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Coluna

Marx e os longos anos de elaboração sobre economia política

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Filósofo alemão foi colunista de política internacional durante contribuindo com diversos jornais - Foto: Reprodução
A miséria do povo, por si só, nunca bastaria para provocar uma revolução

Por muito tempo, Marx pretendia escrever um livro em relação a pesquisa na Economia Política. Tocou o assunto com Engels, além de outros amigos acerca da obra que seria, em três volumes. Ao longo do tempo, Marx ia recolhendo novos dados, retificando e expandindo o esboço inicial mas sempre adiava a sua publicação.

Certa vez, um jovem advogado socialista e entusiasta de Marx, Ferdinand Lassalle, em 12 de maio de 1851 escreve-lhe uma carta perguntando sobre a obra, Marx também é forçado por Engels, em carta, a falar da obra, dizendo-lhe:

“Não sei quando te convencerão de que não tens porque seres tão consciencioso em tuas coisas e de que ela está mais do que bem para o público. O principal é que o escrevas e que ele se publique. Os defeitos que por ventura envergues nele não serão vistos pelos asnos”. Marx não se deixava precipitar pelos conselhos do amigo.

Em 1855 Marx perde o filho Edgar, de nove anos

Uma vez que ia atrás dos elementos que julgava necessários para a elaboração de sua obra, Marx para ganhar o seu sustento, escrevia artigos sobre política internacional para diversos jornais de diversas correntes.

Insurreição espanhola

Um dos artigos de grande interesse, entretanto, a que representa maior número de artigos, foi o que Marx escreveu durante muito tempo para o “New York Daily Tribune”. A matéria de início era escrita por Engels, ou por ele traduzida, pois Marx ainda não dominava a língua inglesa. Mas, em meados de 1853 ele já arriscava redigir sozinho.

Em seus artigos ao “New York Daily Tribune”, Marx comenta sobre a insurreição ocorrida na Espanha em 1854, quando dois generais – O’Donnell e Dulce – incitam suas tropas contra o rei, buscando juntar a insatisfação do povo ante a política econômica e financeira da monarquia. Marx para entender melhor a história da Espanha, aprende a língua espanhola lendo Cervantes e Calderón no original.

A miséria do povo, por si só, nunca bastaria para provocar uma revolução, era o que Marx sabia. Por isso ele não fica surpreso quando, em 1856, as forças reacionárias espanholas derrotam o movimento começado em 1854. Apesar de haver frustrado, tal movimento proporcionou um progresso histórico. Como ele mesmo disse: “Um progresso cuja lentidão só pode assombrar aos que não conheçam os hábitos e costumes de um país onde todo mundo está sempre disposto a dizer que seus antepassados levaram oitocentos anos para expulsar os mouros”.

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Certa vez, Marx propôs ao jornalista do “New York Daily Tribune”, Charles Dana, a quem conheceu em Colônia, nos idos da “Nova Gazeta Renana”, escrever uma história da moderna filosofia alemã para que fosse editada em livro nos EUA. Dana lhe responde de que caso a obra não ferisse os “sentimentos religiosos” do povo norte-americano, sim, poderia ser escrita, essa era a garantia imposta a Marx. Portanto, a história jamais foi escrita.

Colonização da Índia pelos ingleses

Em um de seus artigos, em 1853, no mesmo jornal, Marx analisou o domínio britânico na Índia, divulgou que a exploração inglesa ao povo indiano foi um verdadeiro desastre, pois destruiu seu modo de vida tradicional, saqueando suas riquezas, além de explorar o trabalho.

No entanto, segundo ele, a condição de atraso da Índia, embora tenha sido dificultada pelo abuso colonial britânico, encontrou nesse próprio abuso as condições necessárias à sua modificação. O povo indiano após terem entrado em contato com o domínio industrial e a tecnologia inglesa, além de terem sofrido o peso, não mais iriam abandonar suas exigências, uma vez que o país deles também viesse a se industrializar. Hoje, como vemos, a Índia junto com a China, são líderes em inovação tecnológica[1].

Discordância

Certa vez, Marx chegou a pensar em ir residir com a família nos EUA, após anos  de trabalho no “New York Daily Tribune”.

Mas, após alguns períodos escrevendo para o jornal, começam a surgir aborrecimentos, pois certos artigos seus eram escritos apenas como editoriais, sem sua assinatura. Alguns até saíam com sua assinatura, mas com cortes. Enquanto outros aguardavam na gaveta e não eram publicados. Isso, devido que na redação havia um polonês chamado Gurovski, que era simpatizante da Rússia czarista e impedia que chegassem ao público os ataques de Marx à política russa.

Dana, recebe uma carta de reclamação de Marx, propõe então que ele colabore com a “Nova Enciclopédia Americana”, Marx expõe tal fato a Engels, ele aceita, escrevendo uma série de anotações sobre “assuntos históricos”.

Esses artigos escritos em diversos jornais e na Enciclopédia, são um alívio para Marx, uma vez que sua situação habitual, durante cerca de vinte anos, foi de miséria. Nessa época, Jenny, sua esposa dá a luz sua filha, Eleanor e a família importunada pelos credores, se vê obrigada a se refugiar por alguns meses na casa de Engels.

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No entanto, antes de se instalar na casa de Engels, Marx sofre outro grande golpe, em 12 de abril de 1855, seu filho Edgar, aos nove anos vem a falecer. A morte de Mush, apelido carinhoso de Edgar, deixa Marx bastante entristecido. Em total entristecimento, escreve a Engels: “Tenho passado por todas as espécies de dificuldades, mas só agora sei mesmo o que é uma verdadeira desgraça”.

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Após dois meses dessa tragédia, escreve a Lassalle: “Bacon1 diz que os grandes homens têm relações tão diversas com a natureza e com o mundo, têm tantos objetivos a reter-lhes a atenção, que lhes é fácil esquecer a dor de qualquer perda. Pois bem: não sou um desses grandes homens. A morte de meu filho me abalou profundamente o coração e a cabeça. E continuo a sentir-lhe a falta com a mesma intensidade que no primeiro dia”.

Os escritos sobre Economia Política, então, são adiados.

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, Conselheiro do Sindicato dos Economistas (SINDECON/MG) e ex-Coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG)

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

1) Francis Bacon (22.01.1561-09.04.1626), ex-Lorde Chanceler do Reino Unido; filósofo, cientista, ensaísta inglês, barão de Verulam e visconde de Saint Alban econsiderado um dos fundadores da Revolução Científica.

 

 

Edição: Elis Almeida