Ataque virulento

Bancada Negra da Câmara de Porto Alegre (RS) sofre ameaças de morte e ofensas racistas 

Parlamentares registraram as ameaças na Delegacia de Crimes Cibernéticos na capital gaúcha

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Acredita-se que o autor da ameaça faça parte de um grupo de ódio conhecido como Dogolachan - Foto: Lucas Leffa

Na terça-feira (7), as vereadoras Laura Sito (PT), Daiana Santos (PCdoB), Karen Santos e Matheus Gomes, ambos do PSOL, estiveram na Delegacia de Crimes Cibernéticos para denunciar ameaças de morte, especialmente direcionadas às vereadoras Karen e Daiana. Conforme destacam os parlamentares trata-se de um ataque sistemático que vem acontecendo pelo país. Destacam também que não é a primeira vez que isso acontece.

"Eu vou matar as vereadoras Karen e Daiana Santos" inicia o texto do e-mail, enviado aos membros da bancada. O email teria sido assinado por um homem branco, com as iniciais RWA, do Rio de Janeiro. De cunho machista, racista, homofóbico e lesbofóbico, o autor do texto diz que irá comprar uma pistola 9 mm no Morro do Engenho e uma passagem só de ida para Porto Alegre. 

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“Depois de meter uma bala na cara das duas e matar qualquer um que estiver junto com vocês, vou matar todos os vereadores que eu conseguir achar, botar fogo no prédio e meter uma bala na minha cabeça. Vocês duas e os outros simios da bancada negra de vereadores são macacos comunistas fedorentos”. O email segue depreciando os vereadores, tornando-se agressivo com a vereadora Daiana, por conta de sua orientação sexual. 

Acredita-se que o autor do e-mail faça parte de um grupo de ódio conhecido como Dogolachan, criado em 2013, e responsável por uma série de ameaças feitas em 2020. O grupo estaria envolvido em ameaças às vereadoras Duda Salabert (PDT), de Belo Horizonte, Caroline Dartora (PT), de Curitiba, Alisson Julio (Novo) e Ana Lúcia Martins (PT), ambos de Joinville. Assim como às deputadas federais Talíria Petrone (PSOL) e Carla Zambelli (PSL), a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL), o ex-deputado Jean Wyllys e a prefeita de Bauru, Suéllen Rosim (Patriota).

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Vereadores detalharam o episódio em suas redes sociais

Segundo ressaltou Karen Santos, o ataque sofrido pela bancada segue o mesmo padrão dos ataques a outras parlamentares negras como Talíria Petrone e Ana Lúcia Martins, e parlamentares LGBTQIA+ como Jean Wyllys e Duda Salabert, e que remete ao caso de Marielle Franco. “É o aprofundamento da escalada da violência política, sobretudo contra parlamentares negras, que não ocorre de forma isolada. É praticada por grupos organizados da extrema-direita que tentam se esconder através da internet e que são articulados pra agir na tentativa de intimidar quem denuncia e busca uma saída para os problemas do país. Essas ameaças são muito graves e precisam ser investigadas a fundo. Os responsáveis devem ser identificados imediatamente”, afirmou. 

Companheiro de partido e de bancada, o vereador Matheus Gomes frisou que é a oitava vez que a Bancada Negra vai à Delegacia, em Porto Alegre. “Dessa vez, a ameaça é semelhante com outras já feitas a parlamentares negras e LGBTQIA+ no Brasil. Isso é sinal de que os grupos de ódio seguem livres e impunes na internet. Exigimos investigação e punição.” Conforme apontou o parlamentar, a pessoa por trás dessa ameaça já teria ameaçado outro parlamentares pelo país. “Não irão nos intimidar e nem impedir nosso exercício parlamentar. À Polícia Civil pedimos celeridade na investigação e punição aos responsáveis! Ao movimento social negro e popular, aumentemos o nosso alerta e cuidados, é hora de auto-organização e auto-defesa contra o fascismo”, afirmou Matheus. 


"Nós não as abandonaremos, Laura, Daiana e Karen", afirma nota do Levante Feminista Contra o Feminicídio do RS" / Foto: Lucas Leffa

Na saída da Delegacia, a vereadora Laura Sito frisou que a bancada não vai silenciar frente ao crescente ódio e intolerância que toma conta do país. Segundo ela, esses ataques tem como objetivo cercear a participação dos vereadores negros, negras, LGBTs pelo país afora. “Queremos providências das instituições na identificação e punição desses autores. Não queremos mártires, queremos estar vivos para lutar em defesa do Brasil, em defesa de uma sociedade com justiça e igualdade”, afirmou. 

De acordo com a vereadora Daiana Santos essa ameaça é diferente das outras, pois constam detalhes muito específicos na rotina da Câmara, e da sua vida pessoal, cujo teor consiste de cunhos racistas e lesbofóbicos. “Venho aqui trazer à tona esse absurdo, dessa violência sofrida. Não aceitarei isso de forma silenciada. Quando relatam fatos da minha vida pessoal, como minha orientação, não posso fazer com que isso seja o tom de tudo aquilo que construí. Racismo é crime, lesbofobia é crime. Não podem ser tratados assim aqueles que lutam pelos direitos humanos, pela condição da dignidade, da vida. Eu não sou só um corpo LGBTQI+, não só uma mulher negra, favelada, periférica como foi relatada na ameaça”, enfatizou. 


Ameaças de morte seguem padrão de outros ataques à personalidades políticas / Foto: Bruno Mendes

“Nossa chegada na Câmara de Vereadores de Porto Alegre foi sentida de forma diferente por uma parcela da cidade. Se, para o movimento negro e o povo mais periférico da cidade é um avanço, para o setor mais conservador e elitista é uma afronta aos espaços que são seus por tradição”, destaca a vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB), também integrante da Bancada Negra. Em agenda externa, Bruna, que não pode ir juntamente com a bancada à Delegacia, reforça que as ameaças de morte recebidas pelos vereadores da Bancada Negra demonstram o quão urgente é a resistência na política. 

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“O racismo estrutural impede a agilidade de nossa segurança, a Câmara de Vereadores deveria ser altiva na manutenção de nossa segurança, mas não é porque relativiza o racismo, e o tanto violento que ele é. Mas a mensagem que fica é: qual a responsabilidade de cada um, e cada uma de nós, negros e não negros?” indaga a parlamentar em manifesto publicado na tarde desta terça-feira.

Pelas redes sociais lideranças políticas, de movimentos sociais compartilharam as denúncias e prestaram solidariedade à bancada negra. 


  

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko