Rio Grande do Sul

Povos Originários

Estudantes Indígenas da UFRGS ocupam prédio onde será instalada sua nova moradia

Ação aconteceu durante vistoria; representantes da Universidade ficaram irritados e fizeram ameaças

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Estudantes indígenas retomam a creche da UFRGS para fazer desde já a nova moradia na Universidade - Foto: Alass Derivas | @derivajornalismo

Os estudantes indígenas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ocuparam o prédio onde funcionava a Creche da Universidade, na tarde desta quarta-feira (30). O local já havia sido destinado pela administração da Universidade como destino para a nova Moradia Indígena. A ocupação aconteceu durante visita do Coletivo de Estudantes Indígenas com a Pró-Reitoria de Extensão para vistoriar as condições do local.

Conforme relatou o repórter Alass Derivas, registrando a fala das lideranças indígenas Woie Patté e Angélica Domingos Kaingang, a decisão de ficar desde já no prédio foi tomada pelas condições da atual moradia em que se encontram os estudantes indígenas. Além da falta de segurança e estrutura no local, após o temporal desta noite, as condições se deterioraram muito.

Relataram ainda que agora consideram estar em um local seguro, principalmente para as crianças, que não irão impedir qualquer trabalho de limpeza e reforma do espaço e que as três salas que irão ficar nesse primeiro momento já são bem melhores que a condição que vivem.

Segundo Alass Derivas, os representantes da UFRGS ficaram surpresos e irritados com a ação. "O procurador-chefe Eduardo Fernandes chamou os advogados dos indígenas e declarou que o movimento de ocupação era inaceitável, apontando questões administrativas. Ele afirmou que a UFRGS poderia recuar e não destinar mais o prédio da creche.

A coordenadora da PRAE, Ludymila Barroso, disse que só poderiam ficar na casa os indígenas estudantes, seus filhos e a pajé. Segundo Eduardo, o reitor já está informado da situação.


Após momentos de tensão, ficou acordado a permanência na ala dos fundos do prédio através de um termo de compromisso assinado pelos indígenas e representantes da Universidade / Foto: Alass Derivas | @derivajornalismo

"Estamos dispostos a não destinar este prédio nem para os indígenas nem para ninguém. Se não seguirem nossas regras, vamos ajuizar uma reintegração de posse. Em 10 dias podemos demolir isso aqui", declarou o procurador-chefe. Também sinalizou as portas de três salas e um banheiro em que podem ficar ocupando: "daqui para lá podem ficar de forma civilizada, seja lá qual for a civilização deles", afirmou, de acordo com a reportagem.

Após a tensão, ficou acordado a permanência na ala dos fundos do prédio através de um termo de compromisso assinado pelos indígenas e representantes da Universidade. Os funcionários seguirão os processos de mudança na creche a partir de amanhã. A equipe de segurança da Universidade já está a par da circulação dos indígenas. Também já chegaram fogões, alimentos, suprimentos. As doações agora devem ser entregues no endereço da Creche da UFRGS, perto da Faculdade de Farmácia. 

Está marcada uma reunião na tarde desta quinta-feira (31), às 15h, com a Pró-Reitoria de Extensão para dar seguimento nas negociações e na organização da consolidação da Casa do Estudante Indígena.

Representantes da Funai estiveram presentes

Representantes da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) estiveram presentes durante a visita. De acordo com o Coletivo de Estudantes Indígenas, foi a primeira vez que a FUNAI se fez presente desde o começo da mobilização pela moradia indígena. Segundo informam, a presença da FUNAI na reunião se deu para elaborar um parecer sobre as condições da creche para acolher crianças.

Este fato irritou os estudantes indígenas, devido à presença dos representantes somente neste momento. Relataram que os representantes aparentavam total desconhecimento da causa, devido à perguntas básicas que acabaram soando como desrespeito. Os indígenas avaliaram que um parecer negativo da FUNAI poderia travar um processo junto à Universidade.


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Edição: Katia Marko