Rio Grande do Sul

Coluna

Primavera da Democracia

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Urna do Plebiscito Popular no Parque da Redenção recebeu o voto do ex-governador Olívio Dutra - Divulgação
A mobilização popular e o trabalho de base com formação são fundamentais neste momento histórico

Domingo, 24 de outubro, dia bonito, tomado pelo sol. Estamos no Brique da Redenção em Porto Alegre, cheio de gente, gazebo de pé, banca e urna organizadas, chamando os passantes para votarem no Plebiscito Popular das Privatizações, no último dia da jornada do Plebiscito.

Vou anunciando a votação e pedindo o voto para quem passa. Algumas-uns, várias-os, muitas-os param, ouvem e dizem: “Ah, eu sou contra total.” Digo: “Então, vai lá e vota! É rapidinho.” Poucas-os anunciam: “Sou a favor que vendam tudo!” Respondo: “É Plebiscito para ouvir a população. Cada um vota como quer e pensa.” Estas-es, em geral, não param para votar.

Pelas 11 horas, alguém para atrás de mim e fala: “Oi, Selvino, como estamos?” Me viro para ver quem me saúda. É ninguém mais que Olívio Dutra, que informa: “Hoje, é a primeira vez que saio de casa em meses. E acabei chegando aqui”. Olho. Ele está todo vestido de vermelho, de bermuda, capacete na cabeça. Veio de bicicleta da distante Avenida Assis Brasil, onde mora. Bem ao estilo e coragem de Olívio Dutra. Pergunto pela Judite. Responde que está se cuidando, em tratamento permanente. Pergunto se ele já votou no Plebiscito. Responde que não. Digo: “Então, aproveita e vota”.

E lá vai Olívio Dutra votar, para alegria de quem está cuidando da urna. Logo junta-se mais gente, pessoas querendo conversar e tirar foto com o sempre prefeito e governador.

É a Primavera da Democracia. Foi lindo o Plebiscito Popular. Emocionante a semana inteira, de 16 a 24 de outubro de 2021. E não estávamos em tempo de carnaval ou de eleição. Era um Plebiscito Popular rodando o Rio Grande, em municípios, sindicatos, comunidades, nas ruas.

Em todos os cantos, esquinas, vilas, escolas, ruelas das periferias, portas de fábrica, na frente das igrejas, antes e depois das missas e cultos, nos postos de saúde, hospitais, a militância presente e atuante, chamando o povo para se manifestar e dizer NÃO às absurdas privatizações, que entregam de bandeja os bens públicos que são de todos, como aconteceu semana passada com a SULGÁS, vendida a preço de banana, tendo um único interessado no leilão.

A militância voltou aos bons e melhores tempos. Parecia termos voltado aos anos 1970, quando, na Pastoral da Juventude, rodávamos o Rio Grande fazendo os Cursos de Base, a cada fim de semana em município diferente. E eram tempos em que greves eram proibidas, partidos de esquerda não eram legalizados e não havia Centrais Sindicais. Em plena ditadura!

Ou então termos voltado aos anos 1980, com a ANAMPOS, Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindical, juntando movimento sindical e popular para lutar por direitos e democracia e organizar trabalhadoras e trabalhadores. Ou ainda lembrando os anos 1990 no CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, discutindo o Desenvolvimento Regional e a Economia Solidária por todos os cantos do Rio Grande.

Ou ainda lembrando os felizes anos 2000, e rodando o Brasil inteiro em nome da equipe de educadoras-es populares do TALHER, e inventando a RECID, Rede de Educação Cidadã: ajudar a matar a fome de pão e saciar a sede de beleza. Na mão, na cabeça e no coração, a educação popular freireana libertadora e conscientizadora.

O Plebiscito Popular, junto com as mobilizações de rua, está sendo a volta do ser movimento, sem desprezar a instituição. Ir para a rua, ouvir, dialogar, olho no olho, retomar a relação da mística com a militância e a política, conversar sobre a urgência da mudança. Como diz Paulo Freire na Pedagogia da Indignação: juntar a denúncia, o anúncio, a profecia, o sonho, a utopia. Foi um Plebiscito freireano, em todos os sentidos, exatamente no ano do centenário de Paulo Freire.

A mobilização popular e o trabalho de base, com formação na ação, são fundamentais neste momento histórico e conjuntura desafiadora de VACINA NO BRAÇO, COMIDA NO PRATO, FORA BOLSONARO, JÁ! Não haverá eleição salvadora em 2022 sem o povo consciente e na rua, sem desobediência civil, sem militância acesa, e sem discussão de um projeto democrático e popular de país e de Nação.

Em 2021, apesar de tudo, na boa luta, ESPERANÇAR. A Primavera da Democracia está acontecendo e vai acontecer no próximo verão, também no outono, sem parar no inverno, até chegar a Primavera de 2022.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko