Rio Grande do Sul

Tragédia

Júri condena os quatro acusados pelo incêndio na boate Kiss

Julgamento durou 10 dias e distribuiu penas entre 18 e 22 anos em regime fechado

Brasil de Fato | Santa Maria |
Enquanto Orlando Facchin Neto lia a decisão, os parentes das vítimas e os sobreviventes da tragédia deram-se as mãos e formaram uma corrente - Foto: Juliano Verardi/Imprensa TJRS

Depois de uma batalha judicial de quase nove anos, os quatro acusados pelo incêndio da boate Kiss, em Santa Maria/RS, e que matou 242 pessoas e provocou ferimentos em mais de 600, foram condenados pelo tribunal do júri. São eles Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann, Luciano Bonilha e Marcelo de Jesus. A sentença foi anunciada pelo juiz Orlando Facchin Neto no final da tarde desta sexta-feira (10) em Porto Alegre, quando se encerrou o mais longo julgamento da história judiciária do Rio Grande do Sul.

Elissandro Callegaro Spohr, sócio da boate, foi condenado à pena de 22 anos e seis meses de prisão. Outro sócio, Mauro Londero Hoffmann, recebeu 19 anos e seis meses. Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira, cumprirá 18 anos, mesma pena atribuída a Luciano Bonilha Leão, auxiliar da banda. O júri entendeu que houve dolo eventual. Os réus teriam, mesmo sem desejarem o resultado, assumido o risco de matar.

Regime fechado

Todos foram condenados ao regime fechado. O juiz pediu a prisão imediata dos quatro. Porém, diante de um habeas corpus preventivo impetrado e concedido em favor de Elissandro Spohr, resolveu suspender a execução da sentença para todos.

Enquanto Orlando Facchin Neto lia a decisão, os parentes das vítimas e os sobreviventes da tragédia deram-se as mãos e formaram uma corrente. Muitos choravam. O juiz comentou que a dor dos familiares nunca poderia ser naturalizada e que a experiência vivida pelos que sobreviveram e pelas famílias que perderam filhos e filhas ganhou uma dimensão coletiva. 

Momentos de tensão

Durante os dez dias que durou o julgamento, houve muitos momentos de tensão envolvendo os réus, testemunhas, advogados de defesa e as famílias. Um dos acusados, Bonilha, foi chamado de “assassino”, sentiu-se mal e teve que receber atendimento médico. Houve atritos entre um dos depoentes e o advogado Jean Severo, que defendeu Bonilha. As intervenções insistentes de Severo – que também aborreceu os familiares das vítimas – levaram o juiz a ameaçar retirá-lo do recinto, caso continuasse com seu comportamento. 

Irritação e protesto

Também houve irritação dos sobreviventes e pais das vítimas durante o depoimento do ex-prefeito de Santa Maria, César Schirmer. Ele acusou a Polícia Civil e a imprensa de tentarem condená-lo. Em sinal de protesto, durante sua fala, os familiares das vítimas deram-lhe as costas, retirando-se da sala.

Para o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Flávio Silva, a condenação é motivo de satisfação, mas a batalha ainda não terminou. Condenados em primeira instância, os réus podem recorrer da punição.

O incêndio na boate aconteceu na madrugada de 27 de janeiro de 2013. Pela quantidade de vítimas fatais e de feridos é considerada a terceira maior tragédia em casas noturnas no mundo.

 


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Edição: Ayrton Centeno