Rio Grande do Sul

Coluna

Linguagem inclusiva de gênero nas escolas sim!

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"Não se pode ensinar para a opressão. A pluralidade é princípio constitucional da educação" - Foto: Leandro Taques
Salvemos as nossas crianças e a diversidade deste bando de fanáticos extremistas

A língua portuguesa oficial não está ameaçada com a linguagem inclusiva de gênero. A língua é viva e sustenta a cultura. A população LGBTQIA+ e os movimentos sociais têm clamado pelo reconhecimento dos direitos e das violências sofridas por este grupo, sobretudo racismo, desde a decisão do STF em 2019 que considerou LGBTfobia como crime de racismo. O RS é campeão nacional de taxa de racismo no Brasil, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021.

Inclusive o Museu da Língua Portuguesa já se manifestou a favor de todes na língua. A língua também é política, inclui, produz cidadania e salva vidas!

No ano passado, vi um professor de história da Rede Municipal de Porto Alegre ser perseguido por mãe de aluno ligada a político ultraconservador por ter usado em um bilhete aos alunos a palavra queride para se referenciar aos seus alunes. O professor foi notificado extra judicialmente pela mãe, não teve apoio suficiente da SMED, ficou adoecido e se afastou da escola pela perseguição e pela tentativa de silenciamento e censura. Ele censurou-se. Que perigo para a educação de todes.

Eles acham que falar de gênero e sexualidade é ideologia de gênero, comunismo. Incluir é ideologia. Direitos Humanos é ideologia e ativismo, dizem. Eles são "neutros" e advogam por uma "escola sem partido", sem aula que demonstre a misoginia, a xenofobia, o racismo, a LGBTfobia e a violência policial. Nada que coloque em xeque o patriarcado e a desigualdade entre homens e mulheres. Eles não querem a inclusão e trabalham em prol dos preconceitos que matam. De 2019 a 2020 cresceu em mais de 40% a violência letal contra pessoas trans no país, com 124 e 175 vítimas, respectivamente - mesmo com redução dos homicídios em geral.

Querem e aprovam capelania na escola, querem lei e ordem e que nossos filhos aprendam a obedecer e a acreditar que os homens héteros brancos merecem mais, naturalizando os privilégios.

Para eles, não tem problema não ter professor. Quanto menos professor para "doutrinar", melhor, sustentam. Por isso, optam por discutir "linguagem neutra" na escola, ao invés de discutir o direito básico à educação. Eles querem escola cívico-militar para ensinar a obedecer, tal como fazem com os jovens e negros periféricos através da violência policial, do encarceramento em massa e do extermínio dos jovens negros. Racistas! Eles consideram declaradamente que há vidas mais valiosas que outras e estão desesperados com a resistência em curso.

Esmagam as sexualidades, se acham no direito de invadir banheiro em shopping porque não concordam que uma professora travesti vá a um banheiro feminino. Quilombelas!

Eles matam, se preciso, e o Brasil é campeão mundial em mortes violentas de travestis e transgêneros. Por que não podemos falar e enfrentar a transfobia na escola? Por que não podemos mais falar de gênero e sexualidade na escola? Ah, porque é na escola que mais de 80% dos abusos e abusadores são descobertos. Ninguém ensina ninguém a ser gay. Somos o que somos e reconhecemos quem somos para além dos nossos corpos. Empatia! Mas para evitar a superação do machismo estrutural, demonizam a escola e professores que exercem seus direitos como educadores. Aprovam homeschooling, projeto inconstitucional.

Na semana passada, soubemos que há escola em Porto Alegre que demitiu todos os professores de esquerda, que gravava com vídeo e áudio a sala das professoras, que acabou com o Grêmio Estudantil e só traz "pais líderes" políticos da extrema direita da cidade para palestrar para os alunos. Isso se chama "escola sem partido"? Escola do partido único, o da extrema direita! O que prega a tortura, quebras institucionais e criminaliza negros e negras e a população LGBTQIA+.

Não se pode ensinar para a opressão. A pluralidade é princípio constitucional da educação. Eles ceifam a diversidade e podam a liberdade de ensinar e aprender. Querem uma sociedade de pessoas iguais e que a diferença seja aniquilada. Fascistas! Covardes! Lutaremos sempre e mais contra esse pensamento arcaico, intolerante e que espuma ódio. Nojo! Nojo de quem estrutura a morte na nossa cidade e não se importa com a vida de todos, todas e todes.

Repudiamos o PLL 77/21 aprovado na Câmara de Vereadores hoje (4) e que proíbe a "linguagem neutra" na administração pública em Porto Alegre, de autoria dos que pregam o pensamento único na escola e na sociedade. Salvemos as nossas crianças e a diversidade deste bando de fanáticos extremistas que nos querem "na ponta da praia". Isso também é violência política de gênero e estes que fazem o debate do fim da linguagem inclusiva de gênero com tantas outras prioridades deveriam responder criminalmente por isso!

* Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira