Pernambuco

8M

No Recife, 5 mil mulheres vão às ruas contra a fome, desemprego e Bolsonaro

​​​​​​​Capital pernambucana teve ainda atos de enfermeiras e professoras em lutas de suas categorias

Brasil de Fato | Recife (PE) |
5 mil mulheres caminharam no Recife; este 8 de março marca a volta dos atos feministas após dois anos de hiato - Maria Lígia Barros/Brasil de Fato Pernambuco

Na tarde desta terça-feira (8) cinco mil mulheres tomaram as ruas do centro do Recife sob a palavra de ordem “Pela vida das mulheres – Bolsonaro nunca mais!”. Além de abrir o calendário de manifestações de rua em 2022, este 8 de março marcou a volta dos atos feministas após dois anos de hiato, já que o 8 de março de 2020 foi o último ato de rua antes da pandemia da covid-19 no Brasil.

As mulheres começaram a se concentrar às 15h no Parque Treze de Maio, bairro de Santo Amaro, e às 17h saíram em caminhada até o Pátio do Carmo, onde o ato se encerrou por volta das 19h. No encerramento da manifestação houve intervenção em que foram lidos nomes de mulheres vítimas de feminicídio e transfeminicídio.

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Durante a manhã Pernambuco também assistiu a manifestações em Afogados da Ingazeira, no sertão; já no agreste houve atos em Caruaru e Garanhuns, nesta última com a luta contra o capacitismo ganhando destaque; em Itambé, na zona da mata norte do estado; e no Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana do Recife.


Manifestação do 8M no Cabo de Santo Agostinho, regiã0o metropolitana / Rafael Negrão/cortesia


Durante a concentração do ato, no Parque 13 de Maio, houve confecção de cartazes / Maria Lígia Barros/Brasil de Fato Pernambuco

Nas manifestações foram recorrentes os cartazes com críticas ao governo Bolsonaro, contra o racismo, lesbofobia, transfobia e em defesa do direito ao aborto seguro. No Brasil o aborto só é permitido em casos em que a mulher foi vítima de estupro, quando ela corre risco de vida e quando o feto é anencéfalo. Afora estes três casos, a realização de procedimento abortivo é considerada crime.

A pauta econômica, destacando o desemprego e a fome, foram constante na reivindicação das ruas. Piedade Marques, integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, falou ao Brasil de Fato Pernambuco sobre a importância de “enegrecer o 8 de março”. “Nós somos as que mais sofremos violências e com esse índice de desemprego. Estamos aqui com tantas outras mulheres para dizermos não ao machismo e ao patriarcado, não à violência, mas sim à vida das mulheres e sim ao prato de comida na mesa”.

Liana Cirne (PT), que é vereadora do Recife, também destacou a pauta. “São 119 milhões de brasileiros no mapa da fome, gente que não sabe se vai se alimentar três vezes por dia. Esse é o maior problema do nosso povo hoje e ele afeta principalmente as mulheres”, disse a petista. “É urgente o ‘Fora Bolsonaro’ e o fim da fome. Essa luta é uma questão de sobrevivência. Queremos voltar a ter dignidade e orgulho de ser brasileiras”, completou.


"Trenzinho" foi locado para levar as crianças que acompanharam a manifestação / Maria Lígia Barros/Brasil de Fato Pernambuco


“Onde tem mãe, onde tem povo, tem criança. Nossos espaços políticos precisam acolher as crianças”, diz Elisa Maria / Maria Lígia Barros/Brasil de Fato Pernambuco

A militante Elisa Maria, da Marcha Mundial das Mulheres – Soledad Barrett, afirmou o ato como uma demonstração de força contra o governo Bolsonaro. “Mostramos grande capacidade de mobilização contra essa política de morte, que traz alta dos preços dos alimentos e gás, do descaso com a saúde. E vamos seguir pautando isso ao longo do ano, para retomar o Brasil”, garantiu ela. Maria afirmou a centralidade de “eleger representantes do povo e das mulheres, que defendam um projeto popular”.

Elisa também destacou o “trenzinho” locado para levar as crianças que acompanharam a manifestação. “Onde tem mãe, onde tem povo, tem criança. Nossos espaços políticos precisam acolher as crianças”, disse ela, destacando que é um processo cuidadoso e que houve militantes destacados para essa tarefa.

A sindicalista Jorgiane Araújo, que integra o coletivo de mulheres da Central Única dos Trabalhadores (CUT), pede o fim do feminicídio e mais políticas públicas para mulheres. “Somos as maiores afetadas pelas medidas do governo e precisamos que sejam revogadas as reformas Trabalhista e da Previdência”. Ela destaca os empecilhos para as mulheres no mercado de trabalho. “Estamos aqui também protestando contra o assédio moral e sexual. Está muito difícil a vida da mulher no mundo do trabalho. E com a pandemia, aumento do desemprego, aumentou também a violência doméstica”, pontuou.


"Mulheres contra a fome. Fora Bozo" foi escrito na Ponte Duarte Coelho / Maria Lígia Barros/Brasil de Fato Pernambuco

A deputada estadual Teresa Leitão (PT) lamentou que em 2022 o mote do 8 de março seja a luta por sobrevivência. “É muito triste termos que dizer que parem de nos matar, respeitem nossos corpos, nossas vidas, nossa autonomia”, disse ela, que também repudiou as falas do deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (ex Podemos) sobre mulheres ucranianas. “As refugiadas foram atacadas, agredidas, humilhadas por um homem que ocupa um cargo similar ao meu. Por isso digo ‘fora Mamãe Falei’”, disse Leitão.

Professoras e enfermeiras em luta

Na manhã desta terça-feira milhares de enfermeiras e auxiliares de enfermagem foram às ruas pautando a aprovação em regime de urgência na Câmara Federal do Projeto de Lei 2564/2020, que garante o pagamento de um piso salarial da categoria, com adicional de insalubridade e direito a férias. Na manhã desta terça-feira também houve protesto das professoras da rede pública municipal do Recife, reivindicando o pagamento do piso salarial por parte da prefeitura.

Edição: Vanessa Gonzaga