Rio Grande do Sul

Luta pela Terra

Povos indígenas do RS realizam mobilização no centro de Porto Alegre contra o Marco Temporal

O assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips e a política de Bolsonaro na Amazônia também foram alvos de protesto

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Ato indígena no centro da Capital trouxe a pauta do Marco Temporal e das terras indígenas, acompanhando mobilização nacional - Foto: Carolina Lima (BdF RS)

Representantes de povos indígenas do Rio Grande do Sul realizaram uma manifestação nas ruas do Centro Histórico de Porto Alegre. A mobilização acompanhou outras atividades que aconteceram em paralelo, na tarde desta quinta-feira (23), em outros pontos do estado e do país, contra a proposta do Marco Temporal. O Brasil de Fato explica que nesta quinta-feira (23) o STF voltaria a julgar a tese do marco temporal. No entanto, o adiamento da pauta - decidido pelo presidente do Supremo, Luiz Fux, no início do mês - fez deste 23 de junho um dia de mobilização dos povos originários de todo o Brasil.


Povos originários do RS protestaram no centro de Porto Alegre contra o Marco Temporal / Foto: Pedro Neves (BdF RS)

Em Porto Alegre, também foram vistas faixas e manifestações de repúdio ao assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, da mesma forma que manifestaram contrariedade ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Mesmo com chuva e tempo fechado, a mobilização começou em torno das 14h no Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público. Durante cerca de meia hora, os indígenas ali concentrados realizaram cânticos e palavras de ordem, ecoadas em linguagens tradicionais. Após, saíram em marcha na Rua dos Andradas, até a Praça da Alfândega, depois retornando até a Esquina Democrática.

A cacica Collung, da retomada Konglui, explicou estarem presentes na manifestação representantes de quatro etnias indígenas do RS: os Kaingang, Guarani, Xokleng e Charrua. Destacou também que a mobilização reforça que os povos indígenas aguardam a decisão sobre o Marco Temporal, pois irá influenciar na demarcação de suas terras tradicionais.

"O ato também é sobre a morte do Bruno e do Dom, que foram sequestrados lá no Amazonas, que perderam suas vidas pela causa indígena, assim como amigos e parentes que trocaram suas vidas por sangue e deixaram uma saudade para os povos indígenas. Estamos aqui firmes e com coragem para continuar a luta", protestou a cacica do povo Xokleng, que luta pela sua terra na Floresta Nacional em São Francisco de Paula (RS).


A cacica Collung (com o microfone na mão), da retomada Konglui, explicou estarem presentes na manifestação representantes de quatro etnias indígenas do RS: os Kaingang, Guarani, Xokleng e Charrua / Foto: Carolina Lima (BdF RS)

Sobre a manifestação em relação à morte do jornalista e do indigenista no Amazonas, Roberto Liebgott, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), conta que os indígenas estabelecem uma relação transcendental com aqueles que se unem à luta de seus povos.

"O Bruno cumpriu um papel essencial no indigenismo. Primeiro, no indigenismo oficial, na FUNAI, de onde foi exonerado exatamente por cumprir sua função institucional. Ele representa mais um daqueles que tombaram, em defesa da causa indígena. É uma relação que se faz com quem lutava lá no Amazonas, distante do RS. Os indígenas falam em uma conexão espiritual", citou Roberto.


Faixas lembraram o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips / Foto: Carolina Lima (BdF RS)

No mesmo sentido, o cacique Jeremias Eufrásio, da comunidade Kaingang Por Fi Ga (São Leopoldo/RS), afirma que a mobilização dos povos originários nesse dia se dá em conjunto em outras regiões do estado.

"Os caciques vieram todos com seus grupos, vamos trabalhar juntos. Queremos o nosso direito. É um dever nosso, a terra é dos nossos filhos e netos. Nós vamos morrer, mas eles vão continuar na mesma luta."

Outro fato importante é que a mobilização na capital gaúcha acompanha a mobilização em Brasília. O cacique Maurício Salvador, da retomada Kaingang na Floresta Nacional de Canela, informa que os povos originários do Sul demonstram apoio à representação que foi a Brasília participar de agendas na Capital Federal.

"Essa mobilização aqui é para dizer que, antes de qualquer decisão sobre as terras ancestrais e direitos indígenas, os povos originários precisam ser consultados. Pedimos também paz dentro dos territórios, o que vem acontecendo é muita violência contra os apoiadores e lideranças", protestou Maurício.


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Edição: Katia Marko