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KiLomba

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"KiLomba é o cursinho popular da Lomba do Pinheiro, com sua primeira edição, em 2019, para formar, ´de grátis´,  jovens da periferia para o vestibular" - Arquivo Pessoal
"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda"

´Ki´: Quilombo, terra da igualdade, da justiça, da liberdade, quilombola, quilombolas.

´Lomba`: Lomba do Pinheiro, vilas populares de Porto Alegre e Viamão, a uns 20kms do centro da capital gaúcha.

´Ki´: ´Qui´, que Lomba queremos construir, qual o passado, o presente e, principalmente, o futuro da Lomba do Pinheiro?

KiLomba é o cursinho popular da Lomba do Pinheiro, com sua primeira edição, em 2019, para formar, ´de grátis´,  jovens da periferia para o vestibular. A edição/2022 foi lançada dia 9 de maio, com dezenas de alunas e alunos. Ninguém paga nada, os professores trabalham de graça. Fruto de sua existência, muitas de suas alunas e alunos de edições anteriores foram aprovadas-os no vestibular e estão na Universidade.  

O KiLomba é iniciativa do Conselho Popular da Lomba do Pinheiro, que existe desde 1991, contando com apoio da Paróquia Santa Clara da Lomba do Pinheiro, que disponibiliza para as aulas o CPCA, Centro de Promoção da Criança e do Adolescente, para as aulas, existente na vila Jardim Franciscano, parada 10 da Lomba, próximo da recém inaugurada Estação da Cidadania. Conta ainda com o apoio das Associações de Moradores do bairro e do Núcleo de Reflexão Política da Lomba do Pinheiro, integrado por lideranças populares e comunitárias do bairro.

Diz uma das coordenadoras do KiLomba, a professora e liderança comunitária Tavama Nunes dos Santos, moradora da parada 10 da Lomba: “A gente quis juntar o nome da Lomba do Pinheiro com o termo quilombo, que é um espaço de resistência e de luta. Para refletir, sempre nas primeiras aulas temos a seguinte provocação: que Lomba do Pinheiro nós desejamos, uma Lomba do Pinheiro com jovens universitários. O nome veio desse pensamento de inclusão.”

Segundo o texto de fundamentação do KiLomba, “o objetivo é qualificar o conhecimento e proporcionar o acesso dos moradores da região, especialmente jovens, à Academia, e abrindo oportunidades no mundo do trabalho. Como diz Paulo Freire, ´se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda´. O nosso entendimento é que a educação é dos melhores caminhos para transformar a vida de uma pessoa.”

“Neste contexto, onde prática-teoria-nova prática, ação-reflexão-nova ação são parte da metodologia dos agentes políticos da Lomba do  Pinheiro, surgiu a proposta da criação de um Cursinho pré-vestibular, o KiLomba” (Selvino Heck, em ´Freireanamente´, na revista La Piragua, do CEAAL, Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe, nº 46, setembro/2020, com o tema geral ´O Legado de Paulo Freire para a América Latina e Caribe´, disponível na pagina do CEAAL do facebook).   

Quando a comunidade se organiza, as coisas acontecem, mesmo em tempos em que as políticas públicas estão sendo destruídas na educação, na saúde, na segurança alimentar, na agroecologia, na economia solidária e outras tantas áreas.

A Lomba do Pinheiro tem uma longa história de organização popular. Começou com a presença e trabalho dos frades franciscanos em 1971, ao qual me integrei pessoalmente em 1977, eu então frade franciscano, morando na vila São Pedro da Lomba do Pinheiro, parada 13, e mais tarde na vila Santa Helena, parada 12 (Quem quiser mais detalhes dessa já longa história, pode procurar e ler a Dissertação de Mestrado de Cléo Adriano Sabadi Bonotto, ´TENDO A CRUZ POR BANDEIRA: movimentos religiosos contra-hegemônicos na América Latina inspirando as histórias da formação e a prática de agentes religiosos em movimentos populares no Rio Grande do Sul - 1970-1980, disponível via Google).

O KiLomba, junto com outros vários Cursinhos Populares hoje existentes em Porto Alegre e Rio Grande do Sul, segue esta trilha de luta, de organização popular de baixo para cima, de conscientização à base da educação popular de Paulo Freire, da Teologia da Libertação. Não se pode esperar que as coisas aconteçam. É preciso fazer acontecer. Como sempre profetizou Paulo Freire, ESPERANÇAR. 

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko