Pernambuco

SAÚDE

Pacientes de UPA’s em Olinda (PE) encaram filas de cinco horas para ter atendimento médico

Demora deixa população insatisfeita, sobrecarrega profissionais de saúde aumenta os casos de violência nos hospitais

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Repasse de verba para contratação de mais profissionais já foi feita, mas ainda não houveram contratações - SECOM Olinda

Um dos efeitos imediatos da epidemia da influenza H3N2 e da alta nos casos de covid-19 foi o crescimento na procura pelas unidades de saúde e a consequente ampliação do tempo de espera por atendimento na cidade de Olinda, na Região Metropolitana do Recife.

As últimas experiências do educador físico André Luís Belarmino, 46 anos, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Olinda atestam a realidade de superlotação. Gripado, o morador do bairro do Córrego do Abacaxi precisou ir duas vezes à unidade de saúde: uma em dezembro e outra em janeiro. Na ida mais recente, ele esperou quase 5h por atendimento. 

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"Eu cheguei lá pela manhã e não tinha vaga. Disseram: 'aqui tem até esse número de ficha e não vai atender mais, só quando trocar o plantão'. Pediram para eu ir no horário da noite, aí fui às 17h30. Só saí lá para as 22h. Parecia uma eternidade", relata. "Os médicos são muito bons, atenciosos, mas a demanda é muito grande, não estavam conseguindo atender", lamenta o morador.

Por outro lado, na linha de frente, trabalhadores da saúde das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Grande Recife vêm sofrendo com o aumento de ameaças, agressões verbais e até mesmo físicas por parte de pacientes insatisfeitos com a demora. Segundo o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), para dar conta da demanda, o Governo de Pernambuco teria aumentado o valor do repasse às Organizações Sociais (OS) que administram as UPAs da Região Metropolitana a fim de que contratem mais profissionais. 


Trabalhadores da UPA de Olinda procuraram o sindicato ainda em outubro de 2021 com queixas em relação à segurança das equipes / SES PE

No entanto, mesmo com mais recursos financeiros, essas contratações ainda não aconteceram em algumas unidades, como na de Olinda, onde a situação escalou a ponto de uma médica ter recebido uma coroa de flores como ameaça de morte no último dia 07 de janeiro. Um boletim de ocorrência foi registrado e a profissional, que teve a identidade preservada, foi afastada da unidade. 

Rodrigo Rosas, diretor do Simepe, conta que os trabalhadores da UPA de Olinda procuraram o sindicato ainda em outubro de 2021 para tratar da insegurança, assim como enviaram um ofício ao Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) cobrando um posicionamento. "O Cremepe fez o contato com a Secretaria de Defesa Estadual (SDS), que se prontificou a tornar as rondas nas unidades de saúde mais ostensivas. Só que passou um, dois meses, e o que foi prometido não foi efetivado", relata.

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A partir disso, o Sindicato levou a questão para uma reunião com o secretário de Saúde do Estado, André Longo. “A solução que foi encontrada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) foi aumentar o limite do repasse para as OS que gerenciam essas UPAs poderem contratar mais profissionais, diminuindo assim a espera do paciente pelo atendimento e a impaciência que poderia levar a agressões”, afirma. Em nota, a SES falou que tem mantido um diálogo constante com as UPAs, a SDS e a Polícia Militar (PM) “com o intuito de garantir a segurança nas unidades”.

“Situação em Olinda é crônica”

André Belarmino, que além de morador do Córrego do Abacaxi também é presidente da Associação de Moradores, afirma que recebe de outros residentes queixas sobre os serviços de saúde de Olinda. A demanda da população é justamente por mais profissionais de saúde. "As reclamações são antigas e agora aumentaram." 

Entretanto, de acordo com Rodrigo Rosas, enquanto UPAs como a da Caxangá, Torrões e Imbiribeira, na capital, e a de Paulista já estão com um quadro de funcionários maior, outras seguem sem novas contratações. Seria o caso da UPA Olinda, que é gerida pela Fundação Prof. Martiniano Fernandes (FPMF). 

Procurada, a OS respondeu que o reforço de profissionais de saúde tem sido “pauta de diálogo com a SES, não só neste período de ampliação da demanda de pacientes, motivada pela Influenza e Covid-19”. A instituição ainda disse que tem mantido diálogo constante com SES, SDS e PM “com o intuito de reforçar as rondas e policiamento na unidade.”

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Ao passo que as denúncias de violência nas demais UPAs teriam surgido de maneira contundente só depois da chegada do H3N2, o problema em Olinda seria crônico e apenas teria se agudizado, classifica Rodrigo. Isso porque a cidade conta com apenas duas unidades de emergência para atendimento clínico: a UPA e o Serviço de Pronto Atendimento (SPA) de Peixinhos. 

“Quando uma precisa restringir o plantão, imagina o caos que se instala na outra. Em Olinda, esses relatos de violência são constantes e a provocação aos gestores públicos feita pelas entidades médicas também, cobrando providências para sanar esses problemas de violência, como a abertura de novas unidades de saúde e ampliação das escalas de plantão”, resume o diretor.

Policiamento

Ainda segundo Rodrigo, a SDS teria se comprometido a aumentar as rondas nas UPAs, sobretudo na de Olinda, e a dar prioridade aos chamados vindos dessas unidades. “Se um profissional de saúde se sentir em algum momento ameaçado, ele é orientado a ir a algum lugar seguro e fazer a ligação para o 190”, informa. Rosas conta ter recebido relatos do aumento da frequência das visitas da PM nas unidades.

À reportagem, a Polícia Militar afirmou que tem um planejamento operacional que contempla as unidades de saúde de policiamento motorizado que está “sempre à disposição, caso seja empenhado através do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) ou da equipe de servidores do local, para intervir diante de uma situação que exija presença policial no interior da unidade de saúde de pronto atendimento.”

 

Edição: Vanessa Gonzaga