Rio Grande do Sul

Doar é vida

Para doadores de sangue, além de salvar vidas, a doação é um ato de humanidade

No Dia Mundial do Doador de Sangue, doadores contam suas motivações ao Brasil de Fato RS e incentivam a ação

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Se cada cidadão saudável doasse sangue pelo menos duas vezes por ano, não seriam necessárias campanhas emergenciais para coletas de reposição de estoques, afirma Secretaria da Saúde - Foto: Fabiana Reinholz

Mês de junho também é reconhecido como o mês vermelho, isso porque se celebra o Dia Mundial do Doador de Sangue, no dia 14. Criada em 2005 pela Assembleia Mundial da Saúde, a data tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da doação de sangue para salvar vidas e melhorar a saúde de muitos seres humanos.

“Na minha vida eu tive um episódio de saúde aos 11 anos em que eu passei por uma apendicite supurada, que é quando a inflamação do apêndice estoura. Tive uma infecção no abdômen, fiquei em uma situação muito grave e precisei de transfusão de sangue em função do procedimento cirúrgico e de toda gravidade. Eu nunca esqueci daquilo, então eu comecei a doar sangue”, relata o acupunturista e professor Edison Nogueira da Fontoura, 51 anos, e que há dez é doador. 

Para o professor, a doação de sangue carrega uma aura de humanidade e de desprendimento. “Mostra que todos nós estamos ligados de alguma forma e que essa ligação não se desfaz. Além do sangue ser uma substância vital, que mantém a vida, alimenta, nutre e dá sustentação, a doação é um ato de cidadania, de doação de uma pessoa para outra, um ato de civilidade e humanidade. A doação de sangue é uma forma voluntária e silenciosa de praticar a paz e a fraternidade. E também é um ato político importantíssimo”, ressalta Edison, lamentando o fato da campanha não ser tão divulgada quanto deveria ser, por questões culturais, preconceituosas e religiosas estabelecidas na sociedade. “O que pode ser mais importante do que salvar vida de pessoas?”, indaga.  

Assistente Social, Aléxia Prestes Aires, 24 anos, é doadora há oito. O ato é “herança” de família, pois sua mãe é doadora há anos e sempre incentivou a doação. Assim que completou 16 anos, idade mínima para fazer a doação, fez a sua primeira. “Comecei a doar por compreender a importância de salvar vidas e de como isso faz a diferença para pessoas que por algum motivo precisam receber aquela doação. Sigo doando sempre que posso, pois cada doação pode salvar até quatro pessoas”, conta.

Trabalhadora no Sistema Único de Saúde, Aléxia sabe na prática a diferença que a doação faz na vida de pacientes. Doadora universal  (sangue O-), de forma descontraída diz que o ato, além de salvar vidas, dá um dia de folga no trabalho. Ela explica que além da doação de sangue, tem também a de plaquetas, que é super importante e é destinada normalmente a pacientes com leucemia/câncer/anemia ou que fazem algum tratamento oncológico.

Presidenta do Sindicato dos Servidores Públicos do RS (Sindisepe-RS), Diva Luciana da Costa começou a doar sangue por considerar uma forma de ajudar as pessoas. A primeira vez que doou foi para ajudar o pai de uma amiga que precisava de doação. “Até então eu não tinha me dado conta do quão importante é, e que é uma coisa mínima que a gente faz. Porque tu senta ali naquela cadeira, eles retiram uma quantidade de sangue, não muda nada porque não te faz falta aquela quantidade de sangue para tu tocar a tua vida adiante. E é tão importante para tantas pessoas”, afirma. 

Ela acrescenta ainda que o mais interessante é observar que, normalmente, as pessoas costumam ajudar apenas quem está mais próximo e que com a doação de sangue isso se amplia. “Aquela quantidade que tu entrega voluntariamente vai ajudar a salvar vidas, muitas vezes, ou evitar complicações, e vai cuidar da saúde de pessoas que tu não faz ideia de quem sejam”, destaca Diva. Ela doa regularmente desde 2012 e enfatiza que o mínimo que devemos fazer é pensar no outro, o que vale tanto para doação quanto para outras situações.

A farmacêutica e servidora da Secretaria Estadual da Saúde (SES), Ediane Cardoso Lopes, 52 anos, que atualmente trabalha no hemocentro do estado do Rio Grande do Sul, conta que já era doadora de sangue muitos anos antes de trabalhar no local. A servidora fez sua primeira doação há mais uma década. “Sempre a minha motivação é a possibilidade de auxiliar outras pessoas que estão em um momento difícil, de vulnerabilidade, uma limitação de saúde por diversas questões”, expõe. 

Por trabalhar no hemocentro, afirma que consegue compreender ainda mais a importância da doação “O sangue é um fluído biológico que não existe outro substituto que não a partir da doação de um outro ser humano. É um ato lindo podermos auxiliar com recurso que é natural nosso e que faz bem também para o doador.” Ela ainda pontua que atualmente, com a complexidade das doenças e dos tratamentos, há uma dificuldade maior de encontrar doadores compatíveis com os pacientes que estão em necessidade. 

Doar é seguro

"Doar sangue é um ato de amor, de valorização à vida. Fora as limitações e impedimentos de saúde ou alguma outra limitações, do que depende da nossa vontade não tem o que impediria a doação de sangue. Pode ser o medo, o receio, mas a doação de sangue é um ato seguro tanto para o doador quanto do receptor", afirma. "Doem sangue", finaliza. 

Fernanda Borba, 33 anos, durante muito tempo esperou para doar sangue. Contudo não tinha o peso necessário para. Agora com o peso de 50 kg, assim que puder, já que ela começou em um emprego novo, irá realizar a doação. "Quando criança precisei de doação e vi quão importante é, e como se formou uma corrente de amigos e familiares para doar o que eu precisava", conta. A mãe dela desde então segue sendo doadora.

Em 2019, durante greve, servidores públicos do estado fizeram doação coletiva de sangue no Hemocentro da Capital, muitos deles pela primeira vez. O Hemocentro abastece em torno de 40 hospitais e mais de 100 municípios gaúchos. Toda bolsa é 100% do Sistema Único de Saúde (SUS), seja ela utilizada na rede pública ou na rede privada. São necessárias cerca de 100 bolsas de sangue doadas todos os dias para suprir a demanda. Uma doação de sangue é capaz de salvar até quatro vidas.


Os estoques de sangue estão baixos. Os tipos sanguíneos que precisamos reforçar são: O positivo e O negativo / Foto: Fabiana Reinholz

Secretaria alerta para o estoque baixo de sangue 

De acordo com a SES, o número de doadores de sangue no Rio Grande do Sul ainda não voltou ao patamar pré-pandemia. Em 2019, o RS registrou 79.866 doadores, entre novos e os de repetição – que são aquelas pessoas que doaram pelo menos duas vezes no período de 12 meses. Em 2020, esse número caiu para 70.930. A situação melhorou um pouco no ano passado, quando foram reportados 75.290 doadores, contudo, ainda abaixo de 2019.

“Os estoques de sangue estão baixos. Estamos em um processo de colocá-los em nível regular mas seguimos precisando que os doadores mantenham suas doações de forma sistemática. Necessitamos todos os dias de doadores tendo em vista que existem situações de emergência para o uso do sangue mas também situações de doenças crônicas que utilizam o sangue enquanto tratamento. Por essa razão necessitamos que as doações ocorram todos os dias”, ressalta a pasta. A secretaria destaca que há necessidade de todos os tipos sanguíneos, tendo em vista o atendimento em todo o estado, principalmente os tipos sanguíneos O+ e O-.

A SES frisa ainda que a doação de sangue e seu processamento são fundamentais para garantir a disponibilização de componentes sanguíneos para os pacientes que necessitam de transfusão, como vítimas de acidentes, que necessitam de cirurgias ou outras situações clínicas. “Se cada cidadão saudável doasse sangue pelo menos duas vezes por ano, não seriam necessárias campanhas emergenciais para coletas de reposição de estoques. É de suma importante a doação pois não há substituto para o sangue. Somente através do ato solidário e altruísta num movimento de empatia para com o próximo é que é possível obtê-lo e assim aqueles que necessitam obterem êxito em seus tratamentos de saúde”, complementa.

O que é preciso para doar?

- Estar em boas condições de saúde;

- Apresentar documento oficial de identidade com foto;

- Ter idade entre 16 e 69 anos, sendo que os candidatos a doadores com menos de 18 anos deverão estar acompanhados pelos pais ou por responsável legal;

- Pesar no mínimo 50 kg com desconto de vestimentas;

- O limite de idade para a primeira doação é de 60 anos;

- Não estar em jejum e evitar alimentação gordurosa;

- Ter dormido pelo menos 6 horas antes da doação;

- Não ter ingerido bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores à doação;

- Não fumar pelo menos duas horas antes da doação.

Quais são os impedimentos temporários?

- Gripe ou febre;

- Gestantes ou mães que amamentam bebes com menos de 12 meses;

- Até 90 dias após aborto ou parto normal e até 180 dias após cesariana;

- Tatuagem ou acupuntura nos últimos 12 meses;

- Exposição à situação de risco para a AIDS (múltiplos parceiros sexuais, ter parceiros usuários de drogas);

- Herpes labial.

Mais informações podem ser conferidas em saude.rs.gov.br/doacao-de-sangue, onde também é possível realizar o agendamento para a coleta. O Hemocentro do Estado está localizado Av. Bento Gonçalves, 3722, em Porto Alegre.


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Edição: Marcelo Ferreira