Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA). A mediação é da editora do BdFRS Katia Marko.

:: Clique aqui para assistir ou para receber lembrete da live ::

O projeto é uma iniciativa conjunta do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, da Federação dos Trabalhadores e das Trabalhadoras na Agricultura do Pará (Fetagri), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos (SDDH), animada pelos professores Rogerio Almeida e Elias Sacramento, que estarão na live, e apoio do Brasil de Fato RS.

Avanço do capital, violência e impunidade

Os anos da década de 1980 foram os mais letais no Pará. Credita-se o fenômeno à criação da União Democrática Ruralista (UDR), o braço armado dos ruralistas, bem como ao avanço da fronteira do grande capital, a partir da efetivação de grandes projetos, a exemplo da frente de mineração, da pecuária extensiva e da construção de grandes obras, como a hidroelétrica de Tucuruí.

Os organizadores do projeto destacam que neste delicado cenário a violência é elemento estruturante no processo de integração subordinada da região. Bem como, a coerção pública (polícia) e privada (pistolagem), o manto da impunidade e a posição parcial do poder judiciário. E, ainda, a operação dos ruralistas arquitetada a partir de consórcios com vistas a eliminar os seus adversários.

Mártires da luta pela terra

Entre os mártires que terão suas histórias retratadas no projeto está “Gringo”, o Raimundo Ferreira Lima. Ele foi o primeiro dirigente sindical executado por pistoleiros na região, em maio de 1980, em São Geraldo do Araguaia, sudeste paraense. O militante somava apenas 43 anos. Além de sindicalista na região do Araguaia, Lima era agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

A principal suspeita pelo sequestro e execução do sindicalista, quando o mesmo retornava de evento em São Paulo, recai sobre o fazendeiro Neif Murad, relata uma das edições do boletim Grito da PA 150.

A publicação traz também a história do advogado Gabriel Pimenta. No dia 18 de julho de 1982, no final da convenção municipal do PMDB de Marabá, ao sair à rua, ele foi assassinado com três tiros de revólver, pelas costas, disparados a curta distância pelo pistoleiro José Crescêncio de Oliveira.

O jagunço foi contratado pelo chefe de pistolagem da região da época, José Pereira Nóbrega, o Marinheiro, sócio de Manoel Cardoso Neto, o Nelito. Gabriel Pimenta tombou sem vida aos 27 anos de idade. Pimenta era natural da Zona da Mata do estado de Minas Gerais, cidade de Juiz de Fora. Foi o terceiro entre os sete filhos homens de Geraldo Pimenta e D. Glória.

Outro caso que o projeto retoma é o de Dorothy, executada no dia 12 de fevereiro de 2005 no município de Anapu. O agricultor Amair Feijoli da Cunha, o “Tato”, intermediou a execução da missionária ao preço de R$ 50 mil.

Vitalmiro Bastos de Moura, o “Bida”, e Regivaldo Pereira Galvão, o “Taradão” foram os fazendeiros que chegaram ao banco dos réus pela encomenda da morte da religiosa. Como em outras partes do estado, as instituições que defendem a reforma agrária avaliam que os mesmos integram consórcio de fazendeiros que encomendam a execução de desafetos.

Outras histórias que estarão no livro são as dos dirigentes camponeses João Canuto, Expedito Ribeiro, Avelino Ribeiro, Benedito Alves Bandeira e Virgílio Serrão Sacramento; dos religiosos padre Josimo Moraes Tavares e irmã Adelaide Molinari; dos advogados Paulo Fonteles e João Batista.


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Edição: Marcelo Ferreira