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Se não agora, então quando?

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"Fica claro, neste momento, que Lula deixou de ser o “melhor para Brasil”. Passou a ser o melhor para o mundo" - Reprodução
O fascismo no Brasil se coloca como ameaça global, a ser sustada já, e sob nossa responsabilidade

Sem dúvida, nada mais gritante esta semana, do que a capa da revista Time.

Aquela comparação, elevando Lula à condição de líder moral global significa mais do que nosso povo está alcançando entender, no tempo presente. A capa e o conteúdo da matéria se somam ao reconhecimento da ONU, dando conta não apenas de que todos fomos vítimas da injustiça imposta a ele, como de que precisamos dele, para nos recompor como nação.

Fica claro, neste momento, que Lula deixou de ser o “melhor para Brasil”. Passou a ser o melhor para o mundo. Não se trata apenas da opção para a saída do lamaçal tupiniquim em que este país gigante afunda. Se coloca como condição para superamos, sem rios de sangue, o apodrecimento moral que já ameaça o planeta, com a destruição dos ecossistemas, a multiplicação de cepas viróticas, a desmoralização de instituições e a consolidação de obscenidades em todos os níveis.

Não por acaso temos em Lula o nome preferido pelas direitas moderadas, pelos centristas e pelas esquerdas de todos os continentes. Ele viveu o drama dos injustiçados que se reerguem por força da verdade. É o brasileiro ligado à superação de nossa síndrome de vira-latas, aquele que encarna a paixão e a retomada do orgulho nacional. Existe algum paralelo? Quem mais é aplaudido em pé por onde passa? Quem fez mais pela saúde, educação e autoestima dessa nação?

Lula é nossa singularidade, e seria nosso candidato a senador global pela ONU, se houvesse previsão de tal instância na democracia internacional.

Como, então, pensar outros nomes para renegociação dos rumos do Brasil, entre os brasileiros e com as demais nações do planeta? Sem chance.

No entanto, e isso apavora, muitos querem acabar com ele. Literalmente.

E temos medo do que avança, oculto sob aquelas ameaças que escapam aqui e ali, da boca de uns e outros seguidores daquele de quem não se fala o nome. Estimulados a deixar transbordar seus instintos mais baixos, vão se comportar de que forma? Tudo pode acontecer. E enquanto isso, vão se fortalecendo todos os tipos de negócios do mal.

Vejam o caso das armas e dos elementos que mapeiam o rastro de sua transformação em objetos de desejo de homens, mulheres e crianças de todas as idades. Vejam o que se passa nos clubes de tiro e nas propagandas oficiais que os estimulam. Vejam aquele outdoor do Curso de Pistola Patriota e seu “completão” de 150 disparos, que prepara atiradores para algo que evolui do básico ao avançado/combate.


Outdoor divulga Curso de Pistola Patriota e seu “completão” de 150 disparos, que prepara atiradores para algo que evolui do básico ao avançado/combate / Arquivo pessoal

Enquanto isso abestalha o povo das cidades, preparando o pior para ambientes urbanos, no interior o inferno já se faz real. E o mundo sabe disso. Denúncias no Deutsche Welle dão conta de que, em favor do garimpo ilegal estimulado por este governo, nossos yanomamis estão sendo trucidados. Genocidas empurrando povos inteiros para o esquecimento, junto com as florestas e o universo espiritual que cultivam. Esta semana a denúncia foi além da ficção metafórica de cidade arrasada, que o filme Bacurau anunciava em 2021. Neste caso real, com terrível e vergonhoso sucesso, uma comunidade inteira foi destruída pelo fogo e seus  habitantes desapareceram. Os grandes números de relatório da Comissão Pastoral da Terra indicam, para 2021, crescimento de 94% nos conflitos e de 30% nos assassinatos no campo. A cada semana se chora por alguma liderança morta a tiro, ou pela passagem de mais um ano sem julgamento dos assassinos. Também morrem pessoas que simplesmente investigam, ou que se colocam como afetados pela gestão daquele de quem não se fala o nome. Morrem inclusive alguns de seus ex-afetos, ainda que recém paparicados pela família real, como o laureado capitão Adriano.

Decorre disso que o medo se generaliza, apoiado naquela sensação ruim de que estamos lidando com malucos, com gente que comemora a tortura e age de acordo com a crença de que para eles vale tudo. No mínimo, a graça, como diria aquele deputado sem graça alguma.  

E assim, acelera-se a destruição do espírito e do reino ambiental a que pertencemos, erodindo com eles as bases da vida planetária. Apenas no atual desgoverno perdemos uma biodiversidade de riqueza incalculável, até então contida em 1,5 milhão de hectares de florestas primárias dizimadas. Com isso, avançamos no espiral de auto destruição que levou a ONU a projetar ocorrência de 1,5 desastres ambientais (grandes queimadas, enchentes, pandemias e acidentes químicos de grande porte) por dia, até 2030.

Neste quadro o fascismo no Brasil se coloca como ameaça global, a ser sustada já, e aqui, sob nossa especial responsabilidade. Edgar Morin, tratando de caminhos para a renovação das solidariedades aponta os riscos de fortalecimento da ultradireita como a maior ameaça atual, a ser superada pela humanidade. Ele vê na atração do abismo um vórtice que só será controlado pela ação coordenada em novos rumos e com as lideranças adequadas. Pensamos em quem, lendo isso?

Luiz Marques, no programa Arte, Ciência e Ética numa Brasil de Fato, também sugere que Lula é a pessoa certa, para nos levar ao próximo e maior desafio: o de enfrentar a desigualdade, os racismos, o consumismo desenfreado, e a incompreensão de muitos, quanto às urgências que impõem o avanço da agroecologia e a renovação de uma solidariedade verdadeiramente ampla, de alcance plurigeracional.

 

 

Nota: Após publicação da coluna foi noticiado que o grupo de yanomamis desaparecido escapou com vida, embrenhando-se no mato.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko