Minas Gerais

DESMONTE

Zema poderia melhorar a Cemig, mas prefere destruir a empresa, afirmam especialistas

Com o objetivo de estimular o desenvolvimento de Minas a empresa foi criada em 1952, por Juscelino Kubistchek

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Governo fechou 50 bases operacionais em todas as regiões do estado - Benedito Maia

Desde o início de seu mandato, em 2019, o governador Romeu Zema tem promovido o desmonte da Cemig com a clara tentativa de antecipar a privatização da empresa. É o que defende o Sindieletro, sindicato que representa os trabalhadores da estatal. Entidade que apresentou diversas denúncias, advindas da categoria, para a Assembleia Legislativa de Minas, o que resultou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). 

A CPI está investigando os atos ilícitos da gestão do governador Romeu Zema. Para o Sindieletro, a estratégia é velha, a estratégia é velha, consiste em piorar os serviços aos consumidores na tentativa de mudar a opinião dos mineiros sobre a privatização.

Somente em três meses de 2021, lucro foi de R$ 1,332 bilhão, 136% maior que em 2020

As investigações em curso na CPI têm confirmado as denúncias levadas pelo Sindieletro à ALMG, inclusive de aparelhamento do partido Novo, ao qual pertence o governador Romeu Zema. São várias frentes para o desmonte da Cemig, entre elas, uma campanha de marketing mentirosa de Zema, que tenta depreciar a imagem da empresa e de seus trabalhadores, promovendo assédios individuais e coletivos permanentes, e ataques aos direitos contra a categoria eletricitária. Para diretoria da Cemig, privilégios; para os trabalhadores, demissões, fechamento de bases operacionais, entre outras.

Primeiro governador que tenta manchar a imagem da empresa que é patrimônio dos mineiros

O coordenador-geral do Sindieletro, Emerson Andrada, classifica como desmonte o que tem ocorrido na empresa. “Temos a Cemig como maior empresa do Estado e uma das maiores do Brasil e do mundo, mas, ainda assim, o governador trata esse patrimônio da sociedade mineira com desdém. O desmonte, passa pela questão trabalhista, de retirada de direitos, e passa pela gestão da Cemig voltada só para o mercado. Há desmonte em relação à própria empresa, ao mercado e aos consumidores quando o governador diz publicamente que a Cemig presta serviços de baixa qualidade, que há empresários e produtores rurais esperando até mais de um ano pela ligação de energia em suas novas propriedades, que a empresa é uma tragédia para o mercado”, aponta.

 Gestão não garantiu proteção suficiente para trabalhadores manterem o serviço na pandemia

O secretário-geral do Sindieletro, Jefferson Silva, reforça. “É o primeiro governador que tenta manchar a imagem da empresa. Em governos anteriores, independente do partido, a Cemig sempre foi tratada como a maior e mais importante empresa de Minas, mas Romeu Zema tenta diminuir a importância da estatal no discurso. Como pode ser ineficiente uma empresa que atende a todas as metas dos indicadores exigidos pelo marco regulatório do setor elétrico e gera lucros bilionários? Somente no segundo trimestre de 2021, a empresa teve lucro de 1,94 bilhão de reais, 80% maior que no mesmo período do ano anterior". 

Gestão Zema gera prejuízos aos consumidores

Em 2019, a gestão Zema na Cemig fechou cerca de 50 bases operacionais em todas as regiões do Estado, transferindo eletricistas para cidades polos. Essa medida distancia os trabalhadores dos consumidores para atendimento a serviços comerciais e de emergência, aumentando o tempo de deslocamento para atendimento à população. Já os trabalhadores são cobrados pela mesma produtividade com tempo maior de deslocamento e risco de acidente.

Ainda em 2019, foi desativada uma importante usina termoelétrica (Igarapé) no município de Francelino, região metropolitana de BH, fragilizando a geração de energia elétrica, sobretudo em períodos de secas, quando as barragens das usinas hidrelétricas não têm água suficiente para geração de energia elétrica. 

 Com Zema, bônus para diretores passou de 4% para 33% da remuneração

Com objetivo de reduzir custos, reestruturações internas ocorreram sem se preocupar com as consequências na relação com consumidor de energia elétrica. 

Na pandemia, os trabalhadores da Cemig assumiram o compromisso em manter a disponibilidade da energia elétrica, trabalhando para atender as necessidades dos consumidores. No entanto, a gestão da empresa não garantiu medidas de proteção que fossem suficientes para combater o contágio e propagação do coronavírus, mesmo tendo recurso para esse fim.

Privilégio para presidente e diretores

A gestão também é de privilégios para a diretoria e acionistas. O salário do presidente é de R$ 85 mil mais remuneração variável. O salário dos diretores, de R$ 67 mil, enquanto o salário inicial de carreira de um eletricista é de R$ 1.900,00. 

Os diretores também recebem remuneração variável. Segundo o economista Carlos Machado, do Dieese, com base em dados da própria Cemig, em 2019, primeiro ano do governo Zema, houve uma mudança na composição da remuneração da diretoria. Antes, 4% da remuneração global da diretoria era variável, mas a partir da gestão Zema essa remuneração (dada em forma de bônus) passou para 33% da remuneração global. De acordo com Machado, remunera-se bem os diretores, com bônus, para que eles cumpram o papel de reduzir as conquistas dos trabalhadores e garantir os interesses dos acionistas.  

 Atual gestão é financeirizada e os resultados passam pela redução de custos e conquistas dos trabalhadores

“A remuneração variável não é atrelada a resultados produtivos, mas de alinhamento entre interesses da diretoria e acionistas, em detrimento do interesse publico. A gestão é financeirizada e os resultados passam pela redução de custos e conquistas dos trabalhadores”, acrescenta o economista.

Jefferson Silva complementa que a previsão para este ano é que cada diretor receba, em média, R$ 500 mil de remuneração variável. 

Posição da Cemig e do governo

A reportagem procurou a Cemig e o governo do Estado para responder às denúncias e questionamentos do Sindieletro. A Cemig não respondeu e a Assessoria de Comunicação do governo retornou sem respostas aos questionamentos e denúncias. Segundo o governo de Estado, estudos estão sendo feitos para a venda de mais ativos da empresa, com o principal objetivo de ter foco total nos investimentos dos próximos anos. 

Cemig, empresa pública para desenvolver Minas

Criada em 1952, por Juscelino Kubistchek, com o objetivo de estimular o desenvolvimento de Minas e do Brasil, numa época que os apagões eram comuns, a holding Cemig é o segundo grupo de transmissão do país. Opera uma rede de quase 10 mil quilômetros. 

A Cemig é uma empresa pública, de economia mista e controlada pelo governo do Estado. Com o seu lucro, a Cemig garante repasse de bilhões de reais para o Estado de Minas, na distribuição de dividendos. Recursos da estatal para investimentos públicos. Entre 2011 e 2014, a Cemig lucrou R$ 12 bilhões. De 2007 a 2014, foram R$ 20 bilhões. 

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No quarto trimestre, o lucro auferido foi de R$ 1,332 bilhão, maior em 136% do que o lucro do mesmo período, em 2020.

A estatal é protagonista de vários projetos sociais, ambientais, culturais e esportivos, principalmente em municípios pequenos e junto a comunidades carentes de Minas. O status de empresa pública garante à Cemig condições de gerar emprego por meio de concurso público e serviços de qualidade. 

 

Edição: Elis Almeida