Rio Grande do Sul

ESCOLA DO CAMPO

Educadores, pais e educandos pedem reunião com a Seduc em São Gabriel sobre transporte escolar

Os Sem Terra vieram a Porto Alegre, no Ministério Público e na Seduc, reivindicar transporte para voltar às aulas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Comunidade de escola do campo de São Gabriel convocou diretor geral da Seduc para falar sobre a falta de transporte escolar na região - Foto: Maiara Rauber

“O estado vê o estudante e a escola do campo como um gasto e não vê que é um processo de investimento no cidadão e na educação pública”, pontua Juliane Soares, do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Rio Grande do Sul. 

As aulas presenciais já iniciaram há um mês e diversas escolas do campo seguem sem serem acessadas pelos educandos devido a falta de transporte, problemática enfrentada há muitos anos pelos assentamentos e áreas rurais. Além disso, os alunos e professores convivem com a precariedade nas estradas, nas estruturas escolares, a falta de professores e servidores. Isso, de acordo com Juliane, fere o direito básico da educação de crianças, jovens e adultos. 

No dia 21 de março, para mudar essa situação, educadores, pais e educandos se deslocaram a Porto Alegre para discutir com a promotora Luciana Casarotto, do Ministério Público Estadual, e com o diretor geral da Secretaria da Educação (Seduc), Guilherme Corte, formas de resolver isso. Participaram da conversa também a deputada estadual Sofia Cavedon (PT) e os deputados federais Fernanda Melchionna (PSOL) e Dionilso Marcon (PT). 

“O nosso problema, infelizmente, não é só o transporte escolar. Há muito tempo a educação do campo vem sendo sucateada. As nossas escolas estão sendo fechadas, não estamos sendo tratados como prioridade”, salienta a Sem Terra Juliane. 

Primeiro os Sem Terra apresentaram a realidade de suas localidades para a equipe do Ministério Público. A equipe se mostrou a par da pauta e informou que estão pressionando o estado, e que seguirá acompanhando o processo do acesso ao transporte dos alunos do campo. 


Ministério Público se mostrou a par da pauta e informou que está pressionando o estado por resolução / Foto: Maiara Rauber

Já na segunda reunião do dia, na Secretaria de Educação, Guilherme Corte relata que medidas já foram tomadas para a retomada dos transportes em São Gabriel, Santana do Livramento, Piratini e Candiota e estarão em funcionamento dentro de 7 a 15 dias.

O diretor também se comprometeu a redigir um documento que solicita melhorias nas estradas aos órgãos responsáveis para que o acesso às escolas seja garantido. Além disso, ele marcou uma reunião em São Gabriel, na Câmara dos Vereadores, na próxima segunda-feira (28), para apresentar a atualização da situação do transporte e conhecer a realidade desses locais. 

Para além disso, os educadores, pais e educandos propuseram a alteração da modalidade de licitação, ou seja, não realizar no formato emergencial de seis meses. Isso evitaria a interrupção do contrato do transporte escolar durante o período letivo. Ainda, foi solicitado que haja a liberação para os professores e funcionários utilizarem o mesmo transporte escolar dos estudantes, visto que os mesmos necessitam desse transporte para chegar até o seu local de trabalho. 

“O estado está aqui para garantir o nosso direito à educação. Nós estamos levantando a bandeira da educação do Campo que atualmente está sendo invisibilizada. Ainda tem gente no campo, ainda tem vida, por mais que haja um projeto que quer se desfazer do campo, nós estamos lá resistindo”, finaliza Juliane Soares. 

O dia de um estudante

"São 4 horas da manhã, estou saindo de casa para pegar o ônibus escolar, caminho 8 quilômetros. Ainda bem que a minha mãe me acompanha. 

Sei que não sou o único, fico cerca de duas horas e meia dentro do ônibus. Chego na escola já com fome, pois saio cedo, e se comer passo mal, porque o ônibus balança muito, são muitos buracos. Buracos, é por causa deles que tenho que sair tão cedo de casa e caminhar tanto, tenho amigos que caminham mais. 

Já está na hora do lanche. Ainda bem, nem estava conseguindo prestar atenção na aula. Agora sim posso estudar, mas já estou pensando na volta. 

De volta ao ônibus é hora de voltar, tomara que não aconteça de estragar o ônibus ou atolar pois ainda tem barro. 

Esqueci de contar, quando chover ficamos dois a três dias sem aula, pois nem onde o ônibus costuma entrar não consegue fazer linha. 

Já consigo até sentir o gosto da comida da minha mãe. 

Que bom, não aconteceu nada de anormal no ônibus. Agora são duas horas da tarde, são duas horas da tarde, cheguei na minha parada e ainda tem 8 quilômetros para caminhar."

Educando da Escola Atalibas Chagas de São Gabriel


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Edição: Marcelo Ferreira