Rio Grande do Sul

Coluna

Um sorriso negro

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A quilombola Eli Barretos se apresentou com meninas do Grupo Corpos, Raízes e Suor, do Quilombo Recantos Dourado em Abadia de Goiás, no 28º Festival Internacional de Cinema Ambiental - Reprodução de vídeo
Nós negros e negras, somos lindos, nossa identidade vem de longe e é motivo de orgulho

Nesta semana, por problemas de conexão, o programa Arte, Ciência e Ética para um Brasil de Fato resultou prejudicado. Por isso, trago nesta coluna alguns comentários que Eli Barretos, mulher negra e quilombola, pretendia fazer naquele momento, mas que, pela queda de comunicação, acabou tendo que enviar em partes.

Tratava-se de uma conversa sobre a perspectiva que ela recolheu e transmite a respeito de questões fundamentais. Respostas a perguntas como: quem somos? que identidade carregamos? com que instrumentos e de que forma estamos lidando para a construção de nossa história em vida?

O que nos permite retornar ao tema da Identidade, na entrevista inconclusa do Brasil de Fato, com a quilombola Eli Barretos. Agrego informações de falas escutadas em convívio anterior, na Tenda Multiétnica, durante o 28º Festival Internacional de Cinema Ambiental.

Para Eli, a identidade depende (da) e se expressa na fidelidade aos dados que nos originam, que determinam o que somos. “É a coerência que dá alma às expressões com que vamos nos ajustando à roupagem de cada época.” Por isso, ela entende que o esforço dos adultos deve se concentrar na ligação entre a memória do passado e a emergência do futuro. Haveria nisso uma ideia de respeito a um eixo que alimenta a inclusão de jovens na tradição das crenças. Nas motivações que levam ao crescimento e ao empoderamento de cada um, em sua vida individual, como parte integrante das demandas históricas dos “seus”. Ela mencionou, no exemplo, trabalho de resgate da autoconfiança desenvolvido com meninas do Grupo Corpos, Raízes e Suor, do Quilombo Recantos Dourado em Abadia de Goiás.

 

Neste sentido, Eli sustenta que o futuro de todos depende das novas gerações, sendo que todos temos obrigações para com isso.  Para “que eles façam melhor do que eu e outros que trilharam antes de mim, pela consolidação do respeito à vida em igualdade de oportunidades e pelo fim das discriminações. Para que desapareça de nossa história esta condição em que meninos e meninas pretos e pretas são sempre os primeiros suspeitos, de tudo, bastando para isso a cor da pele”.

“Nós negros, somos lindos, nossa identidade vem de longe e é motivo de orgulho. Nossa consciência, disso, é o instrumento mais importante para construção de nossas histórias em vida”, afirma.

Enfim, conclui, em resposta à pergunta matriz do programa: “Qual a importância da arte, da ciência e da ética para a construção de um Brasil de Fato?, que “todas elas são fundamentais para o fortalecimento e a permanência viva de todas as culturas, da fala que une as almas de todas as gerações”.

A música que Eli Barretos recomendou é do Neguinho da Beija Flor. Um sorriso negro!

 

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko