Se estivesse vivo o ex-governador Leonel de Moura Brizola estaria completando cem anos. Filho de camponeses, Brizola nasceu no distrito de Cruzinha de São Bento, no interior do município de Carazinho, a 300 quilômetros de Porto Alegre.
Durante a campanha de 1989 estive lá refazendo o início da caminhada de Brizola para o jornal O Globo. Conversei com primos do ex-governador, companheiros de infância dos tempos em que ele carregava malas na estação ferroviária da cidade enquanto fazia as primeiras letras. E até com o chefe político da cidade de Colorado que, na revolução de 1923 havia mandado matar o pai de Brizola.
Todos, sem exceção, admiravam a trajetória daquele que agora era um dos candidatos a presidente de República. Brizola foi governador do Rio Grande do Sul e iniciou um processo de desenvolvimento do Estado cuja visão somente foi retomada no governo Olívio Dutra 40 anos mais tarde.
Construiu milhares de escolas, todas de madeira para terem construção rápida, muitas delas ainda estão de pé cumprindo sua missão de ensinar as crianças gaúchas. No Rio de Janeiro construiu os CIEPS, escolas de tempo integral. Para ele, educação era a ferramenta essencial para o processo de conscientização do povo e a construção do Brasil novo.
Em 1962, atendendo as reivindicações de arrendatários de terras organizados no Movimento de Agricultores Sem Terra (MASTER), realizou a primeira Reforma Agrária da história da República brasileira, desapropriando 13 mil hectares no Banhado do Colégio, em Camaquã, drenando o banhado e construindo um projeto de canais de irrigação abaixo de uma grande barragem no arroio, onde até hoje, colonos assentados cultivam arroz e milho irrigados. Para ele a Reforma Agrária era uma das bases do desenvolvimento econômico trancado há séculos pelo latifúndio improdutivo.
Criou empresas para produzir o que era importado pelos gaúchos, a Açúcar Gaúcho S/A (AGASA) em Santo Antônio da Patrulha, aproveitando cultura de cana do Litoral. A Salgasa, tentativa da produção de sal entre Cidreira e Tramandaí, introduziu o cultivo da cebola no Litoral Norte, para substituir a importação de cebolas argentinas e pernambucanas. Ele entendia que as regiões deveriam produzir tudo o que pudessem para a sobrevivência e a soberania alimentar de seus povos, evitando o atrelamento a um sistema de transporte. Tudo isso foi sucateado pelos militares a serviço dos imperialistas que ajudaram a transformar o Brasil em uma grande colônia especializando a produção em cada uma das regiões.
Democrata convicto, organizou a resistência ao golpe em 1961, criando a Rede da Legalidade através de rádios de todo o Rio Grade do Sul, comandadas dos porões do Palácio Piratini por ele mesmo ao microfone. Aliás Brizola usou rádio como poucos, quando governador tinha um programa as sextas-feiras de noite em rede de rádios que era ouvido pela maioria dos gaúchos. Dialogava diretamente com as pessoas e ouvia suas reivindicações.
Em 1964 se exilou no Uruguai e de lá comandou movimentos de resistência como o de Três Passos liderado pelo coronel Jeferson Cardin com os Grupos dos 11 e a Guerrilha de Caparaó, em Minas Gerais, onde esteve o jornalista Flávio Tavares. Em 1979 retornou do exílio e refundou o Partido Trabalhista Brasileiro, cuja legenda perdeu para a deputada paulista Ivete Vargas, criou então o PDT. Por este partido elegeu-se governador do estado do Rio de Janeiro e mais tarde concorreu à Presidência da República, depois concorreu como candidato a vice-presidente na chapa do PT, liderado por Luís Inácio Lula da Silva.
A liderança de Brizola hoje está substituída pela força de Luís Inácio Lula da Silva, que acredita nos mesmos princípios e na mesma politica de alianças que poderá devolver ao Brasil a democracia e a economia independente que está sendo destruída pelo atual desgoverno.
* Jornalista
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko