Rio Grande do Sul

ELEIÇÕES 2022

“O Rio Grande não vai ficar para trás da mudança em nível nacional”, diz Pretto

O pré-candidato do PT ao governo do RS critica o teto de gastos e a submissão do estado a “tecnocratas de Brasília”

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Deputado estadual, Edegar Pretto é a aposta do PT para a disputa ao Palácio Piratini - Foto: Marcelo Ferreira

No terceiro mandato como deputado estadual, Edegar Pretto, 50 anos, é pré-candidato do PT ao governo gaúcho. Com raízes na agricultura familiar, ingressou na política através do pai, o ex-deputado federal pelo PT Adão Pretto. É a aposta do partido para conquistar o Palácio Piratini, o que não ocorre desde 2010. Ex-presidente da Assembleia Legislativa e líder da bancada durante o governo Tarso Genro, na última eleição fez votos em 473 municípios. Aqui, ele adianta seus planos e recorda como o pai, que ganhou fama como trovador nas manifestações pela reforma agrária nos anos 1980, acabou trazendo o então menino Edegar para a mesma lida dos versos e dos palcos populares. Acompanhe.   

BdF RS - Quem é o Edegar Pretto?

Edegar Pretto - Eu venho do cabo da enxada. Convivo de perto com a situação que os trabalhadores vivem. Pessoas da minha convivência sofrem com o desemprego, para pagar as contas no final do mês, tem insegurança sobre como será a educação dos seus filhos. E só aceitei este desafio – de ser candidato - porque sei que tem muita gente com a mesma disposição que eu construindo esta possibilidade. Farei a minha parte. E vou dormir no final desta caminhada tranquilo sabendo que eu vou fazer tudo para honrar as minhas origens, quem me acompanha e quem me trouxe até aqui.


Edegar Pretto ao lado de lideranças políticas em evento de pré-campanha ao governo do RS realizado no último sábado (28) em Porto Alegre / Foto: Joaquim Moura

Vim fazer a trova com meu pai no Comício das Diretas

BdF RS - E falando em quem te trouxe até aqui, estás em uma foto com teu pai, aos 11 anos, numa edição da Romaria da Terra, em Encruzilhada Natalino...

Edegar Pretto - Esta foto eu consegui da capa de um livro publicado no Paraná. Meu cunhado namorava a minha irmã e morava lá. Quando foi fazer a mudança para cá, minha irmã encontrou a foto e disse: ‘Mas estes aqui são o meu pai e o meu irmão`. Era capa de um livro sobre comunicação popular. Estamparam esta foto que é de um pai segurando o microfone para dar voz ao filho. E aqui está o velho Adão em 1982, fazendo uma trova em Encruzilhada Natalino, que foi o berço da reconstrução da luta pela terra. Então também estou peregrinando nesta estrada já há muitos e muitos anos.

BdF RS - Podes declamar?

Edegar Pretto - Esta trova era um improviso ensaiado. Meu pai fazia os versos e eu decorei e cantei com ele desde os 10 anos. Falam sobre o que meu pai lutava para construir:  ficar junto com o filho, ter um pedaço de terra, dar oportunidade de escola para os filhos. Era também para as pessoas pensarem no seu dia a dia.

Eu começava dizendo:

“Meu pai sempre foi alegre, bem-disposto e divertido
De um certo tempo pra cá tem andado aborrecido
Se não é segredo, me conta o que tem acontecido."

E o velho Adão respondia:

“O que tem acontecido te respondo direitinho
É meu dever de pai, nunca te neguei carinho
Estou pensando no teu futuro
Que tu estás ficando mocinho.”

E eu:

"Que eu estou ficando mocinho
É motivo de se alegrar
Eu tenho dois braços fortes já posso lhe ajudar
Eu quero um pedaço de terra onde eu possa plantar."

E Adão:

"Aonde podes plantar, perdoe meu filho amado
Exatamente o motivo que me deixa emocionado
Tu vai ter que ir para cidade trabalhar como empregado."

E minha resposta:

"Para trabalhar de empregado
Mas eu quero ser um agricultor
Eu quero trabalhar na terra
Quero plantar e colher quero ser igual ao senhor."

Adão, fechando a trova:

"Para ser igual ao senhor
Esta frase me condena
Em todo lar no interior se repete a mesma cena
Só um pai sem coração que não enxerga o problema."

E vim conhecer Porto Alegre fazendo esta trova com meu pai no Comício das Diretas. Cem mil pessoas, uma cena que nunca saiu da minha cabeça.


Atrás de Pretto está um quadro com a trova e a foto dele declamando, com 10 anos de idade, junto de seu pai   / Foto: Marcelo Ferreira

O governo do Leite é muito bom na internet e na TV quando fala sozinho

BdF RS - Que estado desenhas para os próximos quatros anos, caso sejas eleito?

Edegar Pretto - O governo que aí está tem colocado o estado, o poder público, muito distante do cotidiano, da vida das pessoas. Ao ponto de as pessoas terem dificuldade em saber qual é o papel do estado, quais as suas obrigações. Porque é um estado ausente. O governo do Eduardo Leite tem se constituído em um governo muito bom na internet e na televisão quando fala sozinho. Na minha opinião, está totalmente desconectado do cotidiano.

Quero construir um estado que faça diferença na vida das pessoas positivamente. Acho que é possível utilizando as estruturas do estado. Mas principalmente tendo um governante sensível e que conheça o cotidiano das pessoas e eu, modéstia à parte, conheço o Rio Grande de ponta a ponta. Sei dos potenciais de cada região, as dificuldades que cada comunidade enfrenta. É justamente onde tem mais carências que o estado tem que se fazer mais presente. Tratar os setores produtivos como parceiros e não como atrapalho que infelizmente é o que estamos assistindo hoje.

Como pode existir uma dívida de R$ 9,5 bilhões, da qual já foram pagos R$ 37 bilhões?

BdF RS - A gente vem sofrendo, ao longo dos anos, uma destruição bárbara do estado, do estado democrático de direito, do serviço público. Aqui, semana passada, foi aprovado na Assembleia Legislativa um teto de gastos de 10 anos para o Rio Grande do Sul. O Regime de Recuperação Fiscal que chamam. Como recuperar a capacidade fiscal do estado diante disso?

Edegar Pretto - Primeiro, esta intenção que o governo do estado tem de aderir ao Regime de Recuperação Fiscal é mais um dos péssimos negócios que o projeto neoliberal tem feito pelo Rio Grande do Sul. Mesma caracterização da dívida que foi contraída de uma forma injusta e impagável. Aliás, em nome daquela dívida concedida lá atrás pelo Fernando Henrique Cardoso e o Antônio Britto, é que, agora, Eduardo Leite se elegeu com uma proposta nova. Para ser uma renovação dos quadros da direita, descomprometido, dizia ele, com a velha política. Só não fala como faz exatamente o que os que o antecederam neste mesmo projeto coordenado aqui no Rio Grande do Sul.

Como é que pode (existir) uma dívida de R$ 9,5 bilhões, da qual já foram pagos R$ 37 bilhões, e ainda devermos R$ 73 bilhões? Ou seja, pagamos quatro vezes o valor original da dívida e devemos ainda oito vezes o valor original desta dívida. E é em nome desta dívida, injusta e impagável, que o governo Eduardo Leite, aliás ex-governo Eduardo Leite, porque renunciou e quem está de governador é o Ranolfo (o vice Vieira Junior), que ele quer impor a continuidade do pagamento desta conta tão amarga para a população.

Vejam, nós já estamos pagando esta conta para o estado aderir ao Regime de Recuperação Fiscal. Em nome deste acordo, o (ex-governador José Ivo) Sartori lá atrás extinguiu as nossas fundações, a FEE, por exemplo, a Fundação de Economia e Estatística, que assessorava o governo, foi extinta. Tinha um custo baixíssimo. Mas, nesta onde privatista onde tem que se aparecer para o Deus Mercado, tem que se diminuir o estado. É sempre muito pesado, burocrático. Tudo que é público não funciona na mão deles. Professores e professoras, servidores das escolas, e outros servidores que ganham menos, agora estão tendo descontado nos contracheques um percentual, em nome da reforma da previdência feita aqui. Servidores que trabalharam uma vida toda e que escolheram agora o momento de se aposentar. E agora esta deslealdade do governo estadual, de impor o orçamento do estado não mais sobre a gerência do governante.

Três tecnocratas em Brasília vão dizer se podemos contratar professor ou investir na agricultura

Se aderiu ao Regime de Recuperação Fiscal, o teto de gastos, que era para quatro anos originalmente, foi prolongado para mais dez. Todo o nosso orçamento tem que estar subordinado ao Conselho Nacional, em Brasília. E a três tecnocratas que vão dizer se podemos contratar médicos, se podemos contratar professor, se é importante fazer investimento na agricultura para produzir mais alimento e baratear o custo pros consumidores, se é importante um programa de incentivo à pequena e à microempresa. Tudo fica subordinado ao Conselho Nacional. O governante não será mais dono do orçamento.

A bancada do PT é fortemente contra a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal porque não vai resolver os problemas da dívida. Eduardo Leite renunciou sem pagar a dívida. Na terça-feira em que foi votada a medida, o governo continuou sustentando, enganando sua base parlamentar, de que no próximo ano esta conta começaria a ser paga em 400 milhões. Então fizeram as contas: R$ 400 milhões é um valor pequeno e nós saímos desta trava que fica sobre nosso pescoço e se cair esta liminar (a favor do estado e concedida pelo STF em 2017) teremos R$ 16 bilhões para serem pagos. É importante isso: a decisão do Sartori e do Leite de não pagar a dívida, que é injusta, mas sem fazer nenhuma mobilização para mudar este quadro, aumentou a nossa dívida em R$ 16 bilhões. Daí a narrativa “É melhor você pagar aos pouquinhos, R$ 400 milhões no ano que vem, do que pagar R$ 16 bilhões”. Primeiro, porque não tem esta possibilidade de R$ 16 bilhões.


"Não é leal o governo do Leite e do Ranolfo querer impor ao próximo governante ou aos próximos governantes uma dívida da qual não participamos" / Foto: Marcelo Ferreira

Não é só o Rio Grande do Sul. São muitos os estados. Se cair (a liminar) não cai só pra nós, cai pra todos. É a mesma coisa que um cartão de crédito onde você deve uma parcela que não conseguiu pagar. Se não conseguiu pagar a segunda, tu não vais preso. Vai para uma negociação. O dono do cartão vai propor uma negociação. Assim é a dívida injusta e impagável que o estado tem com a União. Mas eles apregoaram que se não houvesse o Regime de Recuperação Fiscal, teríamos que pagar de pronto os R$ 16 bilhões. A imprensa gaúcha publicou toda esta narrativa. Depois da votação, o governo publicou no seu sítio como serão as parcelas do pagamento da dívida. E não são R$ 400 bilhões. São R$ 2 bilhões que começam a ser pagos no ano que vem.

Não é leal o governo do Leite e do Ranolfo querer impor ao próximo governante ou aos próximos governantes uma dívida da qual não participamos. Que não sabemos como está se dando esta negociação. A sociedade gaúcha, convidada a continuar pagando esta dívida, também não foi consultada. Então, é desleal o governo, faltando meses para terminar seu mandato, subordinar o nosso orçamento ao Conselho Nacional e continuar com uma dívida que vai piorar e muito as finanças.

Colocaram na cabeça das pessoas que os servidores públicos são inimigos do estado

BdF RS - Dentro deste cenário todo, será possível ter alguma recuperação da política salarial dos servidores públicos e realização de novos concursos, ou seja, reestruturar os serviços públicos?

Edegar Pretto - Junto com o movimento sindical e as categorias temos que ter unidade e construir uma narrativa verdadeira sobre a importância dos servidores públicos. Porque os governos liberais que aí estão colocaram na cabeça das pessoas que os servidores públicos são inimigos do estado. Que os problemas do estado existem por culpa dos servidores. É um desrespeito aos servidores. Não haverá política pública efetiva se não tiver o servidor público trabalhando com autoestima para fazer a política fazer acontecer na ponta, para aqueles que mais precisam. Esta mentira tão forte e tão injusta fez com que pessoas pobres, trabalhadores que sobrevivem exclusivamente das políticas públicas, falem mal dos servidores públicos. Temos que criar uma outra narrativa.

Não tem estado que funcione se os seus agentes não estiverem trabalhando bem, sentindo-se respeitados. Os servidores do Rio Grande conhecem os governos do PT. Não somos irresponsáveis com a coisa pública. Quero responsabilidade com as finanças públicas. Agora, os investimentos que o estado precisa fazer têm que ser do tamanho da necessidade que as pessoas e os setores produtivos precisam. Primeiro vamos voltar a tratar os servidores públicos com respeito e diálogo. Eles têm que ser parceiros do estado. E, obviamente, trabalho com a possibilidade de a gente ter uma reação positiva da economia. Já testamos isso lá nos governos do Tarso Genro e do Olívio Dutra. Foram governos que pagavam a dívida com a união, em torno de R$ 280 milhões por mês. Não aumentamos impostos, não atrasamos salários dos servidores, não privatizamos e fizemos pesados investimentos nos setores produtivos, agricultura, pequenas e microempresas. Nos governos do PT, o lucro do Banrisul servia para induzir o desenvolvimento. Por exemplo, quando o Tarso Genro ganhou (a eleição) da ex-governadora Yeda Crusius, a carteira de crédito do Banrisul era de R$ 17 bilhões. Quando terminamos o governo eram mais de R$ 30 bilhões. Pequenas e microempresas tiveram uma parceria. Microcrédito, por exemplo, que são pequenos valores, mas também dando a possibilidade de financiamento especial.

Vamos fazer o que o Tarso Genro sempre nos ensinou. Temos que enfrentar a crise fazendo investimentos e não cruzando os braços. Não ficar na choradeira botando a culpa nos outros. Vamos estar emparceirados com o presidente Lula. Estou fazendo a montagem do nosso governo levando em conta que não será mais o capitão o presidente. Lula sabe a importância que o estado tem na federação. Sabe como é importante a produção que a gente tem aqui. Sabe quantas dificuldades o nosso estado está enfrentando.


Pretto no evento de pré-campanha / Foto: Joaquim Moura

A cesta básica aqui é a mais cara do país porque Bolsonaro e Leite abandonaram a agricultura familiar

Tive oportunidade de conversar com o presidente Lula por duas horas há duas semanas. Contei das dificuldades que está enfrentando o povo trabalhador. O Rio Grande voltou a conviver com a fome. Um estado que produz tanto e estamos com 1,2 milhão de pessoas passando fome. Vivendo abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo mensalmente com uma renda de R$ 277,00. A cesta básica aqui é a mais cara do país. Porque o Bolsonaro e Leite abandonaram a agricultura familiar, as políticas públicas para os pequenos agricultores que produzem comida. No ano retrasado, a China comprou 97% da produção de soja do Rio Grande. Utilizamos nosso solo forte e nossa estrutura agrícola para matar a fome dos animais na China e os governos não se importam com quem está passando fome aqui. Estamos pagando a comida mais cara do Brasil. A cesta básica é vale R$ 783,00. No governo Lula era R$ 277,00. A vida piora e o governo faz cara de paisagem, passando a mensagem que o estado vive uma maravilha, que está um paraíso. Vamos construir assembleias populares com diálogo com a sociedade sobre o que ela espera do próximo governante. Faremos um governo sintonizado com a vida real. Vamos fazer a economia reagir positivamente, arrecadar mais e cuidar melhor das pessoas.

BdF RS - Durante a pandemia foi um caos porque teve que se implantar o sistema online e as escolas não tinham estrutura para isso e nem os estudantes. Está muito difícil a retomada. O CPERS fez uma pesquisa trazendo esta realidade. Como se pretende trabalhar a educação?

Edegar Pretto - A educação nos governos do PT sempre foi uma pauta de muita relevância. Assim foi com Olívio, assim foi com Tarso. Olívio criou a UERGS. Tarso fez intervenções em mais de duas mil escolas com reformas e mudanças. Hoje, 83% das escolas não têm um pátio. E 14% não tem banheiro ou se tem não está funcionando. Leite, na pandemia, poderia ter reformado ou feito pequenas reformas nas escolas, cuidado do pátio, da vidraça, do banheiro, da pintura, do quadro. Reformar o pátio para as crianças fazerem recreação. Mas preferiu guardar dinheiro para buscar uma manchete positiva que o estado vive um superávit. São R$ 2,5 bilhões guardados quando temos crianças sem banheiro e professores quase oito anos sem reposição da inflação. Filhos e filhas dos trabalhadores não conseguiram ter aula nem remota porque não tinham internet ou celular. Porque o único celular que tem em casa é do pai ou da mãe que trabalham durante o dia. Temos que colocar as crianças mais tempo na escola para recuperar este conteúdo e tirar o déficit. Queremos fazer esta recuperação com uma intervenção pesada na estrutura da escola, os professores voltarem a trabalhar com valorização.

A educação será sempre a nossa prioridade. Quero assumir um compromisso, sendo governador, de levar para a escola comida saudável. Ninguém aprende se estiver com fome. Quando a criança chegar na escola, as que precisarem, em regiões com unidades em situação de vulnerabilidade, o estado vai disponibilizar comida, o café e, antes da criança ir embora se ela tiver necessidade, ela vai almoçar. Os que chegarem à tarde, se precisarem, vão almoçar na escola e sair jantados.

E vamos comprar comida da agricultura familiar. Temos uma legislação nacional que impõe que, no mínimo, 30% da merenda tem que ser comprada da agricultura familiar. O estado não está cumprindo nem este mínimo. Mas pode ser 100% da merenda escolar sendo comprada da agricultura familiar. Quero dizer aos nossos agricultores que eles têm o direito de escolher o que quiserem plantar. Agora, se optarem por produzir comida, vamos garantir que vocês vão ter renda. E uma das possibilidades é a compra institucional. No governo Tarso, implementamos a compra local não só para a merenda escolar, mas para tudo. O pão francês que ia para os presídios lá de Palmeira das Missões vinha de São Paulo, uma massinha congelada. A carne que era colocada na cadeia tal vinha de outro estado e nós tendo o açougueiro e o agricultor que tem boi. Tornando a escola acolhedora, os servidores trabalhando felizes, é que vamos trazer de volta as crianças para a aula.

Em cinco anos, perdemos 46 mil famílias que produziam leite e não produzem mais

BdF RS - Já entrando então, nesta questão da agricultura familiar, que sofreu com a estiagem nos últimos 12 anos e está sofrendo com a ausência de políticas públicas já conquistadas já que o governo Bolsonaro está acabando com elas, como pretende trabalhar?

Edegar Pretto - Esta é minha origem. De onde eu venho. Sou autor do projeto de Lei do SUSAF (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte). Quando me elegi deputado, dez dias depois, já tinha protocolado meu primeiro projeto de lei, que virou lei no governo do Tarso. Antes, a legislação permitia ao pequeno agricultor produzir e industrializar, mas o seu produto, mesmo inspecionado, só tinha a possibilidade de vender dentro do município. Se vendesse um salame, queijo, mel, fora da divisa do município já estava na ilegalidade. Ou seja, o estado deu a possibilidade ao pequeno também fazer esta cadeia completa, produzir, industrializar e comercializar. Com muito debate que fizemos, conseguimos colocar cinco municípios adequados ao SUSAF e hoje já são 200 os que se adequaram. Centenas de agroindústrias que aderiram estão conseguindo se viabilizar. Quem tinha dois funcionários, agora tem 10. Quem vendia só no município agora vende para 50.


"É possível baixar o valor da cesta básica no Rio Grande" / Foto: Marcelo Ferreira

A agricultura familiar sempre será nossa prioridade. É possível baixar o valor da cesta básica no Rio Grande. Mas, se continuar desta forma, tanto com Bolsonaro e com a postura do Leite de virar as costas para os homens e mulheres do campo, caminharemos para um desabastecimento agrícola. Porque mesmo os pequenos, para se viabilizar economicamente, arrendam a terra para a monocultura. Deixam de produzir feijão. Nos últimos anos, estamos com 40% a menos de feijão sendo produzido no estado. Em cinco anos, perdemos 46 mil famílias que produziam leite e não produzem mais. Porque não tem viabilidade econômica. E assim é no arroz, no aipim, nos hortifrútis.

O principal consumidor do arroz ecológico do MST é a prefeitura do PSDB de São Paulo

Temos que voltar a dar para o agricultor a possibilidade de ter renda produzindo comida. E as compras institucionais são fundamentais porque garante que o estado será um cliente dos agricultores. O MST é o maior produtor de arroz ecológico da América Latina. O principal consumidor do arroz ecológico do MST é a prefeitura do PSDB de São Paulo. Que priorizou colocar na merenda escolar produtos saudáveis em respeito à legislação. Produz-se o arroz aqui e ele vai para o país inteiro e até para fora do país, mas aqui não tem valorização. Estou citando um exemplo de como é possível viabilizar o nosso agricultor, ter fartura e, na cidade, conseguir uma comida mais barata.

Não é possível os governos se vangloriando de recordes de exportação de carne e nosso povo não consegue mais fazer um churrasco de costela no final de semana. A carne no governo Lula era 16,00 (o quilo) agora está 60,00. O churrasco do gaúcho virou artigo de luxo. Isso não pode continuar. Vamos virar esta página. Não falei da seca, a pior dos últimos 70 anos, e a primeira vez que o governo do Rio Grande virou as costas para nossos agricultores. Ficou na promessa. Tanto Leite quanto Bolsonaro não têm política nem para os pequenos nem para os médios e nem para os grandes produtores. Por isso, eu tenho dito, os grandes produtores, os que tem juízo, vão apoiar e votar no Lula, porque lembram as políticas públicas instituídas quando Lula e Dilma foram governo.

BdF RS - Durante a pandemia, o SUS mostrou que é fundamental e um dos melhores sistemas públicos de saúde do mundo. Neste dia 30, iniciam-se aqui na Assembleia Legislativa, as audiências públicas para discutir a situação das vítimas da covid. Há milhões de pessoas com sequelas. O SUS tem cada vez com menos recursos. E soubemos esta semana do tal Projeto de Nação e que o objetivo dos militares, dos que defendem este projeto, é realmente privatizar o SUS.  Como vais trabalhar a questão da saúde pública?

Edegar Pretto - Além das sequelas, estamos com demanda reprimida de pessoas que esperam uma cirurgia, um exame, porque toda a estrutura do estado teve que se voltar para salvar vidas na pandemia. Estive em Novo Hamburgo e só lá tem uma demanda reprimida de cirurgias de catarata de duas mil pessoas. Sem contar todas as outras demandas das outras doenças e de outros exames que ficaram reprimidos não só ali, mas em todo o estado. E o governador está fazendo poupança num momento como este. Estabeleceu agora o tal do Assistir, que pretende tirar R$ 315 milhões de 56 hospitais aqui da região metropolitana. Tirar para oferecer um orçamento a mais para outros hospitais que também precisam. Mas, ao invés de botar mais dinheiro, em função do superávit prefere tirar daqui onde está concentrada a grande maioria da população, que é a região Metropolitana. Vai tirar dinheiro dos hospitais para botar em outros. É para agradar um deputado aqui, um deputado acolá, conforme a sua base parlamentar.

Lula já anunciou e eu concordo - estamos organizando esta mesma proposta para o Rio Grande - que é antecipar a Conferência Nacional de Saúde de 2024 para 2023.  Chegou o momento da gente convidar os trabalhadores da saúde que não saíram do front, que conviveram dois anos com o sofrimento, com a dor e a morte, ao ponto de ter que escolher quem iria sobreviver e quem não poderia mais, por falta de equipamentos e de estrutura. Temos que chamar os servidores da saúde, sociedade civil e governo para decidir onde serão os investimentos, onde se ataca primeiro, o que é importante na região tal, qual é a especialidade que está faltando, qual a estrutura que tem que ser colocada a mais. Não podemos errar. Então diálogo é fundamental.

Fui o líder da bancada do PT quando o Tarso foi governador e tive a oportunidade de participar e ajudar o estado a alcançar, pela primeira vez, os 12% do orçamento em saúde. Puxando para a educação, (lembro) as três universidades que o Lula construiu aqui. A nossa universidade de ciências da saúde de Porto Alegre, foi fundamental na produção de insumos, de testes. Temos que buscar a academia, os pesquisadores, mas não tem milagre. A gente tem que botar mais orçamento na saúde para atender a demanda.

Eduardo Leite e Sartori ficaram brigando para ver quem era mais amigo do Bolsonaro

BdF RS - Nos últimos dois governos, vimos a privatização acelerar sobre os principais serviços públicos. Como garantir a soberania do estado e a importância do serviço público neste contexto? Pretende reverter alguma privatização?

Edegar Pretto - Quando esta gente faz as privatizações, da forma que estão fazendo, faz as amarras jurídicas muito bem-feitas. Infelizmente. Mas claro que vamos botar um olho de lupa em cada um destes contratos e as concessionárias terão que cumprir com o estabelecido. Um exemplo é a CEEE. Tanto Sartori como Leite inviabilizaram a CEEE. Uma empresa que, nos nossos governos, cumpriu um papel extraordinário com o Luz para Todos, por exemplo, do governo federal em parceria com o estado. Não tinha dívidas ou não tinha grandes dívidas. Mas Sartori que tinha já o modelo da privatização, o DNA na veia, passou a não priorizar o pagamento do ICMS da CEEE. Exatamente isso, uma decisão política porque quem faz a nomeação do presidente da empresa é o governador. E se a política lá foi a de não priorizar o pagamento do ICMS ao estado, foi uma escolha política. Leite também não priorizou para desmontar e inviabilizar a empresa inclusive com a dívida que tem com o fisco estadual. E a CEEE passou a ser a empresa que mais deve ICMS no Rio Grande do Sul. Ao ponto que Leite foi para São Paulo e levou toda uma equipe junto para vender a CEEE por R$ 100 mil.


"O Sartori chegou a trocar de nome. Passou a se chamar Sartonaro... Leite não ficou para trás, fez campanha, votou. São responsáveis pelo Brasil estar neste caos que está hoje" / Foto: Marcelo Ferreira

Pedi para a nossa assessoria fazer as contas do que custou a viagem daquela comitiva para São Paulo para tirar foto junto com o Leite para (ver) se não foi maior a despesa do que a venda da empresa. Venderam a empresa, não exigiram nenhum tempo de transição, não teve nenhum preparo para a nova concessionaria, entrou lá já demitiu mil servidores. Contratou gente de forma precarizada, não deu treinamento e no primeiro vento que deu em Porto Alegre, fraco até, ficamos uma semana no escuro, a região Metropolitana e a região Sul. Ouvi donos de mercados, de armazéns, de padarias, chorando porque perderam todos seus estoques. Quem responde por isso? Cadê o governador? Cadê os deputados que discursaram (dizendo) que tinha que privatizar porque era a única saída? 

As nossas empresas públicas, nos governos nossos, foram fortalecidas tanto nacionalmente como aqui. E eu não sou defensor da manutenção de empresas pesadas que só trazem dívidas. Têm que avaliar cada uma. Qual a importância para o estado? Eduardo Leite, para se eleger, teve que mentir que não iria privatizar nem a Corsan nem o Banrisul. Para se diferenciar do Sartori, que eram projetos muito semelhantes, os dois brigando para ver quem era mais amigo do Bolsonaro. O Sartori chegou a trocar de nome. Passou a se chamar Sartonaro... Leite não ficou para trás, fez campanha, votou. São responsáveis pelo Brasil estar neste caos que está hoje. Tem que responsabilizar estas lideranças. Brigaram tanto, mas terminou a eleição e constituíram a mesma base parlamentar que está junta até hoje.  Como é que partidos como estes que fazem parte da base do governo Leite vão apresentar um projeto alternativo?

Na base dos partidos, existe uma vontade de estarmos juntos já no primeiro turno

BdF RS - Está havendo diálogo para ampliar a coligação?

Edegar Pretto - Estamos federados - PT, PCdoB e PV - nacionalmente e aqui também. Não está faltando no PT o esforço para ampliar esta frente política. Claro que cada partido tem seu calendário e seu tempo. Sinto que, na base dos partidos do campo progressista, tem uma vontade de estarmos juntos já no primeiro turno. Se não for no primeiro, será no segundo. Trabalho com muita convicção de que estaremos no segundo turno. E que vamos vencer. O Rio Grande não vai ficar para trás nesta mudança que vai acontecer em nível nacional.

Além dos partidos, estamos com uma grande aliança com setores da sociedade que não são do PT, mas são do campo progressista. São antifascistas, defensores da democracia. Já dialoguei com setores da educação, da juventude, das mulheres, do movimento negro, dos movimentos sociais do campo e da cidade. Neste dia 30 completamos um encontro nas 28 regiões tirando coordenações das pré-campanhas a governador e presidente.  

BdF RS - Como enfrentar a rede de fake news?

Edegar Pretto - O bem vai vencer o mal. Para isso tem que ter muita gente para fazer a mesma coisa. Como tem muita gente querendo nos ajudar, a ideia de formar as coordenações regionais partiu das mensagens que eu recebo. Todo dia recebo mensagens: Como é que eu ajudo? O que eu posso fazer? Eu respondo e vamos mobilizar estas vontades de forma organizada. Vamos formar redes orgânicas de quem quer contribuir para atacar as fake News. Para nos defender e para disseminar as notícias nossas, o programa de governo que será construído nas assembleias populares, tornar públicas as nossas agendas. Cada um que quiser ajudar neste processo de reconstrução do Brasil e do Rio Grande, está sendo convidado.

Agora, nesta semana, Lula vai estar aqui no estado e ele queria que eu convidasse o povo para estar junto. Lula vai se reunir com os partidos que o apoiam. Quer ter reunião com os setores importantes da nossa economia, com os setores do cooperativismo, da educação... No dia 1º., às 16 horas, vamos fazer um grande ato com a nossa militância, com os partidos, os movimentos sociais. Lula irá falar no final do dia, lá pelas 19 horas. Então convido todas e todos que quiserem matar saudade do Lula e ajudar a construir este novo Brasil e este novo Rio Grande que venham conosco.


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Edição: Ayrton Centeno