Rio Grande do Sul

Coluna

O acordo militar com o Estado de Israel é uma traição ao povo brasileiro

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Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e o Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante assinatura de acordos., em 31 de março de 2019 - Foto: Alan Santos/PR
É preciso fazer todo o esforço necessário para barrar esse projeto colonialista no Senado

A tarde de quinta-feira, 9 de dezembro de 2021, marca um dia de luto e traição ao povo brasileiro. Por 300 votos a favor, uma abstenção e 60 contrários, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Decreto Legislativo 228/2021, a versão continuada da MSC 371/2019, que autoriza o acordo e convênio militar e policial entre o Brasil e a entidade sionista. Como já escrevemos anteriormente, o texto foi assinado pelo capitão de artilharia quase expulso do Exército Brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, e o acusado de corrupção e crime de lesa humanidade, ex-premiê do Estado do Apartheid na Palestina Ocupada, Benjamin Netanyahu. A data também é emblemática, pois a assinatura foi em 31 de março, um dia antes do golpe de 1964, que derrubou o então presidente constitucional João Goulart. O local da trama igualmente representativo, na Al Quds ocupada pelos invasores europeus, dentro da mesma cruzada sionista de instalar as representações diplomáticas na cidade que teria de ser – no mínimo – internacional e patrimônio da humanidade e não da força invasora.

O proponente traz em si mesmo a síntese da caricatura com o absurdo. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, aquele a quem o vice-presidente apelidou de “Bananinha”, comemora em sua rede social a “vitória de Israel”. Surpreende como o “Duda” conseguiu se formar em direito na UFRJ, pois erra conceitos de Política 1, matéria de primeiro semestre. No texto em que celebra o avanço de mais um passo dos colonialistas no Brasil, afirma que “Após aprovado na CREDN, agora também foi referendado no plenário da Câmara o ACORDO DE DEFESA BRASIL-ISRAEL, vencida a extrema esquerda (PT, PSOL e PCdoB).”

A bancada dos partidos mais à esquerda de fato votou pela segurança do povo brasileiro e contra a opressão às famílias palestinas, mas uma representação parlamentar de qualquer matiz socialista está longe de ser “extrema esquerda”. A estupidez do clã Bolsonaro caminha junto com a covardia em plenário das oligarquias políticas. PSB, REDE, PV e Cidadania liberaram o voto – já o PDT se colocou favorável ao acordo. Se esta parcela dos “progressistas” não se posiciona frente a crimes de lesa humanidade, contra o que irão se indignar?!

A reação imediata da Federação Palestina

O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, na mesma tarde do dia 9 de dezembro de 2021, comenta a absurda votação:

O acordo foi defendido com o uso covarde de “Deus”, mas de um Deus falso e étnico que manda matar, exilar, torturar, roubar, porque sabem que não podem defender Israel frente que é de crime de lesa humanidade desse regime de Apartheid que ocupa ilegalmente a Palestina. Os que defenderam esse acordo são os mesmos que trouxeram ao Brasil, recentemente, a deputada alemã Beatrix Von Storch, acusada de ser a continuadora do nazismo na Alemanha e que, casualmente, também defende Israel e seus crimes na Palestina. Isso não é mera coincidência. Este acordo fará do Brasil um cúmplice da máquina de guerra israelense, que assassina o povo palestino e sustenta esse regime de Apartheid”.

Ualid também nos faz lembrar que os crimes da entidade sionista implicam, apenas neste ano de 2021, no assassinato de centenas de palestinos desarmados – incluindo jovens, mulheres e crianças –, além da profanação de mesquitas e igrejas. O acordo implica na compra de material bélico, sistemas de armas, munições letais e “não letais”. Toda essa indústria da morte vem sendo amplamente testada em população indefesa e condenada de antemão por um racismo estrutural. Qualquer semelhança com as chacinas ocorridas no estado do Rio de Janeiro, também neste ano de 2021, não são nenhuma coincidência.

Como ressalta o presidente da Federação Palestina, tampouco as relações entre a extrema direita (herança maldita do nazismo) e o apoio incondicional aos invasores da Palestina formam um acaso. No Chile, o advogado e candidato presidencial pinochetista, José Antonio Kast, também irmão de um Chicago Boy e ex-ministro de Pinochet, é filho de um membro do Partido Nazista. Kast sempre negou essa evidência histórica, mas documentos revelados a 11 dias do segundo turno chileno comprovam o que todos já sabíamos.

Kast não só dizia que seu pai era apenas um recruta, como também visitou o Estado de Israel em 2008, a convite da entidade sionista. No último dia 25 de outubro, o pinochetista raiz reafirmou a mentira dizendo que“Isso me irrita, pois a história de nossa família é a mais distante que se possa imaginar do nazismo”.

Tem mais “coincidência” na história do século XX. O comando aliado na Segunda Guerra mundial considerava o austríaco Otto Skorzeny, membro de uma ala da SS responsável diretamente pela segurança do fuhrer e também líder de operações especiais, como o “homem mais perigoso da Europa”. O nazista veio a ser perdoado pela justiça de guerra dos EUA e, junto do ex-ministro da Economia do Reich, auxilia a renascente indústria alemã dentro da Espanha, liderada pelo fascista Francisco Franco. Além da CIA, o Mossad comuta sua pena, o perdoa e faz um acordo de colaboração de modo a não permitir que ex-cientistas alemães – todos igualmente suspeitos de filiação nazista – colaborem no programa de mísseis balísticos do Egito. O vale tudo do Apartheid sionista dá certo, e o carrasco morre de câncer e não de pena de morte. Seu velório na Espanha é um desfile da falange, e o enterro na Áustria é um show de horrores, com a OTAN permitindo saudação nazista em plena luz do dia e em um “país democrático”.

Ou seja, a posição tanto da chamada bancada da bala brasileira, como dos fariseus do neopentecostalismo sionista vão ao encontro desta reabilitação da extrema direita, incluindo o flerte com o neonazismo – contanto que mantenham essa celeuma de guerra cultural e ocupação colonial de nossos territórios de origem.

Uma urgente mobilização contrária

Definitivamente, o inimigo se instalou como força política dentro do território brasileiro. A presença árabe no país tem mais de 130 anos, mas ainda assim refletimos em nossas fragilidades políticas contradições de nossa posição étnico-racial (somos socialmente brancos e de classe média para cima) que não se refletem em aliança direta com a defesa do Bilad al-Sham. A causa da libertação árabe e palestina está garantida como majoritária e hegemônica nas esquerdas, mas não consegue se impor na sociedade brasileira se não confrontarmos os fariseus que defendem esse “Deus étnico” do Velho Testamento, que reproduz no Brasil as aberrações ideológicas da extrema direita republicana dos Estados Unidos da América.

É preciso fazer todo o esforço necessário para barrar esse projeto colonialista no Senado, mas a tarefa urgente é produzir uma força permanente de poder político à altura dos 16 milhões de árabe-brasileiros que somos. Esta é a força com potencial para derrotar os apoiadores do Apartheid aqui e que ameaçam nossos países de origem na terra ancestral. A tarefa imediata é analisar detalhadamente a penetração do aparelho de segurança israelense dentro das forças policiais e de inteligência do Brasil, denunciar esta presença e expurgar este mal através de todos os recursos da luta política, comunicacional e jurídica.

* Este artigo foi originalmente publicado no portal Monitor do Oriente Médio

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** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko