Rio Grande do Sul

Cadê a comida?

"É culpa do Bolsonaro", afirmam manifestantes na marcha contra a fome em Porto Alegre

Protesto neste sábado (9) também chamou a atenção para o alto número de desempregados e a carestia dos alimentos

Brasil de Fato RS |
Manifestantes denunciaram a situação da fome, miséria e desemprego no país - Foto: Carolina Lima

Com panelas vazias, apitos e ao som de bateria, centenas de manifestantes marcharam em Porto Alegre, na tarde deste sábado (9), contra a fome, que segundo dados recentes da Rede PENSSAN atinge mais de 33 milhões de brasileiros. A mobilização, organizada por centrais sindicais e movimentos sociais, lembrou também a situação do desemprego, da miséria e da carestia. Após concentração no Largo Glênio Peres, p ato prosseguiu em caminhada pelas ruas do Centro Histórico até o Largo Zumbi dos Palmares, no final da tarde. 

“O arroz tá caro, o feijão tá caro, o povo organizado vai tirar o Bolsonaro.” “Tudo caro, a culpa é do Bolsonaro.” Estas foram algumas das palavras de ordem proferidas durante a marcha. Na concentração do ato, as centrais sindicais fizeram as suas manifestações, quando as lideranças focaram na situação atual pela qual passa o país. 

“Estamos aqui em nome de direitos, de dignidade e de comida no prato para todos os brasileiros. Mas para mudar esse país, cada um e cada uma deve se empenhar e organizar um comitê de luta contra a fome, a exclusão social, a miséria e o desemprego”, enfatizou o presidente da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS), Amarildo Cenci. 

Representante da Intersindical, Neiva Lazarotto destacou os números da fome no país e no mundo. Citando os dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, lembrou das mais de 33 milhões de pessoas no país que padecem com a insegurança alimentar. “125 milhões de brasileiros e brasileiras que vivem com insegurança alimentar, que não têm comida suficiente para viver dignamente”, expôs, ressaltando ser incompreensível essa realidade visto que o Brasil é o quarto país que mais produz alimentos, grãos e feijão e o terceiro maior produtor de milho.

 

Marcha contra a Fome, a Miséria e o Desemprego, na tarde deste sábado (9), em Porto Alegre. Tá tudo muito caro, culpa do Bolsonaro. #forabolsonaro #bolsocaro

Posted by CUT Rio Grande do Sul on Saturday, July 9, 2022

Além da pesquisa da Rede PENSSAN, na última quarta-feira (6) foi lançado o relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) sobre a fome no mundo. Segundo o documento, a quantidade de brasileiros que enfrentam algum tipo de insegurança alimentar é 61,3 milhões – quase três em cada 10 habitantes do Brasil, que tem uma população estimada em 213,3 milhões. Desse total, 15,4 milhões enfrentaram uma insegurança alimentar grave. O número de pessoas afetadas pela fome globalmente subiu para 828 milhões em 2021, um aumento de cerca de 46 milhões desde 2020 e de 150 milhões desde o início da pandemia. 

Também se manifestaram durante o ato dirigentes da CTB, Força Sindical, Fórum Sindical e CSP-Conlutas. Nas falas foram destacados temas como a inflação, os números do desemprego e o alto valor da cesta básica. Também relembraram os episódios de pessoas que, sem comida, recorrem a restos de ossos e carne. 


A marcha contou com a participação de centenas de moradores da periferia de Porto Alegre, como dos bairros Farrapos, Cruzeiro, Restinga, Morro da Cruz e Lomba do Pinheiro. / Foto: Fabiana Reinholz

"Queremos comida na mesa"

Moradora do Morro da Cruz e responsável pela Associação Comunitária, Jaci dos Santos, 79 anos, disse ter se somado ao movimento para reivindicar melhorias para a população, especialmente da periferia. “A pobreza está muito grande, de fato a gente não está mais aguentando ir atrás de comida”, afirmou. 

A recicladora Brenda Rodrigues da Rosa, 28 anos, moradora do bairro Quintana, foi ao ato levando seus dois filhos, família e amigos. Ela lembrou que durante a pandemia os profissionais da reciclagem passaram por dificuldades por conta de muitas vezes não terem como trabalhar. “Queremos comida na mesa, não aguentamos mais a fome”, enfatizou. 

“Estamos aqui hoje reivindicando alimentos para as nossas comunidades. Estamos passando fome. Hoje também passamos miséria. Estamos aqui reivindicando alimento digno para as nossas comunidades porque do jeito que está não dá para continuar”, desabafou Liana Braga, da comunidade Timbaúva. 

Negros, mulheres e crianças passam mais fome

Grávida de oito meses, a nutricionista Bruna de Oliveira, 31 anos, destacou que a fome atinge principalmente a população negra. “O povo preto é o que mais sofre e morre pela bala e pela falta de arroz e feijão no prato. Enquanto nutricionista é um crime, uma atrocidade a violação do direito humano à alimentação adequada, é dever do estado prover alimento para a população. Esse governo é criminoso, genocida e nutricida, ele mata pela boca”, afirmou. 

De acordo com o inquérito da  PENSSAN, enquanto a segurança alimentar está presente em 53,2% dos domicílios onde a pessoa de referência se autodeclara branca, nos lares com responsáveis de raça/cor preta ou parda ela cai para 35%. Tanto a pesquisa da entidade quanto a da FAO ressaltam que a fome atinge sobretudo mulheres e crianças. 

“Aproximadamente 32% das mulheres no mundo enfrentaram insegurança alimentar moderada ou severa em relação a 27,6% dos homens (...) Estima-se que 45 milhões de crianças menores de cinco anos sofriam de baixo peso para a estatura (wasting), a forma mais mortal de má nutrição, o que aumenta o risco de morte das crianças em até 12 vezes”, aponta o relatório da ONU. 

No Brasil, de acordo com a PENSSAN, nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%. “Em pouco mais de um ano, a fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos – de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022”. 

“A fome voltou a ser um grande problema no nosso país. Já tive oportunidade de trabalhar junto com o Médicos Sem Fronteiras, na Nigéria, onde trabalhei em um hospital de desnutrição infantil, as cenas que a gente via naquele país, com as crianças com graves casos de desnutrição, infelizmente é o que estamos voltando a ver aqui no nosso país”, expôs o médico pediatra Alexandre Bublitz. Defensor do SUS, também destacou a situação da terceirização que vem acontecendo no sistema de saúde da capital. 

“Isso acaba criando uma destruição de várias políticas públicas que não vamos ter, dificultando o acesso da população a essas políticas que garantem sim melhor condição de vida. Essa piora no nosso sistema de saúde, na economia, a falta de acesso às políticas públicas, vem atrapalhando de uma forma gigantesca todo o processo de fome e causando muitas doenças para nossas crianças”, frisou. 

Pedro Rubem Nascimento, conhecido como Pedrão, culinarista da Vila Mappa, que junto com sua família toca um projeto há mais de três anos chamado Cozinha Solidária do Pedrão, que serve 200 quentinhas a 82 famílias cadastradas, disse que é importante que o povo continue com a mobilização. “Esse país precisa acordar, sair dessa inércia, desse ostracismo que foi criado por esse governo fascista”, disse.

A marcha também contou com a presença de parlamentares gaúchos. Assim como ações de intolerância que têm sido vistas em outros atos pelo país, ovos foram arremessados contra os manifestantes de um prédio na Avenida Borges de Medeiros, um deles atingindo a fotógrafa do Sul21 Luiza Castro.


No país, mas de 33 milhões de pessoas vivem com fome / Foto: Fabiana Reinholz

 

Continuidade da Marcha contra a Fome, a Miséria e o Desemprego, na tarde deste sábado (9), no centro de Porto Alegre. #forabolsonaro #bolsocaro

Posted by CUT Rio Grande do Sul on Saturday, July 9, 2022

*Com informações da CUT RS


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Edição: Marcelo Ferreira