Rio Grande do Sul

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“Foi um grito de socorro”, afirma agricultora sobre o protesto em frente a RGE de Lajeado

Após vídeo viralizar, o procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, agendou audiência com urgência nesta quinta

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Reunião foi convocada após um vídeo da agricultora Aline Lohmann e outros agricultores derramando leite azedo em frente a RGE viralizar nas redes sociais - Foto: Brayan Martins

A grave situação da estiagem em municípios gaúchos foi agravada esta semana com a falta de energia elétrica na área de concessão da RGE, em locais do Vale do Taquari. A constante falta de luz motivou uma reunião solicitada pelo deputado estadual Edegar Pretto (PT) ao procurador-geral de Justiça do RS, Marcelo Dornelles. O encontro ocorreu nesta quinta-feira (20) no Ministério Público, em Porto Alegre.

A reunião foi presidida pelo procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles. “Fica claro que (a companhia) não está atendendo a demanda e as necessidades das pessoas, a pergunta é se vocês podem nos colocar o compromisso de que na área rural a companhia tenha condições de fazer investimentos de prevenção” provocou o procurador-geral.

A reunião foi convocada depois que um vídeo da agricultora Aline Lohmann viralizou nas redes sociais. No vídeo ela aparece, junto com outros agricultores, jogando leite azedo em frente à sede da RGE, distribuidora de energia ligada ao grupo CPFL, em Lajeado. “Foi um grito de socorro, de desespero, em junho de 2021 ficamos 96 horas sem luz, dessa vez foram 50 horas sem luz, tivemos muitas perdas”, alertou Aline emocionada.

Produtores rurais, em especial nas pequenas propriedades que produzem leite, frangos e suínos, dependem somente da energia que chega pelos fios de luz, e na maioria não possuem condições financeiras de arcar com um gerador. Em época de instabilidade do setor elétrico e atividades climáticas, como a estiagem, algumas horas sem refrigeração e sem ventilação já azeda o leite e causa a morte dos animais, com perda de produtos e prejuízos financeiros. Isso porque, é indispensável o uso da energia elétrica para o armazenamento desses produtos.

O procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, diz que a reunião oportuniza o debate do assunto, para que haja solução aos problemas. Dornelles disse que diante de todos os relatos e documentos, fica nítido que a empresa não está atendendo direito aos consumidores na região, mesmo com os investimentos que a RGE afirma estar fazendo. 

O representante da RGE presente na reunião, Fábio Calvo, alegou que um grande causador dessas interrupções de energia na região é a alta vegetação na rede elétrica. Entretanto, o presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Luciano Moresco, foi enfático: “Eu gostaria de sair daqui com prazos. Não quero saber quantos postes RGE trocou, eu quero saber qual vai ser o dia que ela vai terminar de trocar postes de maneira podre”.

Ontem (20), a energia foi reestabelecida na comunidade de Colina, em Lajeado. Mas isso não significa que este tipo de problema não voltará acontecer. Somente em 21 de fevereiro, data que foi agendada uma nova reunião, é que a RGE deve exibir um plano de manutenção preventiva. Na ocasião, o presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), Sandro Hermann, deve apresentar um levantamento dos municípios do Vale de registros de falta de energia elétrica.

“Por um lado, fiquei triste porque tudo demora muito, a gente já teve muitas promessas da RGE, de mudanças e encaminhamentos, mas por outro saio daqui confiante de que na próxima eu saia com uma resposta definitiva de que realmente vai acontecer essa melhora”, desabafou Aline. A companhia já tem no histórico uma multa de R$ 30 milhões dada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pela situação dos serviços na região, mesmo com multas assim, a CPFL Energia teve um lucro líquido de R$ 1,436 bilhão somente no terceiro trimestre do ano passado.

"Um ato de coragem e desespero"

O deputado estadual Edegar Pretto destacou que esteve em municípios do Vale do Taquari para tratar do tema da estiagem. "As angústias na região se dividem entre a falta de água e a falta de luz. O que a empresa RGE está fazendo não está sendo suficiente para atender a área de concessão. O Vale do Taquari é a terceira bacia leiteira do estado, e a luz é fundamental para o trabalho e produção no campo e na cidade”, afirmou.

Pretto ainda lembrou que o tema da falta de energia não é novidade, e que na Comissão de Segurança e Serviços Públicos da Assembleia Legislativa, onde é presidente, há constantes reclamações sobre o serviço prestado pela RGE. Segundo ele, a reunião com o Ministério Público tem objetivo de buscar solução ao problema recorrente, e tratar das possibilidades de elaboração de protocolos de compromissos da empresa, que evitem as interrupções no fornecimento de energia.

“Todos os caminhos do diálogo já foram percorridos mais de uma vez, e esperamos que haja uma solução imediata”, declarou. 

Mais de 20 propriedades ficaram sem energia

Como o trabalho diário funciona por meio de eletricidade, a falta de energia pode oferecer altos riscos para os agricultores. É o caso da agricultora Aline Taís Meyring Lohmann, de Colinas. Durante a reunião, os participantes destacaram a ação dela como "um ato de coragem e desespero", pela perda que as famílias estão enfrentando na região. 

Aline contou que a falta de luz afeta diretamente a produção de suínos e leite, em sua propriedade. Disse que as vacas ficam dentro de locais que precisam de ventilação para produzirem leite. Informou que a família investiu cerca de R$ 2 milhões na propriedade, em um sistema de ordenha robotizada. 

“Aí bateu aquele desespero, porque eu fiz todo esse investimento e as coisas não mudam. Eles prometem mudança e não acontece. Pensei num ato, não para chamar a atenção do povo, mas chamar a atenção da empresa. Era um pedido de socorro, e eu queria que eles atendessem realmente e vissem que a gente estava precisando de mudança e não de promessas”, relata. 

Segundo Aline, mais de 20 propriedades ficaram sem energia. Além dos prejuízos com a perda de produtos, ela conta que ainda vai gastar mais para manter um gerador funcionando 24 horas para a ordenha e o resfriamento do leite. 

“Eu resfriava o leite até o momento que o leiteiro vinha retirar, mas a ordenha não vai poder parar. Eu fiquei mais de 50 horas sem energia, e se eu deixar o gerador ligado, são 18 litros de combustível por hora. Imagina quanto eu vou ter de despesa só no diesel, e a conta de luz vai vencer igual e o valor vai ser o mesmo. Esse problema já acontece há muito tempo na região, já ficamos até 96 horas sem luz, e nos últimos dez dias, nós ficamos quatro sem luz. Então é recorrente, e recuperar tudo isso é muito difícil”, lamenta.


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Edição: Katia Marko