A inflação e o desemprego se intensificaram na pandemia. No Rio Grande do Sul, organizações superam o abandono do Estado através de redes solidárias que reúnem movimentos sociais, entidades, igrejas, sindicatos, associações e quem mais estiver disposto a ajudar.
Articulada no Comitê Gaúcho de Emergência no Combate à Fome junto da Ação da Cidadania RS e do Consea RS, a Cáritas Regional do RS chega em dezenas de municípios do Interior através das dioceses. Segundo a assessora da entidade Roseli Pereira Dias, do início da pandemia até meados de abril de 2021, voluntários distribuíram cerca de 87 mil cestas básicas no estado.
Número que é ainda maior, já que as ações mais recentes ainda não foram contabilizadas. Como o caso da "Semana de Ativismo – Mutirão pela Vida de quem tem Fome", quando em muitas igrejas, durante as celebrações de Corpus Christi, os tradicionais tapetes ganharam versões feitas de alimentos e roupas doados, que chegaram a famílias em vulnerabilidade social.
“Uma ação muito significativa, nas 15 dioceses” e que “ajudou a reanimar a solidariedade”, afirma Roseli. Além das ações concretas, foram feitas lives para debater as causas da fome e também anunciar “as inúmeras iniciativas que enfrentam, de forma solidária e comunitária, este contexto desumano, que é a fome em nossas comunidades, cidades, país”.
Neste ano, tapetes de Corpus Christi ganharam versões feitas de doações / Foto: Divulgação Caritas-RS
Toda essa rede de solidariedade já ajudou famílias nos municípios de Santa Maria, Santo Ângelo, Porto Alegre, Canoas, Barra do Ribeiro, Capivari, Montenegro, Viamão, Maquiné, Veranópolis, Terra de Areia, Arroio dos Ratos, Caxias do Sul, Passo Fundo, Bagé e Pelotas, conta a assessora da Cáritas RS. “Especialmente a populações indígenas, catadores e famílias das ilhas da Grande Porto Alegre”, ressalta.
Ela também pontua que neste ano foram realizadas campanhas em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) na região de Porto Alegre. “Foram quase 250 cestas, voltadas para migrantes, famílias da periferia e comunidades indígenas”.
“Quem tem fome tem pressa”
A frase é de Herbert de Souza, o Betinho, que liderou um movimento em 1993 que resultou na criação da Ação da Cidadania. Desde então contribuiu no avanço de políticas públicas que tirou o Brasil do mapa da Fome da ONU, em 2014. Situação que mudou gravemente.
Melissa Bargmann, coordenadora da Ação da Cidadania RS, explica que, em 2020, a insegurança alimentar e a fome no Brasil retornaram aos patamares próximos aos de 2004, “com o alarmante índice de 19 milhões de pessoas em situação de fome no país”. Frente a isso, e com o início da pandemia, foi criado o Comitê Gaúcho de Emergência no Combate à Fome, que já auxiliou mais de 50 mil famílias no estado.
As ações se dão através de campanhas de arrecadações locais com doações de alimentos e em dinheiro, que foram revertidas em cestas básicas da agricultura familiar. Também com as Campanhas da Ação da Cidadania Nacional como Ação Contra o Corona, Brasil Sem Fome e Natal Sem Fome, que segundo Melissa, enviou sistematicamente cestas básicas para atender as famílias em situação de fome no Rio Grande do Sul.
“A distribuição pelo estado se dá através da Rede de Comitês locais da Ação da Cidadania que atendem suas cidades e região, podendo assim, atingir maior número de beneficiários. Os comitês estão localizados em Porto Alegre, Alvorada, Canoas, Lajeado, Caxias do Sul e Santa Maria”, explica.
Natal Sem Fome 2021
Voluntários grafitaram "quem tem fome tem pressa" no muro onde funcionou a Cozinha Solidária da Azenha até ser removida por reintegração de posse / Foto: Divulgação Ação da Cidadania RS
E as ações de solidariedade da Ação da Cidadania não param por aí. “Neste ano de 2021 já estamos iniciando com uma das maiores campanhas de arrecadação de alimentos da América Latina, o Natal Sem Fome”, divulga Melissa. As doações devem ser realizadas pela internet, na página oficial da iniciativa: www.natalsemfome.org.br.
A campanha Natal Sem Fome 2021 começou oficialmente no Rio Grande do Sul no último domingo (17). Foi feita ação de coleta de doações de alimentos não perecíveis, roda de conversa e um “grafitaço” na Praça Princesa Isabel, em Porto Alegre, junto à Cozinha Solidária da Azenha, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
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Edição: Katia Marko
