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COP26: "Governo Bolsonaro é claramente desacreditado, isolado e negacionista", diz Marina Silva

Ex-ministra do Meio Ambiente é a convidada desta semana do BdF Entrevista

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Ex-ministra do Meio Ambiente de 2003 a 2008, Marina Silva já disputou três eleições presidenciais e participará do debate público no próximo pleito - Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Marina "Sumida": "Por que escolhem uma mulher preta, de origem humilde, para dizer, decretar isso?"

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva é uma sumidade no tema pertinente à pasta que ocupou. Entre 2003 e 2008, comandou o ministério durante a gestão do ex-presidente Lula e esteve à frente dos maiores avanços ambientais do país. Quando analisa a situação brasileira sobre o tema, diferencia com nitidez o que é o governo Bolsonaro e sua política ambiental e o que acontece paralelamente no país, principalmente em relação à pesquisa e à proteção dos nossos biomas.
 
“O trilho do governo é claramente isolado, desacreditado, chantagista e negacionista, e assim levou ao aumento das emissões de CO2  em função do aumento do desmatamento e das queimadas”, reflete. 
 
“Agora, o Brasil do trilho da sociedade tem uma comunidade científica altamente relevante, uma sociedade civil mobilizada nos termos mais diferentes, segmentos e organizações da sociedade civil de alta credibilidade, instituições de pesquisa, movimentos de juventude, movimentos indígenas e até uma parte do empresariado consciente que está mobilizado e com alta credibilidade na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas )”, completa a ex-ministra.

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Após deixar o Partido dos Trabalhadores, em 2008, Silva disputou três eleições presidenciais, pelo PV (Partido Verde) e pela Rede Sustentabilidade, partido que ajudou a fundar. Apesar de ainda não se colocar como uma postulante à vaga do Executivo nas eleições de 2022, dá pistas de que não se ausentará do debate político no próximo pleito. 
 
“Eu estou disposta a participar de um debate em que a gente coloque, em primeiro lugar, qual é o pacto de sustentação para aquilo que eu chamo de uma proposta, um projeto de chão de futuro. Agora é um momento de debater um Brasil que faz um acerto de contas com esse passado do fisiologismo, da governabilidade na base do toma lá da cá, de se instalar no poder com um projeto de permanecer ad infinitum, desconsiderando a alternância de poder”.
 
Convidada desta semana no BdF Entrevista, Silva também fala sobre representatividade das mulheres e seu papel no movimento negro brasileiro.
 
“Eu não acho que eu esteja distante. Eu nasci e me criei na Amazônia, todos conhecem a minha luta em defesa da Amazônia, dos povos indígenas e eu costumo dizer que nas frentes de batalha, a gente é o arco e a flecha. Eu me sinto parte integrante da luta do movimento contra toda e qualquer forma de discriminação”.
 
Confira a entrevista na íntegra: 

 

 
Brasil de Fato: As metas apresentadas pelo Brasil na COP26 são as mesmas, e dependendo das contas em que se baseiam, são inferiores àquelas do acordo de Paris em 2015. Elas não foram recebidas com credibilidade pelas lideranças mundiais. Onde o Brasil está nesse momento no debate ambiental?
 
Marina Silva: Bem, o Brasil está no pior dos mundos. Mas chegamos na COP, na verdade, com o Brasil em dois trilhos: o trilho da sociedade e o trilho do governo Bolsonaro, para que a gente não venha a generalizar que o que está ali é o Brasil. A gente separa o Brasil do governo Bolsonaro.

 

No caso do trilho do governo é um governo claramente isolado, desacreditado, chantagista, negacionista, que levou ao aumento das emissões de CO2 em função do aumento do desmatamento e das queimadas
 

Elevou o aumento do desmatamento em plena pandemia, quando no mundo inteiro nós tivemos redução de emissão de gás carbônico na ordem de 7%, no Brasil nós tivemos um aumento da ordem de 9%, e isso em função do desmonte das políticas ambientais. O Brasil do governo é isso.
 
Agora, o Brasil do trilho da sociedade tem uma comunidade científica altamente relevante, uma sociedade civil mobilizada nos termos mais diferentes, segmentos e organizações da sociedade civil de alta credibilidade, instituições de pesquisa, movimentos de juventude, movimentos indígenas e até uma parte do empresariado consciente que está mobilizada e com alta credibilidade na COP. 

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O desmatamento, ministra, teve um aumento de 47% no governo Bolsonaro. Especialistas apontam para um risco muito sério de desertificação da Mata Atlântica e não me parece que vamos conseguir atingir os objetivos de redução e emissão de CO2 propostos ainda em 2015.
 
Na verdade, o governo tinha feito uma pedalada e estava com um compromisso de 43% de redução. Altamente pressionado pela opinião pública nacional e Internacional, o governo faz duas inflexões: a inflexão em relação a retomar a meta que foi feita durante a COP de Paris, a COP15 e quando o governo ali assume uma meta com base nos dados que serviam de linha de corte.
 
O governo Bolsonaro, agora, se quisesse fazer a diferença, teria que impor uma meta na ordem de 80% e não retomar aquela parte que foi feita em Paris, que já não era digamos tão elevada, como se estivesse fazendo grande coisa. 
 
Agora, tem um problema, ele não tem nenhuma credibilidade. O governo diz que vai reduzir até 2030 em 50%, mas não tem detalhamento da proposta, não tem um cronograma, o que vai acontecer até chegarmos em 2030. Portanto, o governo Bolsonaro se especializou em ganhar tempo para poder fazer mais desmatamento, essa é a verdade. 
 
É o Conselho da Amazônia, é a operação Verde para Sempre, toda hora ele faz uma pirotecnia, internacionalmente. Pressionado pelo governo dos Estados Unidos, ele foi obrigado também a assumir o compromisso em relação à redução de metano. 
 
Quando a gente discute a redução de poluentes, a gente sabe que isso tem um impacto direto, principalmente nos países em desenvolvimento. Uma redução nos Estados Unidos não é a mesma redução, e não afetará da mesma maneira, o Brasil. Como a senhora vê essa possibilidade, de que países em desenvolvimento também possam se comprometer com as metas?
 
Que todos os países precisam fazer dever de casa, isso é um consenso científico. Lá em cima, na atmosfera, não existe a diferença: essa é a emissão de países em desenvolvimento, essa é a emissão de países ricos, isso não tem diferença alguma. 
 
A diferença é que existem aqueles que têm emissões históricas e são grandes emissores no mundo desenvolvido, como a União Europeia, os Estados Unidos, todos esses países, e você tem os países emergentes de renda média, que entra aí o Brasil, África do Sul, a China, a Rússia e assim por diante.  
Em relação a esses países, eles têm condição de assumir compromissos. O Brasil, em função do plano que fizem os em 2003 e que foi implementado em 2004, foi o primeiro país a assumir metas voluntárias entre países em desenvolvimento, no âmbito da COP. Os países que podem fazer isso por si só, não dependem de ajuda de outros países.
 
Agora os países pobres da África, da Ásia e até da América Latina, eles precisarão de ajuda, por isso que houve esse debate dos US$ 100 bilhões para que se tenha ações de mitigação, ações de adaptação para o enfrentamento do problema das mudanças climáticas. 
 
Esse desembolso precisa ser feito para que eles não tenham que continuar resolvendo seus problemas econômicos, sociais, na mesma matriz econômica que está levando à destruição do planeta e que a gente sabe, não pode continuar. Os países ricos precisam fazer o dever de casa urgentemente.
 
Aproveitando o tema, há também uma expectativa do governo brasileiro entrar de vez no mercado de carbono. Mas aí temos questões importantes, como: para onde vai esse dinheiro e como o agronegócio e outros setores vão se aproveitar disso. É um tema complicado ainda, não é ministra? 
 
Na verdade, o crédito de carbono é um arranjo, uma arquitetura e possibilita mecanismos de compensação, que possibilita oportunidades econômicas para países que têm, digamos assim, cotas que podem ser vendidas, ou empresas de fazenda para fazenda, que tem crédito, na verdade, para poder vender esses créditos.
 
Isso não pode significar que, quem compra os créditos não cumpra o dever de casa, e isso seja uma espécie de pedalada em relação à questão das emissões. Isso não pode, essa conta tem que fechar no sentido de diminuir. Agora, quem defende o crédito de carbono nesse mercado, tem que defender também a taxação dos produtos carbono intensivo.
 
O governo fala de economia  verde, apenas fala, o ministro Guedes fica repetindo essas coisas e ele parece que não sabe nem o que está dizendo, mas quando você defende o crédito de carbono, você tem que concordar com a taxação dos produtos carbono intensivo. É isso que vai fazer, digamos, com que as empresas sejam obrigadas ou a reduzir suas emissões, ou até compensar essas emissões adquirindo o crédito de quem tem para vender. 
 
Os Estados Unidos e, principalmente, a União Europeia estão fechando um processo de taxação de produtos que geram emissão intensiva de carbono. Esses produtos terão dificuldades para entrar nesses mercados daqui para frente.

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Nara Lacerda: A gente também precisa falar da representatividade das mulheres na política, porque não tem como não aproveitar a presença da senhora aqui para falar sobre isso. É uma história de décadas na política, desde a década de 1980 atuando. Muita coisa avançou, mas esse avanço está num ritmo que não dá conta do recado. Como a senhora acha que está a representatividade das mulheres na política? Dá para avançar mais?
 
É uma representatividade gigante em qualidade, porém ainda muito aquém em quantidade. Nós somos mais da metade da população e temos uma representação na Câmara dos Deputados e no Senado que não condiz com essa qualidade e essa quantidade que nós temos na sociedade.
 
Quando a gente olha para os espaços que são ocupados, seja no Executivo, seja também no Judiciário, é muito pequena ainda a participação das mulheres em cargos de liderança, em processos que possam contribuir com tomadas de decisão.

A realidade tem mostrado o seguinte: nos países em que você tem no Congresso mais de 20% da presença de mulheres, existem mudanças que acontecem muito rápido em relação à melhoria de equipamentos voltados para o atendimento das mulheres, combate a determinadas formas de desigualdade e discriminação. 


No nosso caso, nós ainda temos mulheres que recebem 25, 27% a menos que um salário de um homem para fazer as mesmas atividades, com as mesmas competências, e isso são, digamos, coisas que a presença das mulheres na política tem ajudado a resolver, ou pelo menos a acelerar esses processos.
 
Eu tenho notado que essa campanha de 2022, quando você vê a lista dos nomes que estão sendo aferidos pelas pesquisas, você só tem homens e não têm mulheres. Há muito tempo que a gente não tinha uma situação como essa, a gente sempre tem tido a presença de mulheres no processo político, participando do debate de igual para igual.
 
É a primeira vez que a gente tem, não um retrocesso, eu diria uma regressão. Eu tenho me sentido muito incomodada com isso, até porque existem nomes de homens que nem estão dizendo que são candidatos e o nome deles está lá na pesquisa, mas não se coloca o nome das mulheres, esporadicamente, às vezes, coloca o nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS).
 
E nesse momento tão difícil da história do Brasil é interessante porque o mundo está mostrando que a liderança feminina tem sido de grande sucesso e relevância no enfrentamento de problemas complexos e difíceis. É só ver as melhores condições durante a pandemia.

Nós temos a finalização do mandato da primeira-ministra da Alemanha [Angela Merkel], de altíssimo sucesso em relação à condução da pandemia e as questões de natureza econômica.

A contribuição da mulher é fundamental neste momento de crise que a humanidade está atravessando. E, infelizmente, isso tem sido secundarizado no Brasil 


Nara Lacerda: Como a gente avança, ministra? Porque não é um problema só em relação à representatividade das mulheres, as pessoas pretas também passam por esse problema de falta de representatividade, e as mulheres pretas mais ainda. 
 
Esses segmentos que são minorizados - eu gostei desse termo, um dia desses num debate, uma companheira usou, ainda que seja uma maioria - eles são colocados na condição de minorias: são as mulheres e os pretos por exemplo. Esses segmentos têm uma luta muito vigorosa, muito forte hoje no mundo e é só ver o que aconteceu nos Estados Unidos e aqui no Brasil.
 
Essa agenda tem avançado de forma significativa, mas ainda não tem o seu correspondente do ponto de vista da representação política e nem dentro das próprias empresas. A gente já vê isso mudando um pouco, na visibilização desses segmentos, que eram invisibilizados, inclusive nas propagandas, a gente nota uma certa diferença. 
 
Agora, até chegar em mudanças estruturais, que leve a uma efetividade da diminuição da discriminação que acontece em relação às mulheres, em relação a pretos e pretas, e à própria população LGBTQIA+, e os indígenas nem se fala, esses segmentos hoje tem uma atuação muito forte, estão sendo responsáveis por muitas conquistas e uma mudança mesmo, no padrão civilizatório, em relação a como tratar esses temas.
 
É muito bom a gente prestar atenção que há também um recrudescimento das posturas preconceituosas, da violência contra esses segmentos, que em grande parte é estimulado pelo governo Bolsonaro e por sua base radical, fundamentalista. Mas eu concordo com você, são segmentos que historicamente foram privados de ter acesso aos espaços de poder, de tomada de decisão, e essa privação não é só política, cultural, como dizem os especialistas, ela é estrutural.
 
Tudo concorre no tecido econômico, social, cultural e institucional para que esses segmentos sejam secundarizados. A minha experiência, como você colocou, é interessante. Eu vivi, na minha juventude, situação de preconceito que só depois é que eu pude identificar aquilo como uma situação de preconceito, e a gente vai discutindo que a medida em que a consciência vai aumentando, o preconceito vai se sofisticando, vai se disfarçando, se camaleonizando, com todo o respeito aos camaleões.

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As pessoas ficam com essa história de "Marina sumida", e eu digo: “mas por que as pessoas não dizem que quem está sumido é o [Geraldo] Alckmin, quem está sumido é o [Fernando] Haddad, quem está sumido é o Aécio [Neves]?” E por que escolhem uma mulher preta, de origem humilde, para dizer, decretar isso? Porque é um decreto.

Eu estou aqui, falando todo dia de manhã, de tarde, de noite, mas esses grupos decidem decretar que você está sumida, que você só aparece de quatro em quatro anos, porque eles têm na cabeça o seguinte: se tem alguém que já é invisível, são os pretos, se tem alguém entre os pretos que é mais invisível ainda, são as mulheres.

Então decretar que essa mulher preta, de origem pobre, que se meteu na política, a pensar a partir disso, que ela não existe, que ela não está fazendo nada, é muito mais fácil, assim como foi mais fácil inaugurar a violência política contra mim em 2014.


LONGA TRAJETÓRIA: à esquerda, Marina Silva ao se formar em História em 1984; à direita, Marina em panfleto de campanha para deputada federal ao lado de Chico Mendes, em 1986 / Arquivo Pessoal

 
José Eduardo Bernardes: Ministra, queria seguir nesse tema. A senhora é uma mulher preta, a gente sabe da história bonita e cheia de degraus já contada tantas vezes, mas a senhora nunca conseguiu, efetivamente, se aproximar do movimento negro, das lutas dos coletivos negros. Há uma razão para essa distância? 
 
Eu não acho que eu esteja distante. Eu nasci e me criei na Amazônia, todos conhecem a minha luta em defesa da Amazônia, dos povos indígenas e eu costumo dizer que nas frentes de batalha, a gente é o arco e a flecha. Eu me sinto parte integrante da luta do movimento contra toda e qualquer forma de discriminação. 
 
Mas, em função de uma série de circunstâncias, pela realidade da minha própria existência, de ter nascido no meio da Amazônia, junto às populações tradicionais de extratores de látex, ter sido uma pessoa que se formou ali, na resistência dos povos da floresta, junto com Chico Mendes, esse sempre foi historicamente, digamos assim, como fala Djamila [Ribeiro], meu lugar de fala.



Agora, historicamente, sempre estive muito integrada à essa luta, assim como eu não acho que o movimento contra a discriminação racial está longe da luta ambiental. Eu gosto inclusive muito do debate que está sendo feito sobre racismo ambiental e que corretamente é feito em função do fato de que esses segmentos são os que vão sofrer as piores consequências e que estruturalmente recairão sobre eles os piores prejuízos.
 
Eu sei que é muito importante a luta do Frei Davi e sei que ele é solidário com a defesa da Amazônia, com a defesa dos povos indígenas, mas ele está numa frente de batalha e a gente está junto nessa luta, não me sinto nem longe, nem apartada, assim como eu também não considero que as pessoas que não estão diretamente ali, no front em defesa da Amazônia, estão apartadas dessa luta. 
 
A gente está integrado. Tem uma situação em que você ocupa o papel de arco, outra hora você é flecha e eu, até ocupo o papel de alvo em muitos momentos. Hoje mesmo eu participei de uma entrevista em relação à questão da anistia póstuma do Almirante Negro (João Cândido Felisberto), e foi um projeto de minha autoria, que foi até sancionado pelo presidente Lula e que agora o senador Paulo Paim apresentou o projeto para transformá-lo em um herói nacional.
 
Eu tinha apresentado o projeto do Chico Mendes como herói nacional. Veja que tem a ver com esses blocos, que acabam se retroalimentando. Eu costumo dizer que a gente é pontinhos gravitacionais, o importante é que a gente está conectado nos propósitos. Tem muitas formas de a gente estar, eu não me sinto apartada, em hipótese alguma.
 
Voltando a uma questão que a senhora levantou com a Nara, falando sobre como poucas mulheres estavam sendo citadas nas pesquisas eleitorais, a senhora será candidata em 2022? 
 
Essa é uma eleição muito particular, porque ela se dá num terreno altamente perigoso para um segundo mandato do presidente Jair Bolsonaro. Se tivéssemos tido um segundo mandato do [Donald] Trump, teria sido terrível para os Estados Unidos, no caso do Brasil, com certeza seria terrível um segundo mandato do Bolsonaro. 
 
Então, nós temos que colocar, em primeiro lugar, os interesses que são maiores do que nós: a defesa de uma educação de qualidade, do combate às desigualdades, da defesa da proteção sustentável do meio ambiente, da democracia. Enfim, é uma agenda que tem que se sobrepor à luta do poder pelo poder.
 
O que eu tenho dito é que eu estou disposta a participar de um debate em que a gente coloque, em primeiro lugar, qual é o pacto de sustentação para aquilo que eu chamo de uma proposta, um projeto de chão de futuro, que tem a ver com esses temas que eu acabei de mencionar. 
 
Porque não basta só colocar propostas, qual é o pacto de sustentação? O centrão deu um suporte de sustentação para todos os governos, após a reconquista da democracia, eles estavam com todos, e agora donos, mandando e desmandando no governo Bolsonaro. É esse pacto que vai continuar no Brasil, enterrando o Brasil, levando o Brasil para mais e mais retrocessos.
 
No meu entendimento, agora é um momento de debater um Brasil que faz um acerto de contas com esse passado do fisiologismo, da governabilidade na base do toma lá da cá, de se instalar no poder com um projeto de permanecer ad infinitum, desconsiderando a alternância de poder.
 
Eu defendo que, uma vez debatendo o Brasil, a gente verifique qual é o melhor nome para tornar este projeto vitorioso, que faça com que a gente não aprofunde mais esse Brasil cindido que está aí, que a gente não continue na mesma lógica da polarização pela polarização, e que a gente crie um processo de transição. 
 
Para mim, essa transição passa por ter alguém que está comprometido, inclusive, em acabar com a reeleição, fazer um mandato de quatro anos, trabalhar para aprovar uma reforma política, e dessa reforma política ter mandatos de cinco anos a partir de 2026. Quem assumir o poder não vai disputar eleição, para mim isso, sim, seria um pacto pelo Brasil sustentável, uma proposta sustentada em projeto de país e não em projeto de poder.
 
Nas pesquisas eleitorais que a gente tem por agora, no cenário que a gente tem por agora, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula estão à frente dos demais candidatos na disputa, com o ex-presidente Lula com uma vantagem considerável. A senhora tende a votar contra uma nova eleição de Jair Bolsonaro? Como a senhora se colocaria nesse pleito? 
 
Nós ainda estamos no primeiro turno e eu me coloco como um eleitor que tem consciência de que em uma eleição em dois turnos, você tem exatamente a possibilidade de construir aquilo que você acha que é melhor para o país. Então, nesse primeiro turno, o que eu tenho dito é: segundo turno, a gente discute no segundo turno. 
 
Agora, é o momento do sonho, momento do compromisso, é um momento de não se deixar levar pela repetição do passado e nem pelo congelamento perverso desse presente que nos destrói.

O Bolsonaro é o que há de pior, porque ele é antidemocrático e antiambientalista, ele é negacionista, ele é anti direitos humanos, anticivilização
 

O Brasil todo sabe o que significa mais um mandato de alguém que quer acabar com a própria ferramenta que o levou ao poder. Porque se fosse uma ditadura, não seria ele o presidente, seria um general, não seria um capitão. Ele quer destruir a própria democracia que o levou ao poder.
 
Agora, segundo turno, a gente discute no segundo turno. Eu quero construir um Brasil que reconhece os erros do passado, que é capaz de preservar as boas conquistas desse passado e apontar para um futuro que é construído no presente, a partir dos termos de referência que eu coloquei anteriormente, inclusive em uma discussão sobre qual é o pacto de sustentação, qual é a autocrítica que se faz dos erros que foram cometidos, que inclusive arou o terreno para florescer o que nós temos hoje, que é essa aberração chamada Bolsonaro.

Edição: Vinícius Segalla