Agroecologia

Acervo de Ana Primavesi será disponibilizado ao público a partir de 2022 pela Unicamp

Publicações inéditas, livros e manuscritos serão disponibilizados pela Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Ana Maria Primavesi durante a II Feira Nacional da Reforma Agrária, em maio de 2017
Ana Maria Primavesi durante a II Feira Nacional da Reforma Agrária, em maio de 2017 - Foto: Júlia Dolce

Manuscritos, livros, textos inéditos, vídeos e slides de aulas históricas da engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi farão parte de um espaço dedicado à pesquisadora, a partir do ano que vem na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho (Bora) foi o lugar escolhido para disponibilização do acervo de um dos maiores nomes da agroecologia no mundo. Em quase 100 anos de vida, Primavesi se tornou referência no tema.

Nascida na Áustria, a engenheira agrônoma veio para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial. Ela já era formada e, nas décadas seguintes, atuou na Universidade Federal de Santa Maria. Participou ativamente da criação de entidades representativas, cultivou a terra ao longo de toda a vida e espalhou conhecimento.

A revolução que o pensamento de Primavesi representava era um contraponto a uma cultura crescente de uso de agrotóxicos, defensivos e outros químicos no solo. Antes mesmo de a ciência começar a entender os riscos que esses venenos trazem, ela já alertava para o problema.

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Ela também esteve muito próxima aos movimentos de luta pela terra e a favor da reforma agrária. Compartilhou conhecimentos com camponeses e camponesas, mas nunca de modo professoral e autoritário, sempre como parte de uma troca.

Amiga da professora por mais de 40 décadas, Maristela Simões do Carmo, também pesquisadora e docente aposentada da área de agronomia (Unesp e Unicamp), afirma que existia uma preocupação com a necessidade de "deixar um legado para os mais jovens".

Maristela aponta a importância da disponibilização do acervo para toda a população, de maneira totalmente gratuita, "Nos trabalhos da Ana, ela resgatou a importância dos camponeses. No conteúdo da obra dela, que é ciência pura, participa também o saber popular, de quem conhece a potencialidade e os limites dos seus sistemas de produção."

O material reunido está em processo de recuperação e deve começar a ser catalogado já no início do ano que vem. A intenção é abrir o acervo ao público a partir de oito de março, Dia Internacional da Mulher.

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Primavesi é a primeira pesquisadora mulher a receber espaço na Biblioteca de Obras Raras da Unicamp. Vanilde Esquerdo, professora da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp considera o acervo como parte das "sementes" deixadas por Ana Primavesi, que faleceu em janeiro de 2020.

 "Todo o conhecimento da professora Ana sempre foi compartilhado com todo mundo de uma forma muito simples. Ela falava de igual para igual com camponeses e camponesas. Quando esse espaço for inaugurado, qualquer pessoa vai poder ter esse acesso."

A conversa com as professoras Maristela e Vanilde foi transmitida na íntegra pelo programa Bem Viver. Para ouvir, clique no tocador de áudio abaixo:

Edição: Geisa Marques