Ceará

Reforma Agrária

Entrevista | "As feiras agroecológicas podem ser ferramentas importantes para combater a fome"

Dirigente do Movimento de Trabalhadoras Rurais Sem Terra – MST, fala sobre a importância das Feiras Agroecológicas

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte CE |

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Com o objetivo de oferecer a população urbana alimentos saudáveis, a Feira Cultural da Reforma Agrária retoma seu formato presencial em novembro. - Carmem Gabriele

Com o avanço do uso de agrotóxicos e da fome no Brasil, as feiras agroecológicas têm se tornado opções para as pessoas que querem consumir alimentos mais saudáveis e com o preço justo. Nesse sentido, o Brasil de Fato entrevistou Clarisse Rodrigues, dirigente do Movimento de Trabalhadoras Rurais Sem Terra – MST e integrante do setor de produção para falar sobre a importância das feiras agroecológicas, orgânicas e da Feira Cultural da Reforma Agrária, que retorna ao seu formato presencial a partir do dia 13 deste mês para a segurança alimentar da população. Vale lembrar que, como forma de evitar aglomerações, por conta da pandemia do coronavírus, algumas dessas feiras começaram a vender seus produtos de forma online e aos poucos elas estão retornando ao formato presencial.

Existe alguma diferença dos supermercado, feiras livres, feiras agroecológicas, feiras de produtos orgânicos e a própria Feira Cultural da Reforma Agrária?

Em linhas gerais existe uma diferença entre supermercados e as feiras. Tanto as feiras orgânicas como as feiras agroecológicas trazem consigo uma relação entre o produtor, seja ele camponês ou agricultor, com o comprador. Além disso, existe uma diferença notável entre os produtos que são encontrados nos supermercados e os produtos que são encontrados nas feiras, além da relação entre produtor-comprador ser diferente em ambos os espaços. Em relação a Feira Cultural da Reforma Agrária e as demais feiras, nossa feira é uma feira agroecológica, sendo mais ampla do que uma feira orgânica se assim fosse denominada. Então a Feira Cultural da Reforma Agrária para além de uma feira, ela traz todo um contexto político e discussão em torno da reforma agrária, para que assim possamos produzir alimentos saudáveis, diferente dos alimentos que compramos nos supermercados.

Nos supermercados temos notado a alta nos preços dos alimentos. Nas feiras, esses preços se aproximam dos valores dos produtos vendidos em supermercados?

Falando especificamente da Feira Cultural da Reforma Agrária, os valores são bem diferentes. Os produtos da Feira Cultural possuem valores distintos dos valores de supermercado, por exemplo, a carne, que atualmente se destaca como um dos alimentos mais caros, pode ser encontrado nas feiras com valores bem menores do que nos grandes supermercados, e além da carne outros alimentos também estão mais em conta como feijão e legumes.

Qual seria o motivo pelo qual os produtos da Feira Cultural da Reforma Agrária se encontram mais baratos do que o preço dos produtos dos supermercados?

Acreditamos que um dos possíveis motivos é o fato de não haver atravessador nessas vendas, são os próprios assentados que produzem e trazem seus produtos para vender nas feiras, não existindo um negociador no meio do processo, que geralmente é quando se aumentam esses preços. E também acreditamos no fato do produtor e assentado ver esse produto não só como produto que será vendido, como mercadoria, mas ver como alimento que vai beneficiar a outros e a sua própria família, reconhecendo que quanto mais barato o alimento melhor será para ambos os lados.

A propagação dessas feiras seria uma possível saída para amenizar, de alguma forma, o retorno da fome ao Brasil?

Acredito que as feiras sejam ferramentas importantes no combate a fome, mas a saída para esse cenário precisa ser mais ampla, a saída passa pela reforma agrária, passa pela distribuição de terras, passa por políticas públicas. Além disso, sabemos que a raiz de todos esses males que temos vivido é bem mais profunda, e as feiras por si só não seriam capazes de dar conta desse objetivo. Precisamos fazer uma grande movimentação para conseguirmos reverter esse cenário, mas as feiras podem ser utilizadas como forma de se comunicar com a sociedade e de serem utilizadas como ferramentas para isso.


A feira deve acontecer no dia 13 de novembro, a partir das 09h no Centro Frei Humberto / Carmem Gabriele

Sobre o Agronegócio, sabemos que os alimentos são produzidos com grande quantidade de agrotóxicos, o que traz graves consequências para quem consome. Qual seria a relação entre os agrotóxicos e a agroecologia?

A agroecologia e o agrotóxico são totalmente contrários. A agroecologia se apresenta exatamente como forma de combate ao agronegócio, a agroecologia é muito mais do que produzir sem agrotóxico, mas a produção com agrotóxico não é agroecológica. Enquanto o agronegócio só polui e acaba com grandes áreas de cultivo a agroecologia faz totalmente o inverso, preservando essas áreas de cultivo para que consigamos produzir alimentos saudáveis e de qualidade. Hoje, no Brasil, infelizmente temos travado grandes batalhas contra o agronegócio, temos visto o governo sendo conivente para a destruição de florestas em prol do aumento do agronegócio, visto que essa ação beneficia mais ao governo e aos grandes donos de empresas.

Você acredita que as pessoas estão mais interessadas pelos produtos agroecológicos hoje em dia?

Acredito que sim. Desde o ano passado notamos que houve um aumento no número de pessoas que presenciam a feira e que fazem pedidos pelo site. Então acredito que as pessoas passaram a procurar mais por alimentos agroecológicos dado a qualidade dos produtos vendidos em supermercados, que muitas das vezes perdem o sabor por conta da quantidade de agrotóxicos que são implementados durante sua produção.

Existe algum site que possua uma lista com as feiras agroecológicas para que as pessoas tenham conhecimento sobre onde as feiras acontecem?

No início da pandemia, a Secretaria de Desenvolvimento Agrário – SDA, desenvolveu uma lista de locais e sites de feiras agroecológicas da região metropolitana, mas também de municípios e regiões vizinhas. Agora, nós do Centro de Formação e Capacitação Frei Humberto e MST também possuímos um site para a compra de produtos agroecológicos e além disso, desde o início da pandemia iniciamos também com serviço de entrega dos alimentos à domicilio, dado que as pessoas passaram a fazer compras de forma virtual por conta das medidas de segurança.

Sobre esse site da Feira Cultural, ele ainda funciona para as pessoas realizarem suas compras online?

Sim. Mesmo com o retorno das feiras de forma presencial continuamos com o uso do site para a venda de nossos produtos. Existe ainda uma pequena parcela de pessoas que conheceu a feira durante a pandemia, de forma virtual, e por mais que esteja acontecendo o retorno das atividades presenciais avaliamos que é importante permanecermos de forma ativa no site, garantindo a venda para pessoas que moram um pouco mais distante de onde a feira acontece.

Os pedidos podem ser feitos em qualquer dia da semana e as entregas são feitas nas segundas, quartas e sextas. Durante a semana, os pedidos também podem ser feitos presencialmente, das 9 às 17h, no Centro Frei Humberto, localizado na Rua Paulo Firmeza - 445, São João do Tauape.

Para compras no site acesse: feira.centrofreihumberto.com.br

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Edição: Francisco Barbosa