Rio Grande do Sul

RACISMO

Após sofrerem ataque racista na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, vereadoras registram B.O.

Agressão às parlamentares por manifestantes antivacina aconteceu a um mês do Dia Nacional da Consciência Negra

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Após o registro do Boletim de Ocorrência, as vereadoras, acompanhadas de parlamentares e manifestantes, fizeram um ato em frente à delegacia - Foto: Bruno Mendes

“Tu é minha empregada (...) Eu sou linda, e eu sou loira. E tu é um lixo”. Foram com essas palavras, proferidas de forma descontrolada, que manifestantes antivacinas se dirigiram às vereadoras da bancada negra de Porto Alegre. O episódio aconteceu na sessão de ontem (20) da Câmara de Vereadores, quando vereadores se preparavam para votar o veto do prefeito Sebastião Melo (MDB) ao passaporte vacinal, obrigatório no estado. Os ataques racistas fizeram com que as vereadoras Bruna Rodrigues e Daiana Santos, ambas do PCdoB, juntamente com a vereadora Laura Sito (PT), registrassem um Boletim de Ocorrência, na manhã desta quinta-feira (21), na Delegacia de Combate à Intolerância. 

“É nítido que existe machismo e racismo no Rio Grande do Sul, mas a gente ter ataque direto à mim, à vereadora Bruna, à vereadora Laura, não pode deixar isso facilmente passar. Não podemos naturalizar esse tipo de relação, que é de uma enorme estupidez”, frisou a vereadora Daiana Santos, ao fazer o registro.

Segundo ela, as parlamentares fizeram o registro para provar que esse tipo de atitude não será aceita calada e impune. “Justamente por nós sabermos os nossos direitos. Esse foi um ato reprovável e que não fala somente de nós, fala de um conjunto de mulheres e homens que lutam há muito tempo por dignidade, respeito, pela vida, pela sobrevivência”, complementa. 

Bruna Rodrigues, companheira de bancada e de partido, destaca que uma das formas pelas quais o racismo se manifesta é questionando os espaços ocupados. “Quando mulheres negras, como eu, escutam que somos 'empregadas' de pessoas com o perfil dessa mulher que me insultou hoje - branca, "de bem", de família -, essa frase na verdade questiona a nossa capacidade de estar nestes espaços. É por isso que ter ouvido hoje que sou 'empregada' e que sou um lixo de alguém me indignou”, afirma a parlamentar.

Ela destacou ainda ter muito orgulho de já ter sido empregada doméstica. “Tenho muito orgulho de ser filha de gari. E tenho mais orgulho ainda de estar aqui representando estas mulheres, estas trabalhadoras! Isso não é motivo de vergonha para mim e para nenhuma trabalhadora desse ramo. Vergonha é ver que a Câmara ainda é um espaço onde o racismo, o machismo e o ódio ao nosso povo se perpetua”, critica.

Violência política bolsonarista


Os vereadores Karen Santos e Matheus Gomes, ambos do PSOL estiveram junto com as vereadoras / Foto: Lucas Leffa

"Essas falas expressam o quanto esse setor bolsonarista, negacionista movimenta o que há de pior na sociedade, que são pessoas com suásticas, pessoas que se sentiram à vontade para ser racista com parlamentares na Câmara, com muitas câmeras filmando", avalia a vereadora Laura Sito.

Para Laura, o episódio demonstra o grau de violência política que as vereadoras estão inseridas. "Por isso viemos fazer esse boletim de ocorrência, para que essas pessoas sejam responsabilizadas e para que nós consigamos combater esse tipo de violência na sociedade e defender para que não haja cerceamento da nossa atuação parlamentar.”

As vereadoras foram à delegacia acompanhadas por parlamentares da bancada de oposição: Karen Santos (PSOL), Pedro Ruas (PSOL), Matheus Gomes (PSOL), Jonas Reis (PT), Roberto Robaina (PSOL) e Leonel Radde (PT). Elas tiveram o apoio de dezenas de manifestantes da Frente Nacional Antirracista, da União de Negras e Negros Pela Igualdade (Unegro) e de outras entidades e manifestantes que após o registro do Boletim realizaram um ato simbólico antirracista no local. A ex-deputada Manuela D'Ávila também esteve presente na manifestação.

A votação na Câmara acabou por manter o veto do prefeito Melo ao passaporte. Contudo a medida não tem valor, pois o governo do estado, desde essa segunda-feira (18), determinou a exigência do documento para uma série de atividades em todo o território gaúcho.

Nota da Câmara de Vereadores

A Câmara de Vereadores de Porto Alegre emitiu uma nota oficial do caso nesta quinta-feira (21). Confira:

Em face dos acontecimentos ocorridos na tarde de hoje (20/10) nas dependências do Plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre, o presidente em exercício, vereador Idenir Cecchim (MDB), e a Mesa Diretora desta Casa repudiam com veemência qualquer tipo de manifestação política que utilize o expediente da violência. O plenário da Câmara Municipal é a expressão da democracia na Capital dos gaúchos e suas decisões são soberanas. Este Legislativo rejeita qualquer forma de intimidação contra seus integrantes.

Em hipótese alguma esta Câmara aceitará apologia à suástica, símbolo do período mais obscuro da história moderna da humanidade. Aqueles que buscam impor suas vontades pela força ou pelo terror nunca terão guarida nesta Casa. Pelo contrário, tais indivíduos serão submetidos ao rigor da lei e responsabilizados por seus atos.

Veja vídeos

Parlamentares registraram o tumulto e as agressões e publicaram em suas redes sociais. Assista:

 

 

 


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Edição: Marcelo Ferreira