Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Editorial | Militares, poder e fracasso

Neste novembro, o 132º aniversário da República inventada pelos marechais encontra os militares novamente no controle

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Ausência mais longa dos militares no poder ocorreu na redemocratização pós-1985, até Bolsonaro ser eleito - Marcos Correa

Uma das mentiras mais bem contadas aos brasileiros versa sobre o suposto conhecimento superior dos militares em relação aos problemas do país e sua não menos superior capacitação para enfrentá-los. É tão falso quanto uma nota de três reais.

Os militares mostram-se mais talentosos para tomar o poder. Foi assim desde o começo ao derrubarem o Império e proclamarem a República em 1889. Foi uma quartelada. Desde então, no decurso de quase toda a história brasileira, eles estiveram no poder. Ou estiveram conspirando para dele se apossarem. Sua ausência mais longa – mas não lamentada – ocorreu na redemocratização pós-1985.

Neste novembro, o 132º aniversário da República inventada pelos marechais encontra os militares novamente no controle. Coube a um deles, o general Eduardo Pazuello, alinhar suas tropas não para golpear um presidente civil, mas para enfrentar antagonista mais possante. Foi uma catástrofe. Seguindo as ordens do comandante Bolsonaro, Pazuello caiu de joelhos diante da covid-19 na mais retumbante derrota sofrida por um general brasileiro.

Durante a ditadura, em 1970, os generais encararam outro inimigo invisível: a meningite que assolou o Brasil, causando 2,5 mil mortes apenas em São Paulo. Doze por cento dos infectados morriam. Incapaz e atarantado, o regime impôs a censura total para esconder seu fracasso. Até os médicos estavam proibidos de falar que a doença existia. Mas a bactéria prosseguia circulando e matando. Somente em 1974, quando não era mais possível ocultar a tragédia, o assunto veio à tona.

São duas histórias interessantes para lembrar quando alguém elogiar a qualidade superior da gestão militar.

Edição: Ayrton Centeno