Pernambuco

ELEIÇÕES 2022

Em Pernambuco, PCB e UP sinalizam aliança, mas chegada do PSOL é difícil

Apesar de desejarem “frente de esquerda”, PSOL e PCB não pretendem abrir mão da cabeça de chapa

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O PCB de Jones Manoel e o PSOL de João Arnaldo e Eugênia Lima tendem a sair em candidaturas separadas - Fotos: divulgação

Nos próximos dias, o partido Unidade Popular (UP) de Pernambuco deve anunciar seu apoio à candidatura de Jones Manoel (PCB) para o Governo do Estado. A prioridade da UP será as campanhas para deputado estadual e federal, além da Presidência da República. Já o Partido Comunista Brasileiro vê como estratégico o nome do historiador e assistente social Jones Manoel na disputa pelo Executivo estadual. Ainda existe a possibilidade de uma composição com a federação PSOL-Rede, mas este cenário é difícil.

No próximo dia 20 de julho, tem início o período legal em que os partidos e federações partidárias devem realizar suas convenções, onde devem confirmar suas candidaturas majoritárias e proporcionais, além de alianças. O período de convenções dura duas semanas, até o dia 5 de agosto. Ao fim do período, deve estar formalizada uma aliança entre a UP e o PCB em Pernambuco.

A Unidade Popular definiu, em plenária realizada no início de junho, que daria centralidade às campanhas proporcionais. No encontro, o partido definiu que não teria candidatura ao Governo do Estado, deixando aberta a possibilidade de composição com João Arnaldo (PSOL) ou Jones Manoel (PCB). “Não pleiteamos candidaturas majoritárias. Estamos em diálogo com o PSOL e PCB numa proposição de unidade da esquerda”, resumiu Marcus Vinícius, dirigente da UP, em contato com o Brasil de Fato. Ele garante que a organização ainda não definiu quem apoiará (no fim da matéria, leia nota enviada ao Brasil de Fato).

O partido tem como pré-candidata a deputada federal e enfermeira Ludmila Outtes, presidenta licenciada do Sindicato dos Enfermeiros de Pernambuco (SEEPE); além de pré-candidatos a deputados estaduais Natália Lúcia, militante do Movimento de Luta dos Bairros e Favelas (MLB); e o advogado popular Rafael Wanderley. Além das três candidaturas, a UP tem investido forte na campanha do seu presidenciável Leonardo Péricles.

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E, ao que parece, o diálogo avançou mesmo com a candidatura do PCB. “A tendência é uma aliança do PCB com a UP. Eles apoiarão nossa candidatura. O foco é no debate do programa político da chapa. Nos próximos dias, deve haver um anúncio público sobre o andamento dessas negociações”, confirmou Jones Manoel ao BdF. Ainda não está definido quem assumirá a candidatura ao Senado. O pré-candidato do PCB ainda nutre esperança de atrair outro aliado. “Firmando essa aliança, temos a expectativa de conseguir formalizar uma ‘frente de esquerda’ com o PSOL”, diz ele.

PSOL não deve abrir mão da cabeça – e nem de Lula

Apesar de as partes envolvidas – PCB e PSOL, além da própria UP – desejarem uma chapa conjunta das três forças, a decisão sobre a cabeça de chapa é um elemento complicador. O PCB considera importante testar o nome de Jones, de 32 anos, que nos últimos anos ganhou notoriedade nacional no ambiente online de esquerda. É um momento importante para o partido apresentar sua agenda através de um destacado porta-voz. Mas o partido não tem tempo de rádio e TV ou acesso a fundo partidário.

Já o PSOL tem uma estrutura “pronta” para a corrida, com tempo de rádio e TV, acesso a recursos públicos do fundo partidário e uma chapa mais competitiva de deputados. Até por isso o partido definiu, já no fim de 2021, que teria candidaturas majoritárias: João Arnaldo para governador e Eugênia Lima para senadora.

O PSOL também definiu que caminharia com a candidatura de Lula (PT) para presidente da República – enquanto PCB e UP tem seus próprios candidatos ao Planalto (Sofia Manzano e Leonardo Péricles, respectivamente). “O PSOL sabe que pode crescer com o voto vinculado a Lula e essa é a melhor correnteza para eles. Dificilmente abrem a cabeça de chapa para outro partido”, diz uma influente militante (que pediu para não ser identificada) da Rede, partido que está vinculado ao PSOL através de federação.

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A poucos dias do período de convenções, o presidente estadual do PSOL evita projetar uma possível composição. “O cenário local ainda está indefinido e depende muito das movimentações dos partidos que estão disputando o espectro da esquerda. Há muita coisa acontecendo ainda”, diz Tiago Paraíba em conversa com o BdF. “Lá atrás afirmamos a necessidade de construir a unidade da esquerda, mas entendendo a dinâmica de cada partido e suas circunstâncias. Estamos avaliando o melhor caminho”, desconversa.

No PCB, o tom de Jones Manoel é de que, saindo em candidaturas separadas, PCB e PSOL não conseguirão a incidência esperada no debate eleitoral. “Separados, a tendência é disputarmos os mesmos votos no campo da esquerda. É necessária uma unidade se quisermos ter chances de ir ao segundo turno”, diz o pré-candidato. Nessa composição, Manoel afirma que “de parte do PCB a prioridade é a unidade da esquerda, não a autoconstrução” e, por isso, estariam dispostos a discutir sobre quem ficaria com a cabeça de chapa.

Mas sua análise é de o seu nome deveria ser testado. “O PSOL é um partido que está na disputa majoritária há 20 anos, tem mais estrutura, visibilidade, dinheiro, mais pré-candidatos que servem como cabo eleitorais. E, mesmo assim, seguimos empatados com o PSOL tanto nas espontâneas como nas estimuladas”, avalia ele, mencionando ainda um “boicote” que a imprensa comercial estaria fazendo ao seu nome e imagem.

Já o presidente do PSOL destaca que as candidaturas majoritárias do partido foram definidas num congresso partidário. “Essas mudanças dependem de muita conversa”, diz ele. “Nossa posição não está fechada, mas são candidaturas que se consolidaram, que já estão trabalhando, rodando o estado. João e Eugênia cumprem uma tarefa importante nesse cenário para a nossa organização enquanto partido”, diz Paraíba, sinalizando que o partido não deve abrir mão dos nomes.


Túlio Gadêlha (Rede) foi a evento do PSOL no Recife. Os dois grupos estão vinculados por federação / Comunicação Túlio Gadêlha

Em Pernambuco o PSOL busca manter sua cadeira da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), conquistada em 2014 com Edilson Silva e renovada em 2018 com as Juntas. Já para a Câmara Federal, o nome mais forte da federação PSOL-Rede é Túlio Gadêlha. Em 2018 ele conquistou 75,6 mil votos, enquanto o PSOL fez 77,5 mil. A expectativa é que a federação supere os coeficientes eleitorais tanto para a Alepe (90 mil votos) quanto para a Câmara Federal (150 mil), podendo ainda conquistar mais uma cadeira na Alepe ou na Câmara.

A federação do PSOL com a Rede, formalizada nos últimos meses, é um outro elemento que merece destaque sobre o posicionamento eleitoral. Os partidos ficarão atrelados pelos próximos quatro anos. O PSOL tem maioria para tomar as decisões e “manda” no grupo – inclusive gerando queixas da Rede por “dificuldades” na relação com o PSOL. Apesar de ter dado um passo à esquerda nos últimos anos, a Rede Sustentabilidade não se apresenta como esquerda, muito menos socialista. Neste sentido, o PSOL “arrastar” a Rede um apoio ao PCB poderia desgastar a relação já neste início.

UP nega que tenha definido apoio a Jones Manoel

Em nota enviada ao BdF, a UP Pernambuco afirma que “diferente do que noticiou o Brasil de Fato no dia 6 de julho, o Partido Unidade Popular não está prestes a declarar apoio à candidatura majoritária do PCB no estado de Pernambuco”. A organização pontua ainda que “a decisão sobre integrar chapa majoritária é competência exclusiva da Convenção Partidária que acontecerá em 30 de julho”.

O texto diz ainda que por enquanto não há indicação de aliança seja com o PSOL, seja com o PCB. “Apesar de guardar boas relações com ambos os candidatos, as opções partidárias de ambos para presidente estão em contramão com o projeto nacional da UP para tirar o Brasil da crise”, reafirmando ainda que busca apoio para a “candidatura antirracista e antifascista de Leonardo Péricles para derrotar Bolsonaro”.

Edição: Elen Carvalho