Pernambuco

PRIVATIZAÇÃO

"A Petrobrás é a solução, um patrimônio do povo brasileiro", afirma petroleiro

O diretor financeiro do Sindipetro PE/PB, Diego Liberalino fala sobre os impactos da privatização no Nordeste

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Os petroleiros tem atuado em defesa da soberania nacional na Petrobrás e pelos seus direitos enquanto trabalhadores - Comunicação FUP

Após uma assembleia com 12 sindicatos filiados à Federação Única dos Petroleiros (FUP), a categoria aprovou uma greve por tempo indeterminado em protestos à proposta de privatização da Petrobrás. Os petroleiros pleiteiam não só os seus direitos como trabalhadores, mas também a defesa da empresa estatal que vem sofrendo com desmontes e sucessivos aumentos por causa da política de preço adotada pelo Governo Federal.

No Nordeste, a Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, já sofreu privatização; e a Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor) pode seguir pelo mesmo caminho. Para falar sobre o preço dos combustíveis e dos impactos da privatização no Nordeste, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou o diretor financeiro do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e da Paraíba (Sindipetro PE/PB), Diego Liberalino. Confira:

Brasil de Fato Pernambuco: Diego, a principal pauta da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindipetro, é contra a privatização da Petrobrás. Qual a importância dessa pauta para a categoria e para a população como um todo?  

Diego Liberalino: Esse processo de privatização que a gente está vivenciando neste momento, a FUP e os seus sindicatos já vem alertando desde 2014, 2015 e 2016 das consequências que esse processo de privatização levaria ao povo brasileiro. Dependência do mercado internacional em combustíveis, sobretudo a questão do óleo diesel e de fertilizantes e agora com essa geopolítica e esses conflitos internacionais isso fica mais claro ainda. Então, a luta contra a privatização se dá nesse contexto não só a defesa dos interesses dos trabalhadores da Petrobrás, mas na defesa dos interesses do povo brasileiro”. 
 
BdF PE: No fim do ano passado, a Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, e a Lubnor, no estado do Ceará, está em processo de privatização. Quais são os impactos dessas privatizações na região e na vida das pessoas?  

Diego: Hoje, o óleo diesel e a gasolina na Bahia são os mais caros do Brasil, tem uma defasagem em relação ao preço praticado pela Petrobrás que já está elevado. Se o povo brasileiro já está sentindo na pele os preços praticados pela Petrobrás; na Bahia que foi a primeira refinaria privatizada, esse valor está ainda maior do que o praticado pela Petrobrás. Então, esse é um dos principais riscos desse processo de privatização, além do aumento do desemprego, redução salarial para o entorno da comunidade.

No Ceará, a Refinaria Lubnor que recentemente foi assinado o contrato de venda, mas ainda tem muita coisa que vai rolar, a categoria está mobilizada lutando contra esse processo de privatização, mas lá tem uma coisa fundamental para o Nordeste porque em torno de 10% a 15% da produção nacional de asfalto está concentrada na Lubnor. Então, tem um impacto muito grande para as prefeituras, inclusive. 

BdF PE: Algo que tem impactado diretamente a vida das pessoas e está na “boca do povo” é alto preço da gasolina. E quando criticado, o Governo Federal costuma levar a narrativa como se fosse culpa da Petrobrás. Essa narrativa é real? 

Diego: Essa definição da política de preços não é uma lei no Congresso que define, quem define é a alta administração da companhia, é o conselho de administração, e é preciso ficar claro para a sociedade quem é quem indica os membros do conselho. A maioria dos membros é indicada pelo Governo Federal, pelo presidente da República. Quem indica o presidente da companhia? É o Governo Federal, é o presidente da República.

Então, ao se eximir da responsabilidade atribuindo à Petrobrás como se a Petrobrás fosse algo assim do nada. É uma empresa controlada pelo governo, então, com o eclodir dos preços, e isso tem sido um problema muito grande nesse processo eleitoral, ele tem tentado de tudo. Já falou que era o STF (Supremo Tribunal Federal), falou que era o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos) e agora falando da Petrobrás como se fosse algo fora do controle do governo.

BdF PE: A gente tem uma cultura no Brasil que é de, por exemplo, no caso da Petrobrás, ela é dos governos e não da população brasileira. É como se o que fosse estatal não fosse nosso. Vocês enquanto categoria no diálogo com a sociedade enxergam isso como um grande desafio? 

Diego: A Petrobrás é uma empresa que foi massacrada nos últimos anos tentando acabar com a sua imagem, tentando passar uma imagem para a população que era um problema. É isso, inclusive, que o presidente tem colocado que é um problema para ele. A gente tem discutido com a sociedade que na verdade a Petrobrás é a solução, um patrimônio do povo brasileiro. Foi construído à base do suor e do dinheiro do povo brasileiro. Além de possibilitar a oferta de combustíveis mais justa, a Petrobrás é uma ferramenta indutora do desenvolvimento nacional. Em um passado recente, o Setor de Óleo e Gás da Petrobrás já chegou a ser responsável por 13% do PIB. Então, a gente tem discutido isso com a sociedade para se apropriar disso, que é uma empresa nossa e tem que estar a serviço do povo brasileiro.

BdF PE: Recentemente vocês realizaram um protesto contra a posse de Caio Paes de Andrade no cargo de presidente da Petrobrás. O que motivou esse protesto e como vocês têm avaliado essas mudanças frequentes no cargo e todas essas questões ligadas a ele?

Diego: Não dá para tratar uma empresa do porte da Petrobrás substituindo a sua alta administração a todo momento por um problema político, porque a substituição dos últimos três presidentes foi em virtude dessa pressão no presidente da República pelos preços elevados. Não se resolve o problema substituindo o presidente. E nesse caso específico do novo presidente é que ele não atende aos pré-requisitos nem da lei das estatais e nem do Estatuto Social da Petrobrás, que tem que ter um período de experiência em cargos correlatos e ele não atende.

BdF PE: Diego, vocês defendem que a Petrobras retome o papel estratégico de uma empresa de energia. O que isso implica na prática e na vida da população?

Diego: Isso, a gente tem defendido que a empresa se comporte de maneira integrada, que a gente chamava “do poço ao poço” e agora é do “poço ao poste”. Inclusive também atuando no setor de energia elétrica. Isso, além de expandir os seus investimentos ao longo do território nacional, levando ao desenvolvimento regional também. Porque nem todo território nacional de exploração de petróleo tem refinaria por perto, então esses outros setores possibilitam a presença da empresa nas regiões mais remotas do país. Como, por exemplo, o setor de biocombustível, setor importantíssimo nesse processo de transição energética.

BdF PE: Diego, quais são as perspectivas de luta para os petroleiros nos próximos meses, principalmente em um ano de eleições?

Diego: A gente está em um momento, inclusive, de discussão do acordo de trabalho. A empresa no ano passado obteve um lucro estratosférico às custas do povo brasileiro de mais de R$ 100 bilhões e vem com uma proposta de reajuste com a metade da inflação. A gente tem entendido como uma proposta de desrespeito à essa categoria de trabalhadores que ajudaram a riqueza que a companhia hoje tem. então a gente está nessa discussão, estamos no meio de assembleias que a categoria está participando em massa. também aprovando greve, caso o Congresso paute a privatização da Petrobrás.

Então a gente entende que esses próximos meses, que é o final de governo, o que a gente está vendo é um liquida geral. O governo está no final e de mandato e é aquela liquidação de final de feira. Então, ele vai tentar privatizar a Petrobrás e, se não conseguir, vai tentar esquartejar ao máximo.
 

Edição: Vanessa Gonzaga