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Astrojildo Pereira e o centenário de fundação do Partido Comunista

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a viagem de Astrojildo até a Bolívia para convidar o líder tenentista Luís Carlos Prestes, exilado na Bolívia em 1927, após a longa marcha da Coluna Invicta, para ingressar no PCB - Ilustração
A viagem até a Bolívia para convidar o líder tenentista Luís Carlos Prestes para ingressar no PCB

Nesta data em que se comemora o centenário de fundação do Partido Comunista é indispensável o resgate da figura política e histórica de Astrojildo Pereira (1890-1965). Astrojildo Pereira Duarte Silva, nasceu em 8 de novembro de 1890, em Rio Bonito (RJ), e faleceu em 21 de novembro de 1965.

Astrojildo desenvolveu uma intensa atividade política e intelectual até o fim de sua atribulada vida. Esteve na liderança da fundação do Partido Comunista – seção brasileira da Internacional Comunista, em 1922. Foi seu primeiro secretário geral entre 1924 e 1930 e um dos fundadores do Jornal A Classe Operária, em 1925, órgão central do partido.

Entre 1919 e 1924, Astrojildo Pereira dedicou-se ao esforço pela organização nacional de um partido comunista. Em 1922, de 25 a 27 de março, em Niterói, com a condução de Astrojildo, foi fundado o Partido Comunista reunindo nove delegados, que representavam 73 militantes espalhados em pequenos núcleos no país. Apesar da intensa perseguição policial, o encontro foi finalizado com êxito, aprovando os estatutos e o pedido de ingresso na Internacional Comunista — o que se concretizou em 1924.

Militante de origem anarquista, como os outros fundadores do novo partido, Astrojildo Pereira atuou na Confederação Operária Brasileira (COB) nas primeiras décadas do século XX, participando de greves e até de tentativas insurrecionais.

Propagandista de talento, jornalista e escritor, impulsionou a criação de inúmeros jornais, revistas e brochuras que circulavam no meio operário e que acabavam também nas estantes e coleções da polícia política da velha República.

Junto com Otávio Brandão, Paulo de Lacerda e Cristiano Cordeiro, constituiu um primeiro núcleo teórico do pensamento marxista no país, desenvolvendo os estudos iniciais sobre uma teoria da revolução brasileira. Temas e questões sobre o papel da diminuta classe operária, a questão agrária e a predominância econômica do latifúndio, a pequena burguesia urbana e os intelectuais foram as preocupações teóricas desse núcleo pioneiro do pensamento de esquerda no Brasil.

No final dos anos 20 e no decorrer dos anos 30, as divisões e conflitos no movimento comunista e na própria União Soviética impactaram no jovem e imaturo partido, alcançando o próprio Astrojildo, que passou a viver uma longa fase de ostracismo político — era marginalizado tanto pela vertente stalinista quanto pela vertente trotskista do comunismo brasileiro.

Nos final dos anos 50, no curso de uma nova orientação política e programática do então PCB, resultado dos ventos da desestalinização do XX Congresso do PCUS (1956), Astrojildo foi na prática reabilitado pela direção partidária, desenvolvendo intensa atividade entre a intelectualidade de esquerda e progressista.

Vale lembrar ainda dois episódios marcantes e de intensa repercussão com o protagonismo de Astrojildo: o primeiro episódio ficou conhecido como a “última despedida” de Machado de Assis, imortalizado na crônica de Euclides da Cunha. Trata-se da visita do jovem Astrojildo Pereira ao leito de morte de Machado de Assis, em 29 de setembro de 1908. Astrojildo era um ardente admirador e estudioso da obra de Machado. A segunda iniciativa foi a viagem de Astrojildo até a Bolívia para convidar o líder tenentista Luís Carlos Prestes, exilado na Bolívia em 1927, após a longa marcha da Coluna Invicta, para ingressar no PCB.

A última atividade de Astrojildo foi na edição da revista Estudos Sociais voltada para assuntos do mundo da cultura, aglutinando intelectuais e pensadores em torno do resgate de uma cultura nacional-popular. O velho militante também sofreu a perseguição da ditadura militar.

Em novembro de 1965, a longa trajetória de Astrojildo Pereira, um homem de ação e revolucionário intenso, cessou com sua morte, mas deixando para as futuras gerações o legado em defesa de um marxismo livre de amarras sectárias e da mentalidade esquemática e doutrinarista — uma inestimável contribuição para todos e todas que defendem uma perspectiva socialista para superar os dilemas políticos e os impasses estruturais do Brasil.

E viva o centenário de fundação do Partido Comunista no Brasil!

Edição: Pedro Carrano