Rio Grande do Sul

RESISTÊNCIA

8M: manifestações pelo fim do governo Bolsonaro vão marcar o Dia Internacional da Mulher

Em Porto Alegre, haverá marcha unificada a partir das 18h; Atividades iniciam às 12h no Largo Glênio Peres

Brasil de Fato | Porto Alegre | |
“Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro Nunca Mais! Por um Brasil sem machismo, racismo e fome” é tema das manifestações do 8 de março deste ano - Foto: AFP

Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) somente na década de 1970, o Dia Internacional da Mulher já havia sido proposto em 1910 pela socialista, marxista e feminista Clara Zetkin - no contexto da Segunda Revolução Industrial, quando ocorreu a incorporação da mão de obra feminina nas fábricas. Naquela época, a falta de bens essenciais à sobrevivência e os baixos salários eram os motivos de frequentes protestos por parte das trabalhadoras nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, como o das operárias russas de uma fábrica de tecelagem, que protagonizaram em 8 de março de 1917 a manifestação que impulsionou a consolidação da data. Na pauta: reivindicações por melhores condições de trabalho, aumento salarial e redução das cargas horárias exaustivas. 

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Passado um século, as mulheres continuam a se manifestar em várias partes do mundo denunciando situações de exploração e opressão. Neste 8 de março, atos em todo o país vão marcar o Dia Internacional das Mulheres. Sob o mote “Pela vida das mulheres: Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, racismo e fome”, organizações, entidades e articulações feministas vão marchar pelas ruas pelo fim do governo de Jair Bolsonaro. Em Porto Alegre, a concentração do ato unificado será as 18h, na Esquina Democrática. Além da marcha, estão previstas atividades culturais e rodas de conversas no Largo Glênio Peres, com início às 12h.

“É mais um dia de luta, mas é um dia de resistência, de visibilidade, de chamar a atenção para as nossas pautas. De chamar todas as mulheres das centrais sindicais, do movimento feminista, do movimento negro e também aquelas que nunca participaram”, comenta a presidenta estadual da União Brasileira de Mulheres de Porto Alegre (UBM-POA), Fabiane Dutra Oliveira. “Nós ficamos mais empobrecidas com a crise econômica que piorou com a pandemia e, principalmente, porque a gente não tem um Estado nacional minimamente empático com as nossas questões. Pelo contrário, nós temos um governo misógino, racista e preconceituoso que nos força a reagir neste momento”, explica. 

Fabiane recorda o veto de Jair Bolsonaro ao Projeto de Lei nº 4968/2019, da deputada Marília Arraes (PT-PE), que estabelecia a distribuição gratuita de absorventes nos postos de saúde para meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade. “Estamos perdendo políticas públicas, se o Estado não garante uma rede de enfrentamento e combate à violência, cidadania e dignidade para as mulheres, nós, enquanto rede de movimentos, trabalhamos para dar o suporte que a gente consegue. No dia 8, por exemplo, faremos uma arrecadação de absorventes, porque também lutamos pela dignidade menstrual e pela derrubada do veto”, enfatiza.

Governo inimigo das mulheres

Durante a campanha da eleição presidencial no Brasil em 2018, ocorreu a maior manifestação liderada por mulheres na história do país. O Movimento #EleNão, em repúdio ao então candidato à Presidência da República, o presidente Jair Bolsonaro (PL), cresceu nas redes sociais e tomou as ruas com protestos em todos os estados brasileiros. Há menos de um mês para o primeiro turno das eleições, as mulheres alertavam que o candidato apresentava comportamentos misóginos e semelhantes às ideologias totalitárias, como o Fascismo e o Nazismo. À época, as mulheres já anteviam a antipolítica de gênero de Bolsonaro.


O número total de pessoas que participaram das manifestações contra Bolsonaro no período pré-eleitoral é incerto. A Polícia Militar não divulgou estimativas de público nas principais cidades / Foto: Karina Zambrana/Mídia Ninja

A onda conservadora e os retrocessos nos direitos das mulheres se concretizou. De acordo com levantamento realizado pela revista Azmina, entre janeiro de 2019 e julho de 2021, o governo federal deixou de aplicar quase R$ 400 milhões em políticas públicas voltadas para as mulheres, um terço dos recursos previstos no Orçamento da União. Dos quase R$ 115 milhões disponíveis para a construção e equipagem de Casas da Mulher Brasileira - espaço que oferece acolhimento às vítimas de violência -, apenas R$ 1 milhão foi destinado. Desde o início da gestão Bolsonaro, mulheres têm sido levadas para um lugar de violência e também de vulnerabilidade econômica.

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Em meio a pandemia da covid-19, marcada pelo agravamento das desigualdades já existentes, Bolsonaro vetou integralmente o Projeto de Lei nº 2508/2020, aprovado pelo Congresso, que previa o pagamento de cota dupla e prioridade à mulher chefe de família no pagamento do auxílio emergencial. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são mais de 11 milhões de mães solo no Brasil. Desse total, estima-se que 61% são pretas ou pardas. Ainda de acordo com o IBGE, a taxa de desemprego entre as mulheres chegou a 17,9% no primeiro trimestre de 2021. A fome e a insegurança alimentar também são maiores nos lares chefiados por mulheres. 

A secretária-geral da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS) e secretária estadual de Mulheres do Partido dos Trabalhadores de Porto Alegre (PT-RS), Vitalina Gonçalves, enfatiza que a primeira ação de regimes autoritários é tentar calar a voz das mulheres. “A nossa voz incomoda porque eles temem que nós cheguemos aos espaços de poder. Por isso, neste ano de eleição, nós temos a oportunidade de trocar o presidente. De dizer: ‘Fora Bolsonaro e sua política genocida, de morte e de privilégios de uma classe econômica burguesa’. Se uma cidade, um estado ou um país for pensado por mulheres e para as mulheres, com toda a certeza, será uma cidade, um estado ou um país que atende e inclui todas, todos e todes."

Após 90 anos da conquista do direito ao voto, a maioria das mulheres brasileiras deixa claro: Bolsonaro não será seu candidato nas eleições de 2022. De acordo com levantamento realizado pelo PoderData, se a eleição fosse apenas entre as eleitoras, elas garantiriam a derrota de Bolsonaro no primeiro turno. Segundo a pesquisa, Lula possui 41% das intenções de voto feminino contra 30% de Bolsonaro. Vitalina pondera que o voto é um importante marco na luta pelo direito das mulheres, mas que ainda é preciso maior representatividade feminina em cargos eletivos. “Em 2022, nós temos a oportunidade de mudar os espaços legislativos, a Câmara, o Senado e as Assembleias Legislativas. Estamos lutando para que nós, mulheres, possamos conquistar uma maioria. Não queremos e não aceitamos mais ser apenas uma maioria populacional, queremos ser uma maioria nos espaços de decisão política.”

Para a presidenta da UBM-POA, Fabiane Dutra Oliveira, mudanças importantes - como a Lei Maria da Penha, o direito ao voto e ao divórcio - ocorreram no Brasil graças à pressão do feminismo organizado. “As hermanas da Argentina e do Chile conquistaram a descriminalização do aborto porque milhares delas saíram às ruas. Por isso, precisamos estar unidas. Vamos ocupar o nosso espaço participando e somando forças nessa luta.” No entanto, Fabiane salienta que a luta da mulher é de toda a sociedade: “A gente precisa que todos olhem com empatia. Os homens podem não perceber, mas eles também sofrem com a reprodução do machismo, com essa estrutura patriarcal. A gente só vai ter uma sociedade emancipada quando mulheres e homens puderem viver as suas diferenças com equidade de oportunidades e de direitos”. 

Agenda do 8M em Porto Alegre

No Largo Glênio Peres:

12h às 17h – Arrecadação de alimentos e absorventes;

12h – Acolhimento e organização da tenda Elza Soares;

13h – Troca de Experiências sobre Combate à fome e miséria com trabalho digno no campo e na cidade (mesa);

14h  – Mística – Intervenção Cultural;

14h30 – Defesa da Democracia, Controle Social e Participação Popular na Defesa das Políticas Públicas (mesa);

15h30 – Mística – Intervenção Cultural;

16h – Combate à Violência de Gênero, Política, Racismo Estrutural, LGBTfobia e Feminicídio (mesa);

17h – Mística – Intervenção Cultural;

Na Esquina Democrática:

18h – Concentração para o ato unificado, com saudações; Intervenção cultural e início da caminhada até o Largo Zumbi dos Palmares;

No Largo Zumbi dos Palmares:

Saudações e apresentação da bateria da Escola de Samba Imperatriz Leopoldina.

Atos em outras regiões do Rio Grande do Sul

Santa Maria – Praça Saldanha Marinho, 17h;

Canoas – Esquina Democrática, 15h (12/03);

São Leopoldo – Em frente à Câmara de Vereadores, 17h; 

Caxias do Sul – Praça Dante Alighieri, 18h;

Erechim – Seminário N.S de Fátima, 18h30;

Encruzilhada do Sul – Mobilização de rua e moções na câmara de vereadores, programa de rádio; 

Salvador das Missões – Encontro e formação com as camponesas, 22h; 

Paim Filho – Participação das camponesas em programas de rádio; 

Três Cachoeiras – Encontro de formação (07/03);

Passo Fundo – Ato de Rua, 18h.


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Edição: Katia Marko