Rio Grande do Sul

Artes Plásticas

Mostra “Paisagem sem volta” com estreia neste domingo questiona momento atual

André Venzon abre primeira exposição do V744atelier, como artista convidado, ao lado do fotógrafo Igor Sperotto

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Em “Paisagem sem volta” André Venzon expõe uma coleção de dezenas de imagens do seu objeto principal de documentação visual, o tapume, e os aproxima dos hotéis de Igor Sperotto - Foto: Igor Sperotto

Por meio de coleções de imagens marcadas pela impermanência, André Venzon abre primeira exposição do V744atelier, como artista convidado, ao lado do fotógrafo Igor Sperotto, para um diálogo visual entre tapumes e hotéis. Exposição inaugura neste domingo (19), às 17h, dando continuidade à aspiração de ser um lugar para criar, expor, divulgar e fruir arte contemporânea. O evento tem entrada franca.

Com o projeto “Eu convido que convida”, Vilma Sonaglio, idealizadora do recém-inaugurado espaço cultural, convida um artista que convida outro artista para compartilhar do mesmo espaço expositivo, aproximando conceitos e práticas. Abrindo esta nova forma de apresentação artística, a mostra intitulada “Paisagem sem volta” destaca a obra do artista visual André Venzon que convida o fotógrafo Igor Sperotto para para um diálogo por meio da fotografia sobre o momento atual de incertezas e mudanças, aspectos inerentes à produção de ambos artistas.

Segundo Venzon, o marco inicial de sua pesquisa, na qual percorre a memória de seu processo artístico, é o ano de 2005, quando desenvolveu, em parceria com Igor Sperotto, no âmbito do seu trabalho de conclusão do curso de Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS, a série de fotografias intitulada “Cidade sem face”. Ainda de forma empírica, observava a paisagem urbana e lugares de Porto Alegre que se modificavam sem a aparente atenção da população.

Em “Paisagem sem volta” André Venzon expõe uma coleção de dezenas de imagens do seu objeto principal de documentação visual, o tapume, e os aproxima dos hotéis de Igor Sperotto. Os dois artistas têm como principal característica observar a transitoriedade da realidade urbana. Estes elementos arquitetônicos, os tapumes, são fundamentais para o artista compreender as relações entre mundo, corpo e objeto. “O tapume nas fachadas de prédios, no centro da cidade, obstruindo estradas e protegendo o lugar, aos poucos se transforma no material que André Venzon reveste sua pele, sua identidade e constrói seus questionamentos sobre vulnerabilidade, singularidade, poder e imantação”, observa o dramaturgo, curador e artista visual Nicolas Beidacki.

“Os tapumes ocultam e revelam os lugares, a cidade e nós mesmos, funcionando como um espelho de uma sociedade dessensibilizada. Trazer esse material para participar do universo simbólico da arte está além de pensar o que está atrás desse elemento, mas o que está à sua frente. Nossa capacidade de transcendê-lo é o que o autoriza também como objeto da pesquisa”, comenta Venzon.

No dia da abertura será realizada uma performance processional, quando um corpo totalmente revestido com uma roupa com textura de tapume (Zentai) sairá do ateliê do artista (16h30min) percorrendo um caminho no bairro até o espaço V744, abrindo então, às 17h, a exposição para o público visitante.

Hotéis no Exílio

O trabalho “Hotéis no Exílio” surgiu dos sentimentos que se tem ao sair do espectro de espaços e deslocamentos de uma rotina. O viajar e não estar no "seu chão". “Mas e quando o porto onde vamos ancorar o nosso barco também parece desejar estar em outro lugar, assim como acontece no Hotel Paris na cidade de Rio Grande, no Hotel Uruguai em Porto Alegre, no Hotel Bucareste em São Paulo e no Hotel Madagascar em Tóquio?”, questiona o artista. “Há um aparente deslocamento duplo, um conflito entre alma e materialidade. O não-lugar, o hotel, que é referência de estadia em uma cidade indica em seu nome o desejo de estar em outra. O corpo está aqui, mas seu coração e suas raízes, não”, pondera.

A mostra conta com fotografias de hotéis de Porto Alegre com essa característica, apresentadas em formato de cartões postais. Os visitantes poderão adquirir os postais como forma de souvenir e lembrança da viagem pela exposição. O deslocamento do observador pode ser ampliado por meio da leitura de um QR code, impresso no verso dos postais, que leva a um site com informações auxiliares e elementos que dizem respeito aos estudos, divagações visuais e pesquisas para o projeto.

Em outro espaço da exposição, há uma fotografia em backlight. É o Hotel Minuano, representando a efemeridade desses não-lugares, a solidão e os pensamentos que se vão com o vento (é o vento que passa ou somos nós que passamos por ele?), a dicotomia entre o sonho dos letreiros luminosos e a dureza da vida na cidade, com seus barulhos, placas luminosas, trânsito e pressa.

Por fim, as localizações dos hotéis dialogam com o trabalho do artista André Venzon em um mapa da região, que demarca, também, o trajeto de um passeio entre o ateliê do artista e o V744atelier. 

“Paisagem sem volta” fica em cartaz até dia 25 de fevereiro, com visitação de quarta a sexta-feira, das 14h às 17h. Haverá o recesso de fim de ano de 23/12 até 06/01. 

O  V744 Atelier está localizado na Rua Visconde do Rio Branco, 744, Bairro Floresta, Porto Alegre. 

Uso obrigatório de máscara e álcool em gel à disposição, assim como orientação para 2m de distância entre as pessoas. 

Sobre André Venzon

André Venzon (Porto Alegre/RS, 1976) participa ativamente da cena artística-cultural contemporânea. Concluiu o curso de Artes Visuais na UFRGS, onde também realizou mestrado em Poéticas Visuais. Desde 1996 dedica-se ao seu ateliê localizado no 4° Distrito, onde reside, em Porto Alegre. Além de diversas exposições em Museus e Centros Culturais, vem desenvolvendo também atividades na área de gestão cultural e curadoria. Já representou o segmento de artes visuais no Conselho Estadual de Cultura do RS, presidiu a Associação Rio-Grandense de Artes Plásticas Francisco Lisboa e realizou, como diretor, os projetos de catalogação do acervo e da sede do Museu de Arte Contemporânea do RS. Atualmente, é coordenador de programação da Galeria Ecarta e diretor artístico do Instituto Cultural Laje de Pedra. 

Sobre Igor Sperotto

Fotógrafo gaúcho, graduado em Jornalismo (PUC-RS, 1995), cursou Photo Essay na City and Guids of London Institute (1996), pós-graduação em Poéticas Visuais na Feevale/RS (2008) e especialização em Marketing Estratégico na Unisinos/RS (2019). Divide suas atividades entre reportagens fotográficas e o trabalho autoral. Atua como editor de fotografia do jornal Extra Classe; fotógrafo responsável da Fundação Ecarta e da assessoria de comunicação do Sinpro/RS, além de coordenador de Comunicação e Marketing da Schiaffino Construção e Incorporação. Em 2012 recebeu o 1º lugar no Prêmio Amrigs de Jornalismo. Possui os seguintes trabalhos em coleções públicas: Cidade sem Face (2015, Margs), Fower Power (2014, MAC/RS), Mensagem Dupla (2014, MAC/RS), Yabás (2013, MAC/RS) Teoria do Caos - Ensaio 2 (2012, MAC/RS) e Cidade sem Face (2007, Pinacoteca Aldo Locatelli).


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Edição: Katia Marko